Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'A nova história escrita pelo Athletico Paranaense'

Colunista do Superesportes traça mudanças que fizeram o clube mudar de patamar no cenário do futebol nacional. Hoje, defesa do velho G12 cai por terra

postado em 13/12/2018 12:45 / atualizado em 13/12/2018 13:57

CONMEBOL
A madrugada de hoje escreveu um novo capítulo na história do futebol brasileiro. O primeiro título internacional do Athletico Paranaense - que conquistou a Sul-americana de forma dramática na final contra o Junior Barranquilla - encerra de uma vez por todas a divisão de castas estabelecida pela mídia nacional desde os anos 1960. Foram décadas restringindo a cobertura do futebol no país a apenas doze clubes, de quatro estados. Gerações inteiras foram quase que “catequizadas” a aceitar que existem 12 clubes protagonistas e os demais estão condenados a serem eternamente coadjuvantes orbitando em torno deste bloco estritamente geográfico, construído em torno de interesses de um mercado conceitualmente mal dimensionado. Um ciclo impenetrável se formou nas décadas passadas. Até que - indiretamente - uma brecha se abriu. Não no futebol, mas na comunicação. As novas tecnologias derrubaram as fronteiras geográficas, diminuíram o controle dos veículos de comunicação dominante e ampliaram a visão do mercado para além do eixo. A TV por assinatura, o sistema de pay per view, a internet e as redes sociais criaram um cenário em que a revolução do futebol brasileiro se tornou possível. 

Tabus derrubados

Não foi do dia para noite. Não foi só o título da Sul-americana. E nem mesmo o exemplar processo de estruturação e crescimento do Athletico. Há uma soma de fatores que foi se solidificando e atingiu seu auge nesta madrugada quando Thiago Heleno cobrou o último pênalti na Arena da Baixada. Particularmente, já não via mais elementos que dessem sustentação ao velho G12. Mesmo que o Athletico tivesse perdido a decisão da Sul-americana, na minha visão, as castas já haviam caído. Porém é indiscutível o peso simbólico de um título internacional. Ele obriga que mais pessoas façam esta reflexão. Ele desafia o sistema estabelecido. Rompe a fronteira do eixo. É aí que a nova realidade se estabelece, derrubando tabus imaginários. Talvez o mais repetido deles seja o argumento de que Botafogo e Fluminense, por exemplo, são clubes de torcida nacional. Durante anos eu me deparei com esta definição. Hoje nada, absolutamente nada, sustenta esta tese. Todas as pesquisas nacionais de torcida mostram que os dois clubes têm basicamente a mesma quantidade de torcedores de Sport e Bahia. No mais recente levantamento do Ibope, o clube pernambucano é o 11º e o baiano, o 13º - enquanto Flu e Botafogo são, respectivamente, 12º e 14º colocados. São clubes que têm entre 2 e 2,5 milhões de torcedores. Metade do Vasco. Quase 15 vezes menos que o Flamengo. Aí sim existe um abismo. 

Torcedores e consumidores

E esses números absolutos de torcedores espalhados pelo país se reflete em outros recortes fundamentais para o mercado, como sócios, assinantes do pay per view, audiência dos jogos transmitidos, vendas de camisas e alcance nas redes sociais. Em qualquer uma dessas listas não há diferença significativa entre os quatro clubes citados - que quase sempre se alternam entre a 11ª e 14ª posições. O Athletico, símbolo maior deste rompimento, está logo abaixo deste grupo em termos de popularidade. Mas a distância não representa um abismo. Longe disso. O que os torna todos clubes do mesmo porte. Isso, repito, no aspecto de quantidade de torcedores e consumidores da marca. É só um parâmetro que mostra o equilíbrio. 

O efeito prático

Quanto partimos para títulos nacionais e internacionais, novamente não se estabelece uma linha de sustentação do velho G12. O Fluminense, por exemplo, não tem nenhuma conquista internacional. O Botafogo tem uma única Conmebol nos anos 1990. Ou seja, o peso da Sul-americana do Athletico já o coloca na frente dos dois. Quando consideramos os títulos nacionais, o Fluminense (tricampeão brasileiro) se desgarra do bloco, mas o Botafogo fica no mesmo patamar de Bahia, Sport, Atlético/PR e Coritiba. Enquanto isso, o Cruzeiro tem 17 conquistas nacionais e internacionais. Isso mesmo. São 17 contra 3 do Botafogo. Será que faz algum sentido dizer que existem 12 grandes e nivelar Cruzeiro e Botafogo? Para a TV Globo, durante as últimas duas décadas vez. Os dois clubes recebiam exatamente a mesma cota de TV - sem que absolutamente nada justificasse essa equiparação. A partir do ano que vem, a distribuição passará a atender critérios mais concretos e a projeção da cota de pay per view do time mineiro já será duas vezes maior. Se o Sport não tivesse sido rebaixado, inclusive, receberia mais que Botafogo e Fluminense. Isso mostra o quanto o tal conceito de G12 interferiu na história. Nunca foi apenas algo simbólico. Longe, bem longe disso. 

A história se transforma

E se você está pensando que estou desprezando o passado, pode ter certeza que não. Afinal é justamente ele que mantém o Botafogo, por exemplo, em uma condição de igualdade com o Athletico. Se considerarmos apenas o presente, existe um abismo entre os dois clubes. O parananese vai para sua 5ª Libertadores neste século. O Botafogo disputou as mesmas cinco em toda sua história, incluindo duas nos anos 1960. E o Athletico tem, inclusive, uma final no currículo. A história não está presa ao passado. Ela é contínua e segue sendo escrita todos os dias. E se transforma. Como nesta madrugada.