SELEÇÃO

Alemanha e Brasil com discursos opostos

Seleções encaram fracassos em semifinais de Copa de modos totalmente diferentes

postado em 10/07/2014 08:06 / atualizado em 10/07/2014 08:20

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Jefferson Bernardes/VIPCOMM
Que brasileiros e alemães são dois povos completamente distintos, disso ninguém tem dúvida. Culturalmente somos bem diferentes. Hábitos, costumes e práticas nos distanciam dos germânicos. Até mesmo no futebol ou na forma como lidamos com o esporte ficam evidentes as nossas diferenças. Quando foi derrotada pelo Brasil na final da Copa do Mundo de 2002, a Alemanha não se iludiu por ter chegado à final. A Federação Alemã, ao invés de se vangloriar, iniciou um processo de reformulação no futebol do país. Ontem, um dia depois da maior humilhação da história da Seleção Brasileira, o técnico Luiz Felipe Scolari se recusou a assumir como fracassada a campanha nacional na Copa realizada em casa. O treinador se mostrou satisfeito por chegar entre “os quatro melhores do mundo”.

Ao enaltecer o fato de levar o Brasil, “pela primeira vez desde 2002”, à semifinal, Scolari não está apenas tentando iludir o torcedor brasileiro. O discurso dele é sinal inequívoco de como o futebol em nosso país padece de uma falência técnica em sua infraestrutura. Da base à mais alta cúpula do comando da CBF.

Soberba

Chegar à final da Copa de 2002 não fazia parte dos planos da Alemanha. A decisão contra o Brasil foi vista como algo fortuito, casual. E, por essa razão, a Federação Alemã se viu diante da necessidade de uma mudança estrutural em todo o seu de futebol. Não houve deslumbramento. Houve a humildade de se reconhecer o fim de um modo organizacional que havia dado três títulos mundiais, mas que precisava ser reformulado. Nem mesmo em 2006, no Mundial disputado em casa, a Alemanha se colocou como favorita. Afinal, aquela seria apenas a primeira competição a sério de uma geração. E, por isso, o terceiro lugar foi comemorado pelos teutônicos.

Situação que em nada se assemelha ao clima de oba-oba criado em torno da Seleção Brasileira em 2014. Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico, antes mesmo do torneio se iniciar, havia dito que o Brasil estava “com uma mão na taça”. Ao contrário da Alemanha, que encarava o torneio em 2006 como uma experiência, o Brasil, do alto de sua prepotência no futebol, colocou-se como o grande favorito ao título.

Scolari sabe que o Brasil tinha a obrigação de ser campeão em casa. Ao buscar um subterfúgio para o fracasso, entretanto, o treinador sinaliza que, ao contrário dos alemães, o futebol brasileiro dificilmente terá a humildade de recomeçar do zero.