Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: "Da B pra C, a bronca do chaveamento de grupos da Terceirona"

Colunista traça perfil de possíveis rebaixados à Série C para próximo ano e analisa os critérios de divisão dos times por regiões na competição

postado em 08/11/2018 10:30 / atualizado em 08/11/2018 11:53

Lucas Figueiredo/CBF
O cenário do rebaixamento da Série B está muito perto da definição - com a queda oficial do Boa Esporte e as situações quase irreversíveis do Sampaio Corrêa e Juventude. A quarta vaga hoje é ocupada pelo Paysandu, quatro pontos abaixo do 16º colocado (CRB) e cinco atrás do 15º (Criciúma). Distância considerável para ser revertida em apenas três rodadas. Mas como CRB e Criciúma se enfrentam neste fim de semana, resta um fio de esperança para o time paraense. Seja como for, são três clubes de tradição e capacidade de mobilização de torcida sendo rebaixados para a terceira divisão que, na próxima temporada, apresentará o maior desequilíbrio regional da sua história. Esse desequilíbrio cria um imbróglio sem saída ideal. Por enquanto, a CBF silencia e só deve se posicionar quando os participantes da Série C de 2019 estiverem oficialmente definidos. 

Desequilíbrio geográfico

No quadro atual, a terceira divisão terá 10 clubes do Nordeste, três do Norte, três do Sul, três do Sudeste e um do Centro-Oeste. Não existe uma regra estabelecida pela CBF para definir a divisão dos grupos, mas desde que este formato de disputa foi implantado em 2012, a composição das chaves segue critérios geográficos. De um lado, os clubes do Sul e Sudeste. Do outro, os do Nordeste e Norte. Já as equipes do centro-oeste são direcionadas de acordo com a quantidade de clubes em cada lado. Em 2019, pela primeira vez, essa lógica será quebrada. Obrigatoriamente três clubes da parte de cima do país terão que ser deslocados para a chave de baixo. Como não há regra oficial, nem uma base comparativa, todas as possibilidades levantadas são apenas conjecturas de jornalistas, dirigentes e torcedores. Uma delas, inclusive, aponta para uma mudança geral na forma de disputa da competição - derrubando a divisão geográfica e adotando o sistema de pontos corridos, assim com as séries A e B. Uma bandeira defendida por parte dos clubes - incluindo Náutico e Santa Cruz - mas que dificilmente terá o respaldo estrutural da CBF na próxima temporada. 

A “melhor” alternativa

Das possíveis saídas para o imbróglio, a menos danosa seria levar os clubes do Norte para o grupo B - que assim ficaria com: Juventude (RS), São José (RS), Ypiranga (RS), Boa Esporte (MG), Tombense (MG), Volta Redonda (RJ), Luverdense (MT), Paysandu (PA), Remo (PA) e Atlético (AC). Olhando para o mapa do país, é surreal considerar que a melhor alternativa geográfica é colocar clubes do Acre, Pará e Rio Grande do Sul na mesma chave. São seis equipes (três de cada região) obrigadas a percorrer distâncias continentais com relativa frequência. Repito o que escrevi acima: Estamos diante de um cenário sem solução ideal. Para esta composição sugerida, pesam as rotas aéreas do país. Os voos de Belém e Rio Branco passam necessariamente por Brasília ou São Paulo em conexão para outras cidades. Seja Porto Alegre ou Recife. Ou seja, o deslocamento para os times do Norte já é complicado mesmo dentro do grupo do Nordeste. Assim, a diferença acaba sendo “apenas” a maior duração dos voos. Compensa. 

A contrapartida

A principal contrapartida para justificar as viagens continentais dos seis clubes do Sul e do Norte é não expandir o nó geográfico para o outro grupo - que seria inteiramente disputado no Nordeste. De Sergipe ao Maranhão. Este desenho permite, por exemplo, que um clube do Recife faça cinco dos nove jogos fora de casa com deslocamentos de ônibus. Além do clássico local, obviamente, Santa Cruz e Náutico não precisam de viagens aéreas para jogar contra Botafogo/PB, Treze/PB, ABC/RN e Globo/RN. As distâncias mais longas ficam para as partidas contra o Confiança/SE, Ferroviário/CE, Imperatriz/MA e Sampaio Corrêa/MA. Naturalmente, esta divisão é a preferida pelos presidentes dos dois clubes do Recife. Nos bastidores, inclusive, eles sequer consideram a hipótese de serem “exportados” para a chave B - mesmo sendo formada por times de menor tradição. Na teoria - e apenas na teoria mesmo - seria um caminho mais fácil até às quartas de final. Mas os resultados deste ano deixam claro a enorme diferença entre teoria e prática. Todos os clubes do grupo A caíram nos cruzamentos. Daí a origem deste imbróglio inclusive.  

Recife deslocado?

O risco de Santa e Náutico serem deslocados para a chave B, ao lado do Confiança/SE, está basicamente na proximidade geográfica e na maior quantidade (e menor duração) dos voos do Recife para o Sudeste e Sul do país. Ainda que, no caso dos clubes do Rio Grande do Sul, também seria necessária a escala em São Paulo. É, sem dúvida, menos desgastante para os jogadores uma viagem Recife-Porto Alegre do que Belém-Porto Alegre - até pela maior possibilidade de encaixes de horários. Porém, nesta alternativa, não há contrapartida. O grupo A também seria sacrificado com a presença dos nortistas. Mais times seriam diretamente afetados. E o gasto com toda esta operação seria muito maior no final das contas. Para uma competição que, neste momento, sequer tem garantia de transmissão na TV por assinatura, a contenção de despesas é sempre um fator relevante. Diria decisivo.