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Executivo do Sport lembra de final de 1987 contra o clube e celebra marca inédita no Leão

Nei Pandolfo é primeiro diretor remunerado a virar a temporada no clube

postado em 03/01/2015 09:00 / atualizado em 04/01/2015 17:43

Pedro Galindo /Especial para o Diario

Nando Chiappetta/DP/ D. A Press
A função de executivo de futebol é relativamente nova no Brasil. Não as atribuições, mas, sim, o fato de ser alguém contratado para gerir o departamento mais importante de um clube. No Sport, foram quatro até o momento. Rudy Machado, em 1999; Cícero Souza, em 2012; Marcos Amaral, em 2013; e Nei Pandolfo, em 2014. Deles, o último foi o único a passar de uma temporada para outra no clube. Em entrevista ao Superesportes, esse paulista de 53 anos falou sobre a sua trajetória no futebol. Dentro e fora de campo. Lembrou dos tempos de zagueiro, que vestiu camisas pesadas - sem abandonar os estudos -, e do jogo contra o Sport, na final do Brasileiro de 1987. Fora das quatro linhas, explicou um pouco da função que desempenha hoje e como foi a transição de atleta para diretor de futebol.

Como foi sua preparação para assumir cargos no futebol? Foi algo que você já planejava enquanto jogador?
Quando eu comecei a jogar, já estava estudando. Na verdade, as coisas foram caminhando juntas. Com 18 anos, eu fui jogar e já fazia faculdade (educação física). Demorou um pouco mais para me formar. Em função das mudanças de clube e de cidade, você acaba atrasando. Mas acabei me formando em Campinas, na PUC. Quando terminou, continuei estudando. Fiz um curso de Gestão, Marketing e Direito Desportivo, para complementar. Fiz um outro curso de Gestão recentemente, com chancela da FIFA e da CBF. A gente está sempre se atualizando, buscando novas informações para associar essa nossa experiência prática vivida no dia a dia com a necessidade teórica e administrativa das equipes.

 

Como foi essa transição de dentro para fora do campo?

Eu parei minha carreira no Bragantino em 1997 e, automaticamente, virei auxiliar técnico, superintendente, supervisor, gerente, quase cozinheiro... Fazia de tudo um pouco. Era um clube de interior, você tinha que fazer. Você discutia contrato, pagava atleta, registrava atleta, auxiliava na beira do campo e solucionava os problemas que surgiam.

Sobre o cargo atual, quais são as funções desempenhadas por um executivo de futebol?
É uma nomenclatura nova. A ABEX (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol), fundada recentemente, oficializou essa função e está trabalhando para regulamentar todos os detalhes. É uma função que há muito tempo é feita nos clubes, com nomes diferentes. Quando o clube é menor, você tem um funcionário que acumula supervisão, gerenciamento e superintendência. O executivo faz a captação, a seleção, a preparação de profissionais. Tanto dos atletas quanto dos profissionais para trabalhar nas comissões técnicas. Lida com isso, com os valores, com orçamento, planejamento e todos os detalhes que envolvem o futebol. É uma obrigação e uma responsabilidade grande. É preciso trabalhar em harmonia com o jurídico, marketing, comunicação, financeiro. Essa é uma das nossas funções, alinhar esses detalhes para o clube.

Como você se sente sendo o primeiro profissional a durar um ano como executivo de futebol do Sport?
Eu fico muito contente. Em todos os clubes que eu passei nos últimos anos eu fiquei mais de um ano. No Santos, foram quase três anos. A mesma coisa aconteceu no Atlético-MG e no Palmeiras. As minhas passagens nos clubes, até quando eu fui jogador, eram mais longas, não eram coisas rápidas. Eu sempre me envolvia muito com o clube. E interajo muito bem com os profissionais envolvidos em todas as áreas. Aqui no Sport, recebo um apoio muito grande do Coronel Adelson Vanderlei, que é um dos pilares do Sport. Um cara que adora o clube, que tem todas as informações do clube. Tenho um bom relacionamento com todas as áreas. Com o pessoal da imprensa, marketing, o pessoal do jurídico.

Como foi a sua passagem pelo Santos?
Eu passei no Santos em diferentes épocas. Como atleta e depois passei como auxiliar técnico do Vanderlei Luxemburgo, em 2006 e 2007. Nós ganhamos dois Campeonatos Paulistas, chegamos às semifinais da Libertadores, fomos segundo lugar no Brasileiro. Retornei em 2009 e no final de 2010, quando nós fomos bicampeões paulistas, campeões da Libertadores e campeões da Recopa. É difícil esse número de títulos. Participei desses grupos vitoriosos que o Santos teve, convivi com o Neymar, que é um atleta fantástico e um ser humano também muito interessante, e muitos outros como Arouca, Elano, e Edu Dracena, que são grandes atletas e a gente teve o prazer de trabalhar com eles.

Quem foi o Nei zagueiro?
Iniciei minha carreira no Comercial de Ribeirão, durante quatro anos. Depois, fui para o Guarani, por mais quatro anos. Nesse período, me formei na PUC, em Educação Física. Nessa época, era difícil você ter um atleta que estudasse. Fui para o Bragantino logo em seguida. Foi, talvez, o meu auge profissional. Entre Guarani e Bragantino. Nós fomos campeões da Série B, campeões paulistas, vice-campeões brasileiros, dois anos seguidos classificados para a Libertadores e, na época, a Conmebol.

Nessa época você cruzou com o Sport.
No Guarani, tive dois vice-campeonatos brasileiros. Um contra o Sport. Aqui na Ilha, naquele do 11 x 11 nos pênaltis. Eu estava presente. A partir daí, rodei por outros clubes. Estive no Coritiba, no Santos, talvez tenha sido o auge da minha carreira em termos de clubes. Fiquei um ano no Santos, depois retornei a Bragança, onde acabei encerrando a carreira.

Como foi, para os jogadores do Guarani, enfrentar o Sport na final do Brasileiro de 1987?
A equipe do Sport era muito boa. Como era também a do Guarani. Tanto que no ano anterior havia sido vice-campeã brasileira contra o São Paulo. Era uma base muito bem montada. E a gente conseguiu fazer um ano muito bom. As equipes (Flamengo e Internacional) acabaram não querendo jogar, e foi decidido entre Sport e Guarani. Um resultado lá, outro trocado aqui, acabou indo pros pênaltis. Onze pênaltis. Um jogo muito difícil, estressante em todos os aspectos, físicos e emocionais. E no final, um acordo: “Vamos deixar empatado do jeito que está.” O Sport, com uma campanha melhor acabou, sendo beneficiado nesse período.

Você acha que foi a melhor decisão na época?
Eu acho que, na época, o Guarani errou. Devia ter continuado batendo e decidiria quem sairia vencedor. Mas lembro de coisas boas, um jogo difícil, e o Guarani num grupo muito forte, enfrentando uma outra equipe de qualidade da época.

Alguma característica dos tempos de jogador você trouxe para o papel que desempenha hoje?
Em todas as equipes em que eu passei, inclusive na seleção de base, seleção paulista de base, eu sempre fui capitão das equipes. Então, essa coisa de lidar com dirigente, com atleta, com comissão técnica, discutir as necessidades, eu já fazia isso quando jogava. Então, esse meio de campo, para mim, é uma coisa tranquila de fazer, e eu trouxe isso para o dia a dia.

Quando chegaram ao Sport, Diego Souza e Ibson falaram muito da sua importância na negociação. Efetivamente, qual foi o seu papel para trazê-los?
Eu trabalhei durante um bom tempo com o Luxemburgo como auxiliar técnico (esteve junto com Diego Souza no Palmeiras e no Atlético Mineiro). Como auxiliar, você fica muito próximo do atleta. Às vezes, o treinador tem uma pegada mais pesada, e você tem que vir acalmando, consertando. Isso é uma coisa às vezes até pré-estabelecida: ‘eu vou dar uma porrada e você dá uma ajeitada’. Então, quando o jogador está meio cabisbaixo, fez um jogo ruim, errou, você vai, incentiva, puxa para cima. Isso te aproxima do jogador. Muitos desses atletas já foram meus atletas em outras condições, então você tem a proximidade e entende, consegue falar com ele a linguagem do futebol. Tem uma linguagem toda especial. Você vai conversar com o atleta e as coisas que eles estão vivendo, eu já passei como atleta e como dirigente fora de campo. Eu entendo as dificuldades e as necessidades que eles têm. O jogador também não é fácil no trato, você tem que estar sempre próximo para saber o que pode e o que não pode. Não é fácil fazer esse diagnóstico. O atleta tem que estar protegido, mas também tem que ter responsabilidade.

Como está o planejamento para 2015?
Há cerca de três meses, começamos a planejar 2015. Começamos lá atrás, mesmo com as dificuldades. Toda a comissão técnica identificando atletas, vendo os que poderiam ficar para 2015. Você não pode externar isso muito cedo, reflete no elenco, entre alguns que não iam ficar. Então guardamos muito bem essas informações e fomos, aos poucos, dando andamento a algumas negociações, adiantando algumas situações e contactando alguns atletas. A gente já vem preparando isso há algum tempo e acho que a gente acabou saindo na frente em relação a isso.

Copa Sul-Americana ou Copa do Brasil?
Não definimos essa prioridade. É uma coisa que já tocamos no assunto, vamos decidir o que vai ser feito, mas hoje ainda não temos uma posição definida. Isso vai ser discutido entre comissão técnica e diretoria para ver o que é melhor para os interesses do clube, e vamos caminhar. Opinião minha: eu acho que o futebol tem que ser resolvido dentro de campo. Você entra em todas as competições para vencer. Se você conseguir passar na Copa do Brasil por mérito, dentro de campo, você segue na Copa do Brasil. Isso é uma opinião pessoal, mas isso é sempre discutido.

Existe um trabalho especial para desenvolver também os atletas da base fora de campo?
O Santos desenvolveu uma gestão de atletas, que era um grupo especializado, com fonoaudiólogo, psicólogos, nutricionista, media training, todas essas áreas envolvidas para treinar o atleta. E a gente tenta desenvolver isso aqui também. Aí é onde nós precisamos da ajuda da nossa área de Comunicação, de todas as áreas envolvidas no dia a dia, principalmente do Marketing, na questão de captação de recursos e patrocinadores, desde que o atleta responda em campo. Quando o atleta dá a resposta em campo, fica muito mais fácil essa captação e essa preparação. A gente tem que ir preparando os atletas aos poucos. O Renê já é um deles, e vem sendo preparado para todas essas áreas. E hoje, o Joelinton, que eu acho que tem muito futuro e tem até o perfil, já dito pelo nosso treinador, de Europa.