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Primeiros passos e muita esperança: projeto de iniciação do Atletismo Campeão busca talentos

Iniciativa acontece no Centro Santos Dummont e em vários municípios de PE

postado em 03/09/2018 13:34 / atualizado em 03/09/2018 14:58

Leo Malafaia/DP
Há pouco mais de um mês na equipe do projeto Atletismo Campeão, o pequeno Arthur, nove anos, já sonha com medalhas de ouro no futuro. Ele foi um entre tantos alunos que se interessaram pela iniciativa que dá oportunidade para crianças de oito a 16 anos de idade no Recife e em municípios do interior pernambucano. “Eu que pedi pra vir pra cá. Queria fazer algum esporte, algo profissionalmente. Tenho um ídolo e ele se chama Usain Bolt, admiro muito ele e por isso pedi para minha mãe para vir para cá”, conta o garoto.
 
Prestes a completar 30 anos, a iniciativa Atletismo Campeão (antigo Atleta Cidadão) surgiu com o técnico e professor de educação física, Abraão Nascimento, 49 anos. O projeto de iniciação para crianças, entretanto, começou há cerca de seis meses e visa, além de identificar e formar novos atletas, formar cidadãos. Atualmente, a ação acontece em Boa Viagem, no Centro de Esporte, Lazer e Cultura Alberto Santos Dumont, na praça do Jiquiá e na Macaxeira. Ao todo, são 11 municípios abrigando o projeto, do litoral ao sertão pernambucano. São eles: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Pesqueira, Arcoverde, Ibimirim, Exú, Bodocó, Ipubi, Ouricuri, Santa Cruz e Petrolândia.
 
Segundo o idealizador, a ação procura incluir as crianças no mundo esportivo e vem chamando a atenção da garotada. “Temos aqui a corrida de rua, a corrida universitária, ação para deficientes e o projeto de iniciação, que é voltado para novos talentos. As crianças são demais, essa vivência com elas nos motiva e é bom descobrir e explorar um potencial. Ver a satisfação desses meninos não tem preço. Temos vários monitores no projeto. Apenas aqui, no Santos Dummont, são dez. Durante toda a semana tem atividade e temos vagas para mais de 20 alunos ainda. São 11 turmas separadas e um total de 136 alunos inscritos”, conta Abraão.
 
Ainda segundo o técnico, o foco da iniciativa é colocar os atletas em igualdade com os demais. Para isso, contudo, a ação precisa contar com apoio do Poder Público e da iniciativa privada. O projeto de iniciação está ligado a aprovação pela Associação de Apoio a Pessoa Portadora de Deficiência junto a lei de incentivo ao esporte do Governo de Pernambuco. “A Secretaria de Esportes aprovou nossa ação no final de 2017 e temos atualmente o apoio da Copergás. Em 2019, teremos os jogos escolares e queremos que nossos atletas integrem a seleção estadual. Uma pessoa daqui, a Suellen, está no Canadá e recebo muitos elogios dela”, conta.
 
A mãe do pequeno Arthur, fã do jamaicano Bolt, Shirley Lima Carvalho, 29 anos, apoia a decisão do filho de se dedicar ao atletismo. Segundo a técnica industrial, o garoto foi muito bem recebido e se integrou rapidamente ao projeto. “Tenho pretensão para o meu filho na área esportiva, quero que ele participe de competições e se torne um atleta. Para a idade dele não posso exigir muito, mas já dá para ter uma visão de que ele leva jeito para corrida. No nosso país, o esporte dá futuro”, conta, orgulhosa.
 

Colhendo os frutos 

Outro ponto positivo para o projeto é que grandes atletas que já viveram a ação estão hoje consolidados no mundo esportivo, com participações, inclusive, em Olimpíadas e Olimpíadas Paralímpicas. Entre eles o recifense Wagner Domingos, atleta de lançamento de martelo que atuou em jogos Pan-americanos e nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. “Tenho 30 anos de experiência e isso facilita na hora de treinar. Já passaram por aqui dois atletas paraolímpicos e três olímpicos. A meta é que pessoas da ação de iniciação do projeto estejam aptas a disputar a competição até 2024”, conta Abraão.
 
E já que ainda falta um bom tempo para os próximos jogos Olímpicos, ainda há tempo para literalmente correr atrás do prejuízo e entrar na ação. Os interessados podem procurar as prefeituras e secretarias dos locais citados e identificar as categorias que mais se adequam à sua realidade. Com incentivo, fica cada vez mais fácil surgir das pistas pernambucanas novos ícones do atletismo nacional.

Elas são mais que especiais 

Leo Malafaia/DP
Nas turmas de iniciação, o projeto Atletismo Campeão também conta com a iniciativa de incluir pessoas com deficiência no mundo esportivo. Um deles é o Bruno, 14 anos, que tem autismo e síndrome de down. Ativo e comunicativo, o garoto frequenta o local há pouco mais de duas semanas e já está familiarizado com as atividades locais e com os colegas. “Ele (Bruno) começou há pouco tempo. A decisão de trazê-lo é porque ele é especial e estava muito isolado, pois é filho único. Minha mãe ouviu falar sobre esta iniciativa, pegou informações e aqui estamos”, conta a administradora de empresas e mãe do Bruno, Viviane Fialho, 49 anos.

 
De acordo com Viviane, ainda é cedo para analisar possíveis melhorias no comportamento do filho, mas o clima com as novas atividades do pequeno Bruno é de otimismo. “Esse projeto está sendo muito bacana. Diversas classes sociais podem ter acesso a uma atividade física, tem muita gente o dia inteiro, fazemos muita coisa. É muito importante para Bruno estar aqui. Infelizmente, no nosso país, não temos apoio à criança, principalmente para as pessoas especiais, que deveriam contar com o Governo para questões como  aposentadoria, fisioterapia, entre outros.
 
Outro atrativo para as pessoas que participam do projeto é a interação entre a família, já que as diversas ações que compõem o Atletismo Campeão proporcionam um ambiente democrático, possibilitando atividades tanto para jovens, como para veteranos do mundo esportivo. Um dos mais experientes no local, o Valdir Galdêncio, funcionário público de 60 anos que passou 20 anos aposentado das pistas, não se enquadra ao programa de iniciação, mas voltou com todo gás para o esporte junto com o filho. Enquanto o garoto participa da ação para iniciantes, ele treina corrida com a equipe master. “Comecei a incentivar o meu filho (Valdir, nove anos) a vir para cá e hoje ele já participa de corridas de até cinco quilômetros. Além dele, mais outras oito crianças da mesma escola participam das atividades. Acho interessante, porque assim conseguimos tirar as crianças da frente do computador e do celular”, conta o veterano.
 
Segundo Abraão, o atletismo ainda tem muitos talentos para serem descobertos no Brasil, é preciso dar oportunidade aos jovens e saber identificá-los. “Nosso projeto não tem um investimento muito alto, mas tem capacidade. Temos várias categorias e todo o equipamento que a gente precisa para treinar nós temos. Através do boca a boca mesmo, as pessoas vão conhecendo o projeto. Tem gente que chega aqui, vê a pista e já quer sair correndo. Um menino que não tem experiência e nem oportunidade, quando chega aqui e consegue ficar, fica feliz. O local é fechado, com segurança, tudo isso contribui para que a criança se interesse em entrar”, explica.