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Técnico completa 4 anos no Íbis, se diz inspirado por Guardiola e ganha vídeo de Renato Gaúcho

Ricardo 'Guardiola' chega a marca impressionante, revive carreira, fala de inspirações e revela meta de colocar time na Série A1 em 2020

postado em 27/09/2019 08:45 / atualizado em 27/09/2019 08:24

<i>(Foto: Bruna Costa/DP)</i>
Houve um tempo em que treinar o Íbis era uma tarefa difícil. Afinal, qual treinador aguentaria tamanha pressão por treinar o “pior time do mundo”? Fora da elite do Campeonato Pernambucano por 19 temporadas seguidas - o seu maior jejum, o Pássaro Preto viu inúmeras trocas no comando técnico. Mas tem um cara que está querendo - e conseguindo - quebrar esta escrita. O nome dele é Ricardo “Guardiola”. Efetivado como treinador no dia 27 de setembro de 2015, o técnico do Íbis completa nesta sexta-feira quatro anos à frente do clube. 

Ricardo Guardiola recebeu o Superesportes antes do treinamento da equipe no estádio Grito da República, no bairro de Rio Doce, em Olinda, onde nas terças e sextas a equipe treina. Reviveu o passado no Íbis, falou do presente, planejou o futuro e revelou inspirações em times e técnicos. 

Disse que quer colocar o Íbis na Série A1 do Campeonato Pernambucano do ano que vem - nem que seja para reviver o passado de goleadas para Sport, Santa Cruz e Náutico, falou da “fama” em treinar o “Pior time do mundo” e ser cobrado por vencer em certas situações. Explicou o apelido ganho após uma sequência de jogos sem perder em 2017, da inspiração em Pep Guardiola e ainda se emocionou ao receber um recado de Renato Gaúcho, técnico do Grêmio e que está a mais tempo à frente de um time na Série A do Brasileirão.

Do sub-13 ao profissional

A história de Ricardo no Íbis é como uma escalada ao monte Everest. Passou por todas as categorias de base até chegar ao profissional como preparador físico antes de assumir em definitivo em 2015. 

“Eu cheguei em 2012, na categoria de base, em um projeto para tirar crianças da rua da Escola Maria do Carmo, que é uma escola em que eu ainda sou professor de educação física. A escola precisava de um clube e o Íbis abriu as portas. Passei por todas as categorias do sub-13, sub-15, sub-17 e em 2014 o treinador Ney Elói me convidou para ser preparador físico no time profissional. Fiquei em 2014 e 2015 como preparador físico e na reta final da competição ele foi demitido e eu assumi e estou até agora”, conta.

E como tentar explicar todo esse tempo no comando do Íbis? Para Ricardo, é um conjunto de fatores. Desde ao fato de que ninguém quer assumir o time, à confiança da diretoria no seu trabalho e filosofia dentro do clube.

“Não sei porque é que ninguém quer pegar o Íbis ou se realmente a diretoria está confiando no trabalho e que realmente a gente pode chegar longe. Eles confiaram na minha capacidade e de como estou conduzindo a equipe, de estar trabalhando com muitos atletas jovens, que foi uma filosofia que eu trouxe aqui para o clube, de trabalhar com jovens, promessas, de atletas promissores, que querem algo na carreira. E isso parece que está dando certo. Com a minha forma de jogar e com meu pensamento e estou até agora”.
 
<i>(Foto: Bruna Costa/DP)</i>
 

Cadê o Íbis raiz?

Mas espera aí? Estamos falando do Íbis, o pior time do mundo! Como assim a torcida não pega no pé por não perder? Cadê o “Íbis raiz”?

“Eu acho que ficou para trás isso. Antigamente realmente pegavam no pé. Em 2017, quando tivemos essa sequência de três ou quatro vitórias, teve uma situação de me encontraram na rua e me falarem: ‘Rapaz, não faça isso não! Está perdendo o Íbis raiz. Está virando o Íbis Nutella’. Aí eu disse: ‘Comigo é o Íbis Nutella! Vai ser sempre esse. É o pensamento de atletas profissionais e que querem chegar’. Mas realmente foi difícil conquistar a torcida. E acho que estou conseguindo aos pouquinhos”.

“Eu sempre digo até aos próprios torcedores que me abordam: ‘Não é melhor estar levando goleada do Sport, Santa e Náutico em uma Primeira Divisão, do que estar jogando aqui em uma segunda divisão?’ Esse vai ser o verdadeiro Íbis raiz, que jogava contra Sport, Santa e Náutico, não desmerecendo as outras equipes da Série A2. Mas o Íbis raiz era esse. E acho que estou conseguindo convencê-los de que temos que estar na Primeira Divisão. E os torcedores estão indo ao estádio, torcendo realmente para que o Íbis chegue na primeira divisão”.

Apelido e inspiração

Antes mesmo de virar Ricardo Guardiola, outro treinador muito conhecido tinha entrado na lista de apelidos. Amigos e moradores do bairro chamam Ricardo de “Luxemburgo”.  “Não sei porque. Talvez por essas coisas de ‘pôfessor’”, conta, aos risos.  

Mas Luxemburgo foi pouco para Ricardo. Após engatar uma sequência sem derrotas em 2017 na Série A2 - que teve repercussão nacional, ganhou do social media do clube, Nilsinho, o apelido de Guardiola. 

“Isso foi uma coisa que o Nilsinho colocou essa brincadeira nas redes sociais. E pegou. Até mesmo quando eu chego nos estádios a torcida me chama de Ricardo Guardiola. Até pelo estilo da equipe, que gosta de ter posse de bola, de pressionar quando não está com ela. É um time que gosta de jogar”, conta.

A comparação poderia ser vaga. Mas não é. Ricardo se inspira sim no técnico do Manchester City, mas revela que outros técnicos do passado influenciam sua forma de treinar. Tem até técnico da Seleção Brasileira nessa história toda.

“Eu me inspiro sim. Eu gosto muito dele. Da ideia dele. Não só dele, como também do Pochettino (Tottenham), do Klopp (Liverpool). Gosto muito do futebol italiano. Sempre acompanhei e gosto desta escola. E sem deixar de lado a escola brasileira, com Telê Santana. A seleção de 1982 me inspira muito também. Foi a primeira Copa que tenho uma boa lembrança. E eu gosto do Guardiola por causa disso. Ele gosta do futebol brasileiro e do estilo do atleta brasileiro. Então isso me dá muita semelhança com o trabalho dele”.    

Longevidade e recado de Renato Gaúcho

<i>(Foto: Bruna Costa/DP)</i>
Quando o assunto é longevidade de um técnico no Brasil, qual nome vem à sua mente? Mano Menezes? Renato Gaúcho? Tite? Se sua resposta foi alguma dessas opções, parabéns! Você chegou muito perto. Entretanto, todos perdem para Ricardo no Íbis. Nenhum deles está a mais tempo em um clube do que o treinador do Pássaro Preto.

São 1461 dias no Íbis. Vale o registro também do técnico do Operário-PR, Gerson Gusmão, no comando do time desde o dia 23 de março de 2016. Na sequência vem Renato Gaúcho, técnico do Grêmio desde 18 de setembro de 2016 e a mais tempo treinando um time da Série A. 

E foi justamente o técnico gremista que emocionou Ricardo Guardiola. Renato mandou um vídeo parabenizando o treinador do Íbis. 

“Tudo bem, Ricardo! É Ricardo Guardiola? É isso mesmo que me falaram? Mas vamos lá... Ou você é muito ruim, para combinar com teu time que não ganha de ninguém e as pessoas reconhecem isso. Ou as pessoas olham para o lado e falam ‘Esse cara é muito bom, o time é muito ruim e esse cara não pode ser mandado embora’. Mas deixando as brincadeiras de lado, quatro anos no Íbis, parabéns! (palmas). Realmente trabalhar quatro anos em um time desse aí é como eu disse: ‘Ou você é muito ruim e os caras tem pena de te mandar embora ou você é bom demais’. E de repente você chega em um grande time amanhã ou depois. Parabéns!”, concluiu o treinador gremista. 

“Show de bola. Não tenho nem palavras. Ouvi isso de um cara desses, que é um monstro. Foi um monstro como jogador e é hoje como treinador. Com certeza me emocionei”. 

E como disse Renato, quem sabe Ricardo não chegue a um grande time ou, quem sabe, não posso chegar mais longe com o próprio Íbis. “É um sonho. O primeiro passo é subir e depois, quem sabe, conseguir uma vaguinha na Série D do Campeonato Brasileiro”, finalizou. 
 
 

Os números de Ricardo Guardiola no Íbis

2015
1 jogo
1 derrota

2016
10 jogos
0 vitória
3 empates
7 derrotas

2017
10 jogos
5 vitórias
3 empates
2 derrotas

2018
8 jogos
3 vitórias
4 empates
1 derrota 

2019
7 jogos
1 vitória
3 empates
3 derrotas

Total 
36 Jogos
9 vitórias
13 empates
14 derrotas