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Erros, acertos e o futuro no Sport: confira uma entrevista exclusiva com Eduardo Baptista

Técnico faz balanço do ano no Leão e também analisa desempenho de atletas

postado em 01/12/2014 08:12 / atualizado em 01/12/2014 15:12

Daniel Leal /Diario de Pernambuco

Julio Jacobina/DP/D.A Press
Em três meses à frente do Sport, o técnico Eduardo Baptista já era o protagonista do clube em 2014. Duas semanas depois de conquistar a Copa do Nordeste e um dia após levantar a taça do Campeonato Pernambucano sobre o Náutico, no final de abril, o treinador concedeu uma longa entrevista ao repórter Daniel Leal, do Superesportes, em sua casa. Falou do sucesso meteórico na nova carreira de treinador (antes, era o preparador físico) e das perspectivas para o restante da temporada: queria ainda o título da Copa Sul-Americana e fazer uma boa Série A. Sete meses depois, o treinador voltou a conversar com o mesmo repórter. O local da entrevista, desta vez foi o CT do Sport, após um dia de treinos para fazer um balanço do trabalho realizado até o momento e projetar o futuro. Dizendo-se mais maduro, afirmou que espera uma pressão maior em 2015. Falou ainda do possível estágio na Europa, sobre as divisões de base, a estruturação do clube, a “teimosia” (ou convicção?) na escalação de alguns atletas,  a renovação de contrato e a reformulação de parte do elenco. No discurso, a mesma empolgação de um principiante que deseja sair ganhando tudo o que vê pela frente.

O que mudou entre o Eduardo de hoje e aquele de sete meses atrás?
Amadureci demais. Este ano mudou a minha vida. Tinha um cargo de responsabilidade de comando da preparação física e acabei em um cargo bem acima, no comando de um grande clube, com uma torcida e uma imprensa exigente. Mudou meu comportamento. Eu era explosivo como preparador, tinha a cabeça quente. Já não podia ser mais assim. Tinha que me concentrar mais. E ter a minha convicção. Quando falo em ser convicto, as pessoas falam: ‘Ele acha que não erra’. O que eu faço pode até não dar certo, mas faço acreditando que vai dar. Não é que eu não erre. É que, às vezes, o que pensei pode não dar certo. Essa maturidade de suportar a pressão, estando, algumas vezes chateado, mal, mas chegar na frente dos atletas mostrando outra cara… Foi tudo novo para mim. Não posso passar essa pressão para eles (atletas). Tenho que ser um filtro, se virem em mim dúvidas, eu perco o comando. Minha conduta e  meu dia a dia mudou demais.

Você falou em convicção. Outros chamam de “teimosia”. O que você tem a falar às pessoas que te criticaram pela insistência em determinadas situações ao longo do ano?
Provou-se que, talvez, essa “teimosia” era o caminho. Talvez, se eu mudasse tudo o que eu pensava, aí sim, era melhor trocar de treinador. Aí sim, tinha que trocar o comando. Se eu fizesse algo que não acreditasse, eu não estaria motivado. Eu sabia que iria dar certo, sabia dos problemas que seriam brevemente solucionados, e continuei. Eu estou começando a carreira de treinador agora. Jamais vou me guiar por imprensa, jamais por torcida, tenho que me guiar pelas minhas convicções. Se elas não trouxerem resultados e eu acabar saindo, vou sair pelas minhas convicções.

Como foi o período dos oito jogos sem vencer na Série A?
Foi um momento difícil, de pressão, mas tive muito o suporte. Primeiro em casa, da família. Depois, dos meus companheiros, dos jogadores e, principalmente, do Arnaldo Barros (vice de futebol). Lógico que tem o presidente, mas esse cara foi o pivô de tudo. Ele está presente em todas as preleções, acompanha tudo. Ele via que estávamos no caminho certo. E eu acreditava que estava, pois alguns problemas seriam resolvidos e a coisa iria andar. Graças à convicção dele e à minha certeza que as coisas melhoraram. Acho que a virada se deve muito a minha perseverança e a ele acreditar em mim e a toda comissão.

Fala-se da possibilidade de você ir fazer um estágio na Europa.
A diretoria está trabalhando nisso, sim. Ficou um pouco atrapalhado pelo fim de ano tumultuado, mas a Adidas (fornecedora de material esportivo do Sport) e o departamento de  marketing do clube estão vendo para eu não ir só para ver treinamentos. Gostaria de ir para conversar com profissionais dos times, estar presente nos trabalhos e ver como funciona. Se não for assim, espero outra oportunidade.

Como anda a sua renovação de contrato?
Bem encaminhada. As bases estão conversadas. Só falta assinar mesmo. Um detalhe ou outro, nada que possa dificultar.

Uma temporada tão boa deve ter despertado o interesse de outros clubes, certo?
Sim, chegaram especulações. Sempre coloquei o Sport em primeiro lugar. Tem eleição vindo e vamos esperar a definição. Caso não renovasse aqui, escutaria outras propostas. Não chegou nada concreto porque também não deixei chegar.

No começo do ano você disse que o que poderia te tirar do Sport seria somente o Sport. Em 2015 será assim novamente?

Meu primeiro plano é ficar o ano inteiro. Tenho a intenção de ficar mais um ano. Tenho o desejo de trabalhar muito para ser campeão pernambucano e da Copa do Nordeste. Quero fazer um Brasileiro ainda mais forte, com o time mais organizado em termos de elenco. A ideia é ficar mais um ano, isso se o Sport quiser. Trabalho há cinco anos no clube e sei a dificuldade que é ficar um ano inteiro

Teresa Maia/DP/D.A. Press

O último que consegui isso foi...
Nelsinho Baptista, meu pai. Se eu passei um ano é porque algo de bom eu fiz. E se ficar mais um ano será maravilhoso.

Você entende que, por não ser mais um “principiante”, a pressão aumentará?
Ano que vem deixo de ser uma promessa, a visão já é mais crítica. Você percebe pelo que aconteceu há pouco. Os resultados ruins vieram e deixei de ser, como no início era, unanimidade. Já entro o ano de forma muito diferente quando comecei. Só que meu elenco já entra mais fortalecido do que neste ano. Não que  as coisas sejam mais fáceis, serão mais claras para conduzir. Não há tantas contratações a fazer. Não há pressa. Teoricamente, é um ano que começará melhor.

Paulo Paiva/DP/D.A Press

E quais as suas pretensões para 2015?
É um desejo meu de ganhar o Pernambucano de novo, fazer o Sport bicampeão após um longo tempo. E Copa do Nordeste também. Vai ser o ano mais difícil da Copa do Nordeste. Todos os times da Série B estarão presentes, além de Vitória e Bahia, que, na Série A ou B, são muito fortes. Infelizmente, não vai ter o Santa Cruz, mas teremos no mínimo oito clubes com estrutura de Série B. Se puder ganhar, será um prazer imenso. Esperamos também nos classificarmos para a Copa Sul-Americana. Fiquei triste em não ter ido mais além este ano, mas pensamos em ganhá-la. E fazer um bom Brasileiro.

O que é um “bom Brasileiro”?
“Bom” é onde estamos agora: 10º lugar, com possibilidade de chegar mais na frente. Acho que tivemos alguns problemas que podem ser evitados no ano que vem. A tendência é chegar um pouco mais além.

Julio Jacobina/DP/D.A Press

Quantas contratações o Sport deve fazer para começar 2015?
Sete ou oito para começar bem o Pernambucano. Temos um elenco fortalecido. Alguns responderam bem e estão em conversação para continuar. Quando subimos para a Série A, no jogo contra o Boa Esporte (em 2013), nosso time tinha Magrão, Rithely, Patric e Neto Baiano. São quatro somente. Neste ano temos Magrão, Patric, Durval, Páscoa, Renê, Mancha, Rithely, Régis, Joelinton, Felipe Azevedo... Todos têm contrato para 2015. É diferente começar o ano assim. As coisas tendem a ser mais simples.

Com você, as divisões de base do Sport passaram a ganhar destaque. Qual a importância desse setor para o futebol rubro-negro?
Um time como o Sport, que não tem o poderio financeiro de um Corinthians ou um Cruzeiro, tem que ter 30% a 40% do elenco vindo da base. Trabalhei cinco anos aqui e só vi Ciro jogar uma Série A. É um dever meu melhorar isso. Se os meninos vão vingar, não sei. Mas é um dever trabalhá-los. Um dos objetivos de vir para o CT (antes, o Leão costumava treinar bastante na Ilha) é observá-los. Aqui eu estou vendo o juvenil, o sub-20... É daí que pescamos James, Joelinton, que estava na base quando no treino fez dois gols no trabalho do dia... Tem que estar próximo. Não posso estar na Ilha e a base aqui, afastada de mim.

E o Sport dá a estrutura necessária?
Total estrutura. Há, na verdade, alguns pontos a serem colocados. Vou cobrar da diretoria, você (repórter) pode colocar aí: temos que acabar o hotel para que a base possa ficar aqui. O pulo que falta para revelar mais atletas é a base vir morar aqui. Trouxemos o grupo para o CT, já foi bom. Revelamos meninos, mas o pulo do gato é os meninos virem para cá. A responsabilidade de Joelinton, Renê, Ronaldo é abrir caminho para outros meninos virem. Eles me dão munição para eu pegar mais dois, três jogadores de lá (da base) e botar para jogar. A responsabilidade é deles também.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Você acredita que Joelinton pode estourar de vez em 2015?
Vejo que ele tem uma grande chance. É um menino sério, muito bem orientado. O principal disso tudo, para esses meninos, é o extracampo. A gente fica muito pouco tempo com eles aqui. As pessoas que os rodeiam são muito responsáveis. Joelinton tem uma família simples, mas bem estruturada, pessoas idôneas por trás. Ele tem tudo para despontar. Tem alguns pontos que precisam ser trabalhados, algumas coisas que precisam evoluir. Ele só tem 18 anos, não podemos esquecer isso, mas tem tudo para ser uma grande revelação.

Quais outros meninos da base podem surgir como revelação em 2015?
O nome da minha grande aposta, a cereja do bolo de todos esses, é o Neto Alagoano. Ele é a minha promessa. É um menino que tem um percentual acerto que pouco se vê. Não erra passe, joga de meia, volante, e estamos trabalhando a parte física para que ele possa jogar. Tem também o James, que tem um poder de finalização como poucos. Dentro da área consegue enxergar só como os atacantes goleadores conseguem. Mas eles têm que ser trabalhados. E o fator extracampo é muito importante. Esses meninos têm que ter uma família sólida, uma pessoa, um empresário ou alguém sólido ao lado. Alguém que não se empolgue, para que esses menino decolem. São apostas.

A Taça São Paulo de Juniores ganhará atenção especial?
Conversei para que levem Neto Alagoano, James e Horácyo, que é um volante moderno, que marca duro e chega bem para finalizar. Muita coisa está acontecendo. Eles vão a pedido meu. Não mando em nada, mas pedi para que eles fossem. A ideia é que Daniel (Paulista, auxiliar-técnico) fique na taça observando. Muitas vezes, quando a base está jogando aqui Daniel vai observá-los. É até bom ressaltar a importância dos auxiliares. Pedro Gama e Daniel são duas pessoas fundamentais em todo o nosso trabalho. Sem eles, nada disso estaria andando como está.

O departamento médico e o físico viveram uma temporada difícil, com muitos jogadores indo e voltando. Acabaram alvo de críticas. Há alguma possibilidade de reformulação nesses setores para 2015?
A gente acabou pegando muitos jogadores machucados ao mesmo tempo, esse foi o problema. Mas fizemos uma restruturação sem tirar ninguém. Eu, juntamente com Stemberg (Vasconcelos, diretor-médico), um que é um cara da minha confiança. Pegamos o clube em um momento difícil e restruturamos. Fizemos as mudanças necessárias, resolvemos dentro do vestiário. E as coisas começaram a andar.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Neste ano, houve uma mescla de jogos entre a Arena Pernambuco e a Ilha do Retiro. Qual a sua visão disso, é positivo ou negativo?
Do jeito que foi feito no Brasileiro foi interessante, balanceou. É importante jogar numa arena, que nos dá condição de ter um time mais técnico. O jogo fica mais rápido. Acho que 80%, a maioria dos jogos na Série A, hoje são em arenas. Temos que nos acostumar. Além do conforto para a torcida, há conforto para a gente trabalhar nos vestiários. E se mandassem eu destacar três arenas pelo Brasil, diria que a Arena Pernambuco estaria entre as três mais estruturadas e bonitas, boas de trabalhar, e não podemos desprezar isso. Mas não podemos desprezar a Ilha também. É a nossa casa, uma referência. O pessoal do sul não gosta de jogar na Ilha. No início, até se sentiram aliviados em não ter que jogar lá, mas se deram mal também na Arena. Mas acho que tem que ter um balanço até que a demolição da Ilha aconteça. Tem que ter esse equilíbrio.

Acha que o Sport mandaria uma decisão na Arena PE?
Fomos campeões pernambucanos na Arena, neste ano, mas era contra o Náutico, algo mais regional. Se tivesse uma decisão de Copa Sul-Americana, eu ficaria com a mística da Ilha do Retiro, como foi na Copa do Nordeste.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Voltando a falar sobre o time. Quando a torcida começou a pegar no seu pé, falando em teimosia, estavam em pauta Érico Júnior e Zé Mário. Gostaria que comentasse sobre esses atletas.
Érico é um menino. Desde o ano passado, tinha na minha visão as qualidades dele para uma determinada função. Quando assumi, ele entrou e foi importante. Me ajudou sempre que entrou, lógico que não 100%, pois é menino. Mas, na maioria das partidas, ele fez o que era pedido. Infelizmente se machucou. Ele seria bem importante nesta reta final quando ficamos sem atacantes. Inclusive, já cobrei da preparação física e da fisiologia para ele se lesionar menos. Érico já está passando por um período de fortalecimento, ele é da casa e conto com ele mais inteiro para dar mais sequência.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

E Zé Mário? Ele tem contrato ainda até maio de 2015, fica?
Acredito muito nele. Foi destaque do estadual pelo Náutico, mas perdeu espaço. Ele não passou um bom momento, a cobrança sobre ele foi dura. Zé mostrou um futebol no Náutico e não conseguiu render aqui, não sei se por esquema ou o que aconteceu. É um atleta que a gente confia, tem contrato e vamos observar mais um pouco.

Para concluir: e Neto Baiano, fica?
Ele fez um primeiro semestre muito bom, me ajudou demais. No segundo, não conseguiu encontrar a maneira de jogar para o Brasileiro. Mudamos um pouco e ele não conseguiu ser o mesmo. Em vários momentos tentei encaixar, mudar, ajudar, mas é aquela coisa: um artilheiro vive de gols e as bolas dele pararam de entrar. Mas não por falta de empenho dele. Ele brigou e, mesmo sem fazer gols, ajudava bastante. Depois, outros atletas foram passando e, agora, nesta reta final, ele iria ter uma nova chance, mas se lesionou. Aí apareceu Joelinton que tomou conta.

Mas você conta com ele para 2015?
Neto é um cara que a gente ainda vai ter uma conversa. Vamos esperar a diretoria definir.