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REFENO

Sem o atual tetracampeão, trimarã Patoruzú larga como favorito na 30ª edição da Refeno

Barco pernambucano é candidato ao Fita Azul, título dado ao campeão da Regata Recife-Fernando de Noronha, que terá a largada neste sábado

postado em 28/09/2018 21:00 / atualizado em 28/09/2018 21:21

Anderson Malagutti/DP
Um barco com raízes argentinas, mas com sotaque bem pernambucano, larga como o grande favorito a levar a Fita Azul da Refeno neste ano. Com a não participação do barco Camiranga, atual tetracampeão da regata, o Patoruzú é apontado como grande candidato ao título, já que é o atual vice-campeão, conquistado também em 2015. Seu maior concorrente, aliás, é outra embarcação de Pernambuco: o Jahú. A largada oficial da Regata Recife-Fernando de Noronha, que chega a sua 30ª edição, é neste sábado, a partir do meio-dia, no Marco Zero do Recife.

 

Capitão do Patoruzú neste ano, o advogado Higinio Luís Araújo Marinsalta, de 35 anos, não esconde o desejo de, finalmente, levar a Fita Azul após o vice no ano passado. “A gente não gosta de criar muita expectativa porque gera uma carga muito grande para o barco e uma responsabilidade maior. Mas nas últimas duas participações chegamos em segundo, só perdendo para Camiranga. E eles chegaram com uma vantagem razoável para a gente e a gente chegou com uma vantagem razoável para o terceiro. Então não há como negar que este ano a gente deve tirar a Fita Azul caso nosso planejamento ocorrer tudo certinho. Estamos nessa expectativa”, revela.
 
Com a estratégia e a tática já bem definida há pelo menos seis meses, o Patoruzú manterá praticamente a mesma equipe de 2017. Cada detalhe da regata foi minuciosamente explicado à reportagem por Carlito, skipper da embarcação. E cada minuto parece ser fundamental. “A largada é muito importante. Apesar de ser uma regata longa, se você perde um, dois ou três minutos na largada, pode fazer diferença no final”, detalha.
 
AeroRec/Cabanga/Divulgação
Sem o Camiranga, o Patoruzú entrou em um pequeno dilema. Pela vitória, a embarcação pretende abrir mão do seu próprio recorde. “Nossa meta é pessoal. No primeiro ano fizemos em 29 horas o percurso, depois, em pouco mais de 25 horas. Então nossa meta agora era de 20 ou 22 horas. Forçar o barco ao máximo. Mas até vir a notícia que o Camiranga não viria. A grande questão agora é forçar muito e quebrar o barco, o que pode acontecer, ou abrir mão do recorde pela vitória”, explicou Higinio. 

Sangue argentino
 
Apesar de fabricado no Cabanga Iate Clube, o Patoruzú tem sangue hermano. Seu idealizador é Higinio Luis Marinsalta, argentino radicado no Recife há 37 anos. Este ano a embarcação será capitaneada pelo seu filho Higinio Luis Augusto Marinsalta. Aliás, é ele quem contou a história do barco e da família.
  
Por gostar de praia e de mergulhar, o patriarca viu a dificuldade que era pagar e levar todo seu material de mergulho para Fernando de Noronha. “Então começou a cogitar a ideia de como ir à Noronha. Cogitou a ideia de um barco a motor, mas o custo com o combustível era caro. Então surgiu a ideia do barco a vela. Se juntou com um pessoal do Cabanga para fazer um barco. Começou com 12 pessoas, mas foi reduzindo e ficaram só três. Dessas, só o barco dele saiu. Ficou 13 anos fazendo o primeiro barco”, conta orgulhoso. 
 
Mas com as seguidas idas à Noronha e a ideia de melhorar o rendimento do antigo barco, veio a ideia de produzir o Patoruzú. “Meu pai achou um projetista de São Paulo e disse que queria ganhar do barco mais rápido de Pernambuco. Foi assim que surgiu o Patoruzú”.

Origem do nome
 
Patoruzú é o nome de um índio, personagem de um desenho animado na Argentina. E por que a semelhança? “Meu pai sempre foi muito esportista. Corria descalços, sem camisa e o pessoal dizia que era um índio correndo. E começaram a chamá-lo de Patoruzú. Então ele trouxe o nome para o barco, já que a história desse índio era de uma pessoa muito justa, muito coerente e forte. E essa fortaleza quis trazer para o barco”, conta o filho de Higinio.

As informações da Refeno

Número de participantes
61 embarcações

Velejadores
453

12 classes
Multicasco (Catamarã A, Catamarã B e Mocra) e monocasco (RGS A, RGS B, RGS C, RGS Geral, ORC, Aberta A, Aberta B, Bico-de-Proa e Aço)

Percurso 
545 Km (292 milhas náuticas)


30 anos da Refeno

Refeno/Divulgação
A maior competição oceânica do Brasil chega neste ano a sua 30ª edição. Criada em 1986, a Regata Recife-Fernando de Noronha entrou no calendário dos velejadores do Brasil e do mundo. Motivo de muito orgulho para o comodoro Delmiro Gouveia. “Será uma Refeno muito especial. É a única regata do Brasil de travessia oceânica e neste ano, na 30ª edição, foi incluída também no calendário oficial de eventos de Pernambuco. Ainda tivemos um aumento de 25% no número de inscritos comparado aos últimos anos e mostra a força da Refeno. Não à toa é a maior regata da América Latina”, conta.
 
A Refeno deste ano contará com 61 embarcações e 453 velejadores, aumento de 25% em relação às últimas quatro edições. Os competidores estão divididos em 12 classes. A expectativa é que o primeiro barco chegue à Noronha por volta do meio dia de domingo. O percurso da regata é de 292 milhas náuticas (545 quilômetros). 
 
Muito mais que uma regata, a Refeno movimenta a economia, setor hoteleiro e gastronômico de Fernando de Noronha. E também atrai até competidores de estados não costeiros. “A Refeno é o maior evento náutico do Brasil. Atinge diretamente todos os estados costeiros da federação e não costeiros, como é o caso do representante de Minas Gerais. É um evento completo que vai além da competição. Temos festival gastronômico, shows, confraternizações. São duas semanas intensas que movimentam o turismo e a economia tanto do Recife como de Fernando de Noronha. É o sonho para todo velejador participar da Refeno e quem veio uma vez, quer voltar sempre”, finaliza Delmiro.
 
Tsuey Ian Bizzocchi/Divulgacao