Futebol Nacional

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Treinador, negro e campeão: Nilson Corrêa, do Decisão, fala sobre racismo no futebol e na vida

No Dia da Consciência Negra, técnico campeão da Série A2 pernambucana, revela não esperar mudanças a curto prazo sobre cenário da intolerância

postado em 20/11/2019 13:33 / atualizado em 20/11/2019 13:46

(Foto: Xande Produções/Divulgação)
O dia 20 de novembro marca o Dia da Consciência Negra, data que marca a importância do combate ao racismo e à intolerância, enquanto reafirma as raízes negras, formadoras da cultura nacional. No futebol, os registros de atos de racismo e injúria racial ainda são muito presentes e, meio a isso, o mercado de treinadores também não é muito aberto aos negros, com apenas dois comandantes na Série A e poucos que, além desses, conseguiram projeção. Campeão da Série A2 do Pernambucano pelo Decisão Bonito, o treinador Nilson Corrêa disse acreditar que mudança tem que vir da política e da educação.

“Essa questão do racismo, para mim, é uma estupidez da parte das pessoas que tomam esse tipo de posição, mas, infelizmente, é inegável que vivemos em um país e em um mundo racista. Agora, eu não posso estar pagando de ficar chorando pelos cantos e reclamando do racismo, porque quem pode mudar isso são os nossos governantes."

Apenas em um final de semana, três casos de injúria racial ganharam grande repercussão. Um foi contra os jogadores Taison e Dentinho, do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, outro foi contra um guarda da Arena Mineirão durante o clássico entre Atlético e Cruzeiro, e, ainda, houve outro contra o atleta Rafael Martins, do Sub-20 do Sport. Atento aos casos, Nilson fez duras críticas à impunidade.

“Ela não é cumprida, então para que existe lei? Só cumprem quando querem, quando convém, se a imprensa mostrar, bater muito em cima e acharem que é interessante tomar posição quanto àquele caso para que tenha a repercussão de que a justiça tomando uma posição contra o racismo. Isso, para mim, é uma hipocrisia sem tamanho. ‘Ah, o racismo é crime’, crime que prende-se quando quer, porque racismo tem toda hora, a gente vê na televisão, não vê acontecer nada com a pessoa que teve ato de racismo."

Nesse cenário, Nilson acredita que uma mudança passa diretamente pela legislação, mas, principalmente por um de reeducação para reverter uma cultura racista, desacreditando em melhoras a curto ou médio prazo, ainda que as deseje.

“Tem que ir lá atrás, na formação da geração futura, ensiná-los, mostrar para eles que as pessoas são iguais, que o que difere de uma para outra é só a tonalidade da cor da pele, uma é negra, outra é branca e ponto final. Isso é uma questão cultural, crucial, que precisa ser mudada. É como o futebol, se a gente quer ter grandes craques no futuro, primeiro tem que passar na formação, desde a escolinha que se começa essa formação para ter esse grande atleta aqui na ponta, e, nessa questão do racismo é igual."

Assim, Nilson ainda alertou que o racismo sentido no futebol é apenas um reflexo, neste cenário, a solução do problema passa direto pela mudança do país.

“Se não tratar lá embaixo, com os pais, em casa, não for educar com respeito a isso, se na escola não falar sobre isso, isso nunca vai mudar, vai sempre continuar e aí vai chegar fim de semana e mais fins de semana, a gente olha o futebol e vai se falar do racismo que teve no estádio, que chamou o jogador de negro e isso e aquilo."