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Jogos Inesquecíveis: Empate heróico, pênaltis e invasão marcaram acesso do Náutico em 2019

A série do Diario de Pernambuco relembra o dia 8 de setembro de 2019, data em que o Timbu viveu um dos dias mais intensos da sua centenária história

postado em 23/05/2020 10:30 / atualizado em 25/05/2020 19:08

(Foto: Paulo Paiva/DP Foto)
Todos os olhares de mais de 17 mil pessoas fixos para um jogador. Imóvel, em cima da linha da grande área, Matheus Carvalho observa a barra adversária. Foram menos de quatro segundos de caminhada em direção à bola. Tempo que pareceu uma eternidade. O estádio dos Aflitos emudeceu. Até a hora do chute. Firme. Certeiro. Decisivo. Bola no fundo da rede. E a explosão do grito de gol. O grito da heroica classificação à Série B. O gramado virou um mar de gente. Protagonistas de uma comemoração épica. Testemunhas de um jogo histórico.

A cobrança de pênalti que selou o acesso do Náutico, no ano passado, foi o último ato de uma partida para ficar na memória alvirrubra. A segunda parte da decisão pelo acesso na Série C. Depois de um empate em 0 a 0 em Belém, no jogo de ida, todas as emoções ficaram guardadas para a volta.

Primeiro, o nervosismo. Durante todo o primeiro tempo, o Náutico não conseguiu se aproveitar do apoio das arquibancadas. Pelo contrário. Como um time que estava “sentindo” a pressão pela vitória, acabou sendo envolvido pelo Paysandu, que foi para o intervalo vencendo a partida por 1 a 0, com um gol marcado por Vinícius Leite aos 24 minutos. 

Depois, a descrença. Quando se esperava uma reação alvirrubra, o Papão fez 2 a 0, aos nove do segundo tempo, com Nicolas. Time abatido, torcida começando a deixar os Aflitos. Enquanto isso, a transmissão da partida na televisão mostrava um torcedor do Paysandu fazendo gestos como se estivesse “cortando a cabeça” do Timbu. O recado era claro: “Acabou o jogo”. Mas segundo um ditado popular no futebol, “o jogo só acaba quando o juiz apita”.

Daí veio a esperança. O que aquele torcedor do Paysandu não acreditava (nem muitos dos alvirrubros que estavam nos Aflitos) é que o Náutico conseguiria voltar para o jogo. Aos 19 minutos, Álvaro, de cabeça, diminuiu. Sem outra alternativa, o Timbu partiu para o ataque. No abafa, na correria, empurrado pelo grito da torcida. Do jeito que podia. Tinha tudo para dar errado. A não ser que acontecesse o inesperado.

A euforia tomou conta dos Aflitos aos 49 minutos do segundo tempo. Naquele que poderia ter sido o último lance da partida, uma bola foi lançada na área do Paysandu e tocou no braço do jogador Uchôa, do time paraense. O árbitro Leandro Pedro Vuaden marcou pênalti. Foram três minutos de reclamação do elenco do Paysandu. Mas não teve jeito. A marcação foi mantida. Coube a Jean Carlos a responsabilidade de cobrar o pênalti. E aos 52 minutos, ele empatou o jogo, que foi encerrado logo após a cobrança.

Pênaltis

Começava a aflição. O Náutico havia conseguido o mais difícil, que era empatar um jogo dado como perdido. Mas havia um trauma no meio do caminho. A cobrança dos pênaltis seria realizada na mesma barra onde, 14 anos atrás, Ademar perdeu um pênalti que se tornaria histórico, para o mal. Impossível imaginar que essa lembrança não passou pela cabeça dos alvirrubros.

Mas a desconfiança foi indo embora a cada cobrança acertada. Principalmente quando o goleiro Jefferson defendeu o chute de Wellington Reis. E aí, depois de quatro pênaltis convertidos pelo Timbu, chegou a hora de Mateus Carvalho cobrar o seu. Era a hora do acesso. A hora da festa. Sem traumas. Uma batalha para chamar de sua.

Ficha técnica

Náutico 2 (5)
Jefferson; Hereda, Camutanga, Diego Silva e Willian Simões; Josa, Jiménez (Jhonnatan) e Jean Carlos; Álvaro, Thiago (Matheus Carvalho) e Rafael Oliveira (Wallace Pernambucano). Técnico: Gilmar Dal Pozzo

Paysandu 2 (3)
Motta; Tony, Micael, Perema e Bruno Collaço; Anderson Uchoa, Wellington e Tomas Bastos (Thiago Primão); Nicolas, Vinicius e Hygor. Técnico: Hélio dos Anjos

Local: Aflitos (Recife/PE)
Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (RS). Assistentes: Leirson Peng Martins e Lucio Beiersdorf Flor (ambos do RS)
Gols: Vinicius (aos 24 do 1ºT), Nicolas (aos 9 do 2ºT), Álvaro (aos 19 do 2ºT) e Jean Carlos (aos 48 do 2ºT)
Cartões amarelos: Matheus Carvalho (N); Caique, Uchoa, Thiago Primão, Nicolas, Mota (P)
Cartão vermelho: Perema (P): Diego (N)
Público: 16.662
Renda: R$ 622.183,00

As cobranças dos pênaltis

Náutico
Jean Carlos, Jhonnatan, Wilian Simões, Josa e Matheus Carvalho (acertaram)

Paysandu
Caíque, Tony e Uchôa (acertaram); Wellington Reis (errou). 

O gol que nem todo mundo viu... 

(Foto: Paulo Paiva/DP Foto)
Muitos dos quase 17 mil torcedores que estavam nos Aflitos não viram o Náutico empatar o jogo nos descontos. Ou porque haviam saído do estádio, ou porque não quiseram ver a cobrança de Jean Carlos, aos 52 minutos do segundo tempo. “Eu fiquei de olho fechado, só esperando o grito. Foi uma emoção muito grande. Eu estava receoso. Pênalti para o Náutico é sempre muito difícil”, conta o produtor de eventos Pedro Martins.

O torcedor alvirrubro conta que, aos 47 minutos do segundo tempo, saiu do lugar onde estava assistindo ao jogo e começou a se dirigir à saída do estádio. Antes de deixar os Aflitos, entretanto, aconteceu o inesperado. “Estava todo mundo de cabeça baixa, triste. Eu não estava nem prestando atenção no jogo. De repente, pênalti para o Náutico. A gente não sabia o que estava acontecendo. Era todo mundo chorando, parecia final de Copa do Mundo”, recorda.

Pedro Martins foi um dos milhares de torcedores que invadiram o campo após o jogo para comemorar o acesso. “Bastou uma pessoa invadir, que todo mundo foi junto. Eu fui um dos últimos, porque não sabia o que fazer. A emoção foi muito grande”, conta. 

Outro torcedor, Diego Amaral, deixou o estádio bem antes de a partida terminar. Foi até uma lanchonete de fast food e chegou a fazer um pedido, quando aconteceu o pênalti. O gol de Jean Carlos, conta ele, provocou uma correria na Rosa e Silva. Uma multidão começou a voltar aos Aflitos. Inclusive ele. “Era um frenesi total. Todo mundo voltando na mesma direção. Era pai com filho no braço, era casal, idoso, jovem, todo mundo voltando. Um idoso caiu no chão de joelhos, dizendo que não estava acreditando. Ele só fazia chorar e repetia que não estava acreditando”.

Depois de entrar nos Aflitos de novo, ele diz que não conseguiu assistir às cobranças de pênalti, de tão nervoso. “Depois da cobrança de Matheus Carvalho, não lembro de mais nada. Lembro que já estava no gramado, correndo. Foi aquela loucura. Foi sensacional”, relembra. Depois de comemorar em campo, ele voltou para a lanchonete onde estava antes de o Náutico conseguir o empate. “Meu pedido ainda estava lá”. 

Curiosidades 

O jogo que durou 11 dias
 
Disputada no dia 9 de setembro de 2019, a decisão entre Náutico e Paysandu nos Aflitos só teve seu resultado confirmado no dia 20 de setembro do ano passado. Foi o dia em que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) negou o pedido do Papão para anular a partida. O Papão questionou a marcação do pênalti no lance do gol de empate do Timbu no tempo normal. Para a equipe paraense, o árbitro cometeu “erro de direito” por desconhecer a Regra 12, que fala sobre mão na bola e que lista como exceção as infrações de toque "se a mão ou braço estiver perto do corpo e não faça o corpo artificialmente maior". 

Invasão documentada
 
“Após o término das cobranças dos tiros penais, para definir o vencedor da partida,conforme o regulamento, houve uma invasão generalizada da torcida do náutico, para dentro do campo de jogo.não houve hostilidade com a equipe de arbitragem”. Assim foi relatada, na súmula da partida, a invasão da torcida alvirrubra após a conquista do acesso. O clube foi a julgamento e correu o risco de perder mando de campo. Mas no dia 11 de outubro de 2019 o STJD penalizou o clube apenas aplicando uma multa de R$ 4 mil (R$ 2 mil pela invasão e R$ 2 mil pelo arremesso de objetos dentro de campo pela torcida).