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REFENO

Com apenas 2% de visão, velejador completa a Refeno com excelente desempenho à bordo do Avatar

Diego Teixeira deu uma verdadeira lição de vida ao competir na Regata Recife-Fernando de Noronha como tripulante de embarcação

postado em 02/10/2018 16:00 / atualizado em 02/10/2018 17:38

Tsuey Lan Bizzocchi/Cabanga
Velejar em alto mar não é para qualquer um. Requer um mínimo de experiência. Velejar e competir na maior regata náutica da América Latina aumenta ainda mais a responsabilidade. Mas agora imagine para uma pessoa que tem apenas 2% de visão. Impossível? Não para Diego Teixeira, de 29 anos. Provando que a vida é feita para vencer qualquer tipo de desafio, ele embarcou à bordo do barco Avatar, completou a regata Recife-Fernando de Noronha e deu uma verdadeira lição de vida.

Diego nasceu com apenas 30% da visão. Herdou da mãe um problema no código genético, assim como o seu irmão, que também é cego. Hoje, com 2% da visão, precisa vencer os obstáculos que a vida lhe dá. “Todo dia, nós deficientes, matamos um leão por dia. A sociedade não é preparada para a gente. Cidades não são adaptadas para a gente. Você tem que se adaptar ao mundo, não o mundo se adaptar em você. Você anda no centro do Recife e não tem suporte, calçada... Não tem nada! E a gente precisa fazer nossas coisas também”, relata, com certa indignação.

Mas Diego preferiu tentar seguir sua vida de uma maneira em que ele comanda as dificuldades. Nada para ele é impossível ou difícil. Tira tudo de letra. E foi depois descobrir um canal de Youtube sobre barcos a vela que nasceu a vontade de querer aprender a velejar e também competir. “Comecei a procurar se tinha curso de barco a velas para deficiência visuais no Brasil e achei só em Bertioga, em São Paulo. Aí fui procurando e descobri que tinha curso de velas para adultos no Cabanga Iate Clube. Entrei em contato e sugeri a ideia para ver se topavam o desafio. Marcamos um encontro e eles toparam. Foi aí que comecei a conhecer o pessoal e comecei a competir”, conta. Foi o início de um grande amor na sua vida. “Foi amor à primeira vista. Quem faz o que a gente faz, faz por amor. Eu amo o que faço. A vela é muito bom”.

Após um ano velejando, Diego quis desbravar novos desafios. Procurou Paulo Almeida Filho, 52 anos, dono e comandante do barco Avatar. Queria saber se poderia participar da Refeno. Seu desejo foi prontamente aceitado. “Pra mim, a participação de Diego não foi nenhum motivo de preocupação ou de tensão. Com certeza será a primeira de muitas. Ele já é velejador. Somos concorrentes em outra categoria. Para gente foi um prazer ter ele em nossa tripulação”, disse Paulo.

Apesar de competir pela primeira vez na Refeno, Diego acabou se revelando como uma verdadeira arma secreta para o Avatar. Como não enxerga, percebe alguns fatores, como vento e temperatura, muita mais rápido do que quem enxerga. “É completamente desenrolado a bordo. Não é marinheiro de primeira viagem”, revela o capitão do Avatar. O barco que era o atual tricampeão, aliás, acabou terminando na segunda colocação na sua categoria, perdendo o título por menos de dois minutos no tempo corrigido. Se não tivessem quebrado a vela de proa, certamente teriam conquistado o tetracampeonato. “Fiz o máximo que pude. Mas não depende da gente. Tem outros imprevistos. Eu dei o máximo que pude e também aprendi muito. Como saí de um barco menor e vir para um barco de 44 pés, é uma diferença absurda. Tenho que aprender muita coisa”, relata Diego.

É só o primeiro passo

A Refeno foi só o primeiro passo para o próximo objetivo de Diego. Ele, que também cursa o décimo período de Direito, ratificou o “casamento” com o Avatar para 2019 para seguir buscando sua evolução no mar. “A Refeno é um pequeno passo para um projeto que tenho, que é descer a costa do Brasil velejando. É o primeiro passo para um grande sonho. Mas para começar, tem que aprender com os melhores”.

SAIBA MAIS

Todos os competidores já cruzaram a linha de chegada no Mirante do Boldró, em Fernando de Noronha. O último a chegar foi o Yara III, que chegou à ilha às 5h29 da manhã desta terça-feira, após ter largado do Marco Zero no meio-dia de sábado. 

Ordem de chegada dos barcos

1 - Patoruzú - 14h58min12
2 - Kat- 18h25min22
3 - Mussulo - 20h00min40
4 - Tedesco - 21h09min36
5 - Audaz - 22h37min38
6 - A Travessia - 22h58min11s
7 - Marujo’s - 23h57min15s
8 - Zenith - 00h12m53s
9 - VMAX 3 - 00h20m00s
10 - Ukiukiu Nui - 00h22m33s
11 - Kakamaumau - 00h38m34s
12 - Ciranda - 00h49m4s
13 - Avoador - 1h22m29s
14 - Bolero II - 1h26m55s
15 - Batuta - 1h51m14s
16 - Plankton - 1h55m38s
17 - Pinguin - 2h23m44s
18 - Seugugu - 2h27m17s
19 - Ventania - 2h35m25s
20 - Yarebe - 2h41m40s
21 - Aventureiro - 2h45m53s
22 - Avatar - 3h4m59s
23 - Dadu - 3h5m10s
24 - Madame - 3h9m15s
25 - Algo + - 3h17m37s
26 - Zen - 3h57m19s
27 - Jahú - 3h58m42s
28 - Soturi - 4h6m4s
29 - Gladiador - 4h58m30s
30 - Nemos - 5h14m22s
31 - RS1 - 5h20m23s
32 - Papangu - 5h21m40s
33 - Zen 5 - 5h24m47s
34 - Endurance - 5h29m36s
35 - Tutatis - 6h00m27s
36 - Ocean Spirit - 6h2m43s
37 - Labadee - 6h2m55s
38 - Aya - 6h18m5s
39 - Charada - 6h27m16s
40 - Sem Fim - 6h27m19s
41 - Nandu - 6h40m34s
42 - Arribasaia - 7h3m2s
43 - Matajusi - 7h13m38s
44 - Panda - 8h 26min19
45 - Tucanus III - 8h34min57
46 - Toro - 9h13min22
47 -  Yacaré - 9h46min40s
48 - Entre Polos - 9h49min52
49 - Glasnost - 10h03min45s
50 - Spectra - 10h16min12s
51 - Anakena - 10h37min20s
52 - Atrevido - 12h05min5s
53 - J One - 14h01min01s
54 - Yara III - 05h29min12s

Embarcações DNF/DSQ
1 - Tranquilidade - Rumou para Natal
2 - Jahú 2 - Rumou para Natal
3 - Lampião (Cruzou a linha de chegada com motor)
4 - Tana (Cruzou a linha de chegada com motor)
5 - Caboges (Cruzou a linha de chegada com motor)

Não largaram (02)
1 - Maria Antonia (problemas no leme)
2 - Ecos (Retirou-se da competição na sexta-feira, véspera da Refeno)

*Horário de Brasília