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Torcida Jovem vai à Justiça caso seus membros sejam excluídos do quadro social do Sport

Sócio patrimonial, presidente da organizada diz que não sabe quem são as 20 pessoas

postado em 25/08/2015 17:00 / atualizado em 26/08/2015 11:54

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press
No início da noite de segunda-feira (24), o Sport anunciou no site oficial do clube, através de pronunciamento de seu presidente, João Humberto Martorelli, que vai excluir de seus quadros sociais 20 membros da Torcida Jovem. Para a organizada, a medida tomada se baseia em atos praticados no passado e tem o intuito de desviar o foco da má fase vivida pelo time. Caso a exclusão seja determinada pelo Conselho Deliberativo rubro-negro, a entidade assegura que vai acionar a Justiça para assegurar os direitos de seus membros.

Henrique Marques Ferreira é sócio patrimonial do Sport e presidente da Torcida Jovem, a maior organizada do clube. Ele diz que, até o momento, a associação que preside não tomou conhecimento de quem são os 20 membros da torcida cuja exclusão foi proposta pelo presidente do Leão. Porém, deixa claro que não vai aceitar a decisão sem recorrer da medida. “A gente vai correr atrás dos nossos direitos”, garante.

O presidente da Jovem alega que é um direito de todo torcedor fazer parte da vida social do clube, inclusive das ações políticas. “A gente tem nosso direito de se expressar nas eleições e no dia a dia do clube”, afirma. Por essa razão, Henrique confirma que a organizada tem como meta associar mil membros ao clube. “Temos promovido uma campanha de conscientização dos membros da torcida para se associar ao clube, para apoiar o clube”, diz. De acordo com ele, já são “cerca de 700 associados.”

Henrique contesta a decisão de João Humberto Martorelli. “O que eles fizeram contra o clube para serem expulsos?”, questiona. Indagação que é feita por Bruno Reis, que foi candidato à presidência do Sport em 2014. “Esses membros praticaram algum ato que desabonassem suas condutas como sócio?”, pergunta. Para Bruno Reis, a violência deve ser punida pelos órgãos públicos competentes e a punição ao sócio deve acontecer pelos atos que ele pratica contra a imagem do clube. “Só por serem parte de torcida organizada não se pode punir a pessoa”, afirma.

No entendimento do presidente da Jovem, o momento escolhido para anunciar a medida não foi casual. “Toda vez que o Sport tem uma decadência, ele arruma algo para tirar a atenção. O time vem caindo de produtividade e ele tenta desviar do lado dele, chamando a atenção para cima da torcida”, alega.

Em nota ao Superesportes, o jurídico da Jovem argumenta que a atual diretoria da torcida tem “um projeto em prática em prol da segurança nos estádios e fora deles” e que “tem seu foco em apoiar o Sport”. E encerra ratificando o posicionamento do presidente da organizada, de que a questão poderá parar na Justiça. “Caso o Sport decida por prosseguir com a medida anunciada, a Jovem deverá buscar o Judiciário em defesa dos seus direitos.”
Nando Chiappetta/DP/D.A Press

Medida discriminatória
O clube alega que os membros da Torcida Jovem ferem os incisos II e VIII do artigo 47 do Estatuto Social do Sport. A decisão, contudo, não é baseada em algum ato praticado diretamente pelos 20 sócios que deverão ser excluídos pelo clube. O vice-presidente rubro-negro Arnaldo Barros ratifica o posicionamento do presidente Martorelli. “Quando se constatou, com precisão, que estes 20 nomes integram a Torcida Jovem, foi solicitada a exclusão. O presidente Martorelli se manifestou dizendo que as duas instituições são compatíveis entre si. Uma pessoa que é sócia de uma associação como essa é incompatível”, reiterou.

Gilberto da Motta é pesquisador da área de futebol e doutorando em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe). Para Motta, que estuda o sentimento do pertencimento clubístico, o Sport perde uma boa oportunidade de integrar os membros de sua maior organizada e contribuir, de forma transformadora, para o fim da violência no futebol. “O clube, ao invés de aproveitar uma situação como essa para traçar uma linha de processo civilizatório, está excluindo a torcida como um todo, uma discriminação generalizada, identificando como se a torcida fosse algo imutável”, argumenta.

Motta vê a atitude rubro-negra como uma medida discriminatória. “Da maneira como o clube está tomando, acaba discriminado um grupo. A ideia é enfraquecer a torcida. Mas vai gerar um comparecimento da torcida, na medida em que vai se juntar para reagir. Está gerando um sentimento de solidariedade no grupo”, afirma.

Por fim, o pesquisador enxerga algo positivo na postura do clube ao reconhecer a sua responsabilidade no processo de combate à violência, mas volta a criticar os meios escolhidos. “O fato de o clube estar tomando essas medidas é um reconhecimento de que a violência no futebol é um problema no clube também. Acho que esse é um ponto positivo. Porque até então os clubes lavavam as mãos, alegavam que era questão de polícia, por exemplo”, explica. “O clube, porém, vê a torcida pela ótica da violência e ela é inimiga por conta da violência. E essa visão é muito simplista”, emenda. “O clube vê a torcida como inimiga ao invés de trabalhar para atrair estes torcedores e tentar impulsionar uma mudança de comportamento, de valores”, finaliza.