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Treino sem parar e análise de vídeo: a história de extrema dedicação de Sander, do Sport

Atleta faz relatórios pessoais após jogos, corre mais que todos e ainda quer treinar todos os dias; dedicado, hoje vive melhor fase no Leão da Ilha

postado em 01/06/2018 08:30 / atualizado em 01/06/2018 09:29

Anderson Freire/Sport Club do Recife
“Dá para eu fazer academia agora e faço a entrevista depois do treino?”. A pergunta de Sander à assessoria de imprensa do Sport veio pouco antes dele se dirigir à mesa na entrada do refeitório do CT do clube para uma entrevista ao Superesportes. Sander é assim. Nunca para. Nunca mesmo. Desde quando era recém-nascido, acostumou-se com o ir e vir de cidade em cidade. Depois, na vida adulta, passou a conciliar os estudos na universidade com o futebol. E, agora, tem uma ideia de extrema dedicação ao trabalho, que une foco na parte física e até relatórios pessoais sobre desempenho nos jogos. Com isso, agarrou a chance da vida no Rubro-negro e, nesta Série A, virou uma das forças do time, com entrega e números acima da média do elenco. 

O começo

Para entender o Sander de hoje é preciso voltar para 3 de outubro de 1990, data de nascimento do jogador. Tudo começa no berço, literalmente. O pai agricultor Vilmar e a mãe dona de casa Liliane deixaram o interior do Rio Grande do Sul para tentar a vida na pequena Corumbá de Goiás. Lá, foi onde ele nasceu. “Nem tinha um ano de vida e a gente já voltou para o Sul”, lembra o lateral. Nem imaginava que as mudanças estavam apenas no começo. Sander, também por causa da separação dos pais, morou em Dona Francisca, Tupanciretã e depois Ijuí, todos pequenos municípios do Rio Grande do Sul.

Entre o estudo e a bola

Aliás, foi em Ijuí que Sander começou a segunda e decisiva etapa da vida. Em vez das idas e vindas em cada cidade, passou a ter o caminho da universidade e do campo de futebol como rotina. Foi quando começou a estudar educação física e a jogar no São Luiz-RS. Deixou para trás também a ideia de não mais atuar profissionalmente e de que o corpo muito franzino não iria apresentar evolução. 

Trabalho dobrado até chegar ao Sport

Sander, porém, precisou ralar muito até chegar no Sport e encontrar a primeira chance de jogar uma Série A. Após rodar por vários times modestos do Rio Grande do Sul e ter que trancar a faculdade no sétimo período por isso, passou pelo Avaí e se destacou no Campeonato Gaúcho de 2017 pelo Cruzeiro-RS. Foi eleito o melhor da posição no Estadual, chamou atenção do departamento de análise de desempenho do Leão e fechou um contrato com o Rubro-negro até o fim do Brasileiro.

No Sport, Sander assumiu de vez o seu lado workaholic.  “Eu sou muito ligado ao trabalho. Tenho essa dedicação. Às vezes, acabo tomando algumas puxões porque é excessivo. Entendo isso e dou uma baixada na carga, mas procuro sempre trabalhar. Como todo atleta, tenho deficiências. Quanto mais rápido a gente entendê-las e o procurar corrigi-las, mais rápido a gente vai ter melhoria”, conta.

O chamado de Luxa

Com esse pensamento, Sander quer sempre mais treinar. Mais do que todos até. Certa vez, ele pediu a Vanderlei Luxemburgo, treinador do Sport no ano passado, para dar uma esticada no trabalho com mais dez minutos. Ele negou. Por conta própria, o lateral saiu do campo após o fim da atividade e foi direto para academia sozinho para trabalhar mais. “Foi quando ele me chamou na sala e disse que estava tudo no controle e com uma carga boa de treinos. Falou que era para eu ter um controle. Daí, eu entendi que descanso faz parte do trabalho”, recorda.

Condição física anormal

Peu Ricardo/DP
Mas, como já se sabe, você nunca irá ver Sander parado. Até porque a condição física do jogador é realmente acima da média. “Ele sempre fica entre os dois com mais distância percorrida nos jogos ou treinos.  Ele também está nessa posição nas ações de alta intensidade, que são piques acima de 20 km/h”, diz o fisiologista do Sport, Inaldo Freire. Por jogo, Sander corre entre 10,5 e 11,5  quilômetros. Segundo o especialista, uma média de atleta nos campeonatos europeus e acima do Brasileirão, onde os jogadores correm entre 9 e 10,5 quilômetros por jogo.  

Sander também tem uma recuperação física anormal. É comum vê-lo treinar em dia de reapresentação quando os atletas que jogaram se limitam a apenas um trabalho na academia. “Se a gente não der espaço para ele treinar, ele fica agoniado e diz que vai arrumar uma academia escondido”, conta Inaldo. 

Análise de vídeos

Fora de campo, Sander também trabalha para suprir as limitações que tem. O jogador sempre procura o departamento de análise de desempenho para ter acesso aos seus dados e vídeos das partidas. “Quando o ser humano comete os mesmos erros várias vezes, se torna um hábito. O certo não é isso. Para a área do futebol, procuro sempre saber onde errei. Assisto aos jogos e faço um parecer da minha atuação. Mas, se for sempre um parecer só meu, vou estar com a mesma ideologia. Eu preciso de um outro olhar, com outro conceito, para entender de outra forma.”

Vida fora de campo 

A vida para Sander só tem um pouco de calma quando chega em casa. Morando sozinho, o atleta passa maior parte do tempo conversando por telefone com a noiva Cristiane, que vive distante em Horizontina, no Rio Grande do Sul, por conta do trabalho. Também está sempre em contato com os pais e o empresário Renato Padilha, com o qual dizer ter uma forte ligação. “Devo minha carreira a ele. Ele não mede esforços para me ajudar. É como um pai”, diz, agradecido.

Mas, como Sander é Sander, ele também não fica só no telefone nas horas vagas e também faz questão de estabelecer metas na vida pessoal com a noiva com quem pretende construir família em breve. “A gente está sempre criando objetivos para não cair naquela apatia da vida. É muito fácil cair na rotina”, diz o jogador, que ainda quer encerrar o curso educação física no Recife e ainda iniciar outra faculdade. Até lá, sonha em correr muito pelo Sport, com quem tem contrato até 2020. Você duvida?

Ricardo Fernandes/DP