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Extracampo, carreira, convites e portas abertas: Daniel Paulista fala sobre demissão no Sport

Aos 35 anos e recém-demitido do Leão, auxiliar técnico não decidiu se dará "início" à carreira de treinador; ele revelou convite do Náutico em 2017

postado em 25/04/2018 18:33 / atualizado em 25/04/2018 18:44

Gabriel Melo / Esp. DP
Daniel Paulista foi ídolo do Sport como jogador. Campeão da histórica Copa do Brasil, há dez anos, foi vendido ao Rapid Bucareste, da Romêmia. Com o dinheiro, o Leão adquiriu o CT atual. Mesmo local onde Daniel retornou semanas após se aposentar como atleta precocemente, aos 32 anos. Na ocasião, retornou ao clube para fazer um estágio para treinador com Eduardo Baptista, em agosto de 2014. À vontade, foi contratado e criou raízes. Ficou 45 meses, até ser demitido na terça-feira. Nesta quarta-feira, concedeu entrevista à reportagem do Superesportes

Dizendo-se surpreso com a demissão, afirmou que deixa o clube com o sentimento de missão cumprida. E com as portas abertas - afinal, ele admite o desejo de um dia retornar. Centrado, evitou polêmicas e tratar da política do clube. Embora ainda com o futuro em aberto, disse estar pronto para "iniciar" (ou dar seguimento) a carreira de técnico. Revelou propostas para deixar o Sport desde que voltou a assumir o posto de auxiliar técnico - dentre as quais, uma do Náutico, clube que defendeu em 2007.

À frente do Sport foram 33 partidas, com 18 vitórias, seis empates e nove derrotas. Daniel Paulista salvou o Sport do rebaixamento em dois momentos, como bombeiro, nas retas finais do Brasileiro de 2016 e 2017. Tranquilo, ele afirmou que irá ficar no Recife pelo menos até junho, devido a escola das filhas. Tempo para refletir e amadurecer seus planos para o futuro, tema também abordado na entrevista que segue abaixo.

Você foi pego de surpresa com a sua demissão?
Fui pego de surpresa. Foi uma situação que não esperava até porque vinha desempenhando minha função no clube já algum tempo. Infelizmente aconteceu a saída do Nelsinho ontem e após o treinamento fui surpreendido com decisão da diretoria de futebol de me demitir.

Você chegou a receber algum alerta de que se Nelsinho saísse você também sairia? Uma ameaça que teria vindo devido a um suposto acomodamento seu no Sport... 
Não sei te dizer se isso (alerta de demissão) aconteceu. O que eu posso dizer é que de maneira nenhuma estava acomodado no cargo até porque sempre exerci minha função com o maior afinco tanto como treinador como auxiliar. Nunca fugi de nenhuma responsabilidade que foi me dada no Sport, até porque assumi a equipe em momentos muito complicados, onde a responsabilidade era gigantesca. A responsabilidade de não deixar o clube cair para a Série B, que hoje seria algo catastrófica. Imagina se o clube estivesse numa Série B agora? Esse argumento de estar acomodado no cargo não existe, não tem fundamento, mas também não sei se isso aconteceu.

Como você vê esse momento político do Sport? Você acredita que os fatores extracampo têm atrapalhado o desempenho do time?
Essa questão política é uma questão que eu particularmente nunca me meti e procuro não entrar nessa questão independentemente de quem está à frente do clube. Temos que pensar no bem do Sport. Eu particularmente sempre procurei dar o melhor para que os resultados acontecessem conforme o torcedor sempre quer, com o Sport sempre vencendo. Essa questão política e administrativa eu procuro não opinar até porque não tenho conhecimento de causa.

Mas você, a comissão e os atletas percebiam que existia esse problema político e administrativo no clube?
A gente sabe que tem o problema político e administrativo porque hoje ninguém está fora das notícias e das redes sociais. Todos nós acompanhamos as notícias divulgadas e todo mundo tem ciência do que está acontecendo. Mas lógico que nós do futebol, tanto a gente da comissão quanto os jogadores não temos informações para saber como o clube é gerido administrativamente. Para ter uma opinião a respeito, eu teria que ter um melhor conhecimento de causa, coisa que não tenho. Infelizmente, agora de fora torço que as coisas melhorem e que sejam conduzidas para as vitórias.

Nelsinho reclamou de salários atrasados. Você também está na mesma situação? 
Minha situação é de funcionário, no caso está em dia. Não tenho nada para colocar a respeito disso.

Você se sente com a sensação de missão cumprida nesta passagem pelo Sport?
Não tenho dúvida disso. Acho que saio do Sport hoje muito mais maduro e muito mais experiente tendo vivido situações complicadíssimas e tendo dado a volta por cima. Ter ajudado o clube a conquistar duas vezes a permanência na Série A quando a equipe estava com percentuais altíssimos de rebaixamento foi um feito Dificilmente as pessoas conseguem como eu consegui, lógico que com a ajuda de outras pessoas, dos atletas, funcionários… Os resultados foram conquistados. Mas saio de cabeça erguida porque dei o meu melhor e se o Sport está hoje na Primeira Divisão não tenho dúvida que se deve a uma parcela grande também do meu trabalho.

Pode-se dizer que você está pronto para a carreira treinador para valer agora?
Venho me preparando para isso há algum tempo já. Tive a experiência de ter trabalhado com vários treinadores dentro do Sport e sempre venho me capacitando (fazendo os cursos oferecidos pela CBF, por exemplo) e tendo as maiores experiências com grandes treinadores. Se vou seguir a partir agora treinador ou não é uma situação que estou pensando muito. Ainda é recente minha saída do Sport e quero avaliar tudo isso com calma, com carinho e tomar a decisão correta para posteriormente dar procedimento a minha carreira. Mas me sinto pronto. Sou totalmente capaz de exercer tanto a função treinador como a de auxiliar e fazendo isso muito bem. A prova disso é quando estive à frente da equipe. Os momentos em que eu estive à frente foram momentos complicadíssimos de pressão extrema, de responsabilidade imensa e os resultados que consegui à frente da equipe me dão condição para hoje, se optar seguir como treinador, se existir algum convite, coisa que não existe neste momento, posso estudar carinho se é viável ou não.

Você disse que não existe esse convite ainda, mas já existiu? Inclusive, um desses clubes teria sido o Náutico em 2017?
Aconteceram alguns convites e todos foram recusados porque estava bem empregado dentro de um grande clube, um projeto que existia e achava que aquele momento não seria o momento oportuno para deixar o sport e assumir outra equipe. Mas convites existiram até fruto do bom trabalho que desempenhei como auxiliar e treinador no Sport.

O do Náutico foi um deles?
Sim, foi.

Nas redes sociais, você externou que a saída do Sport era um “até logo”. Você acredita que ainda vai ter uma nova oportunidade como técnico do clube no futuro?
Eu saio deixando as portas abertas no Sport. Acho que deixei a mensagem de um ‘até logo’ até porque sou jovem e tenho muita coisa para viver como treinador. Tenho muita caminhada profissional ainda e o Sport é um grande clube que quero sempre deixar as portas abertas e vou ter sempre o prazer e satisfação de trabalhar. Foi um ciclo que se encerrou, mas quem sabe mais à frente a gente não possa se encontrar novamente e escrever uma trajetória vitoriosa como escrevi nesse período de trabalho no clube.