Sport

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'Os cacos do Sport'

Colunista do Superesportes fala sobre a crise no time rubro-negro

postado em 25/09/2018 11:25

Paulo Paiva/DP
As últimas 24 horas do Sport trouxeram uma sequência de fatos que agravaram a crise do clube. Por mais absurdo que pareça, a frase “não pode mais ficar pior” não pode ser aplicada ao rubro-negro. Pode e fica pior a cada dia. O desgaste interno está ramificado e segue corrosivo, profundo. Restam cacos do clube de dois anos atrás. Um dano que implodiu 2018 e certamente comprometerá 2019. Como definiu a equipe de economistas do Itaú/BBA, o Sport “hipotecou seu futuro”. A gestão de Arnaldo Barros foi desastrosa em basicamente todas as áreas e termina no mais sombrio fundo do poço. Mesmo com mais de R$ 210 milhões de receita no biênio, não consegue pagar sequer os estagiários em dia. Os jogadores, neste momento, estão com dois meses de salários e direitos de imagem abertos. Tudo o que havia sido construído por seus antecessores virou pó. Com o futuro desolador e sem perspectivas - até porque o rebaixamento tende a vir justamente no ano em que não haverá garantia de supercota de TV para os clubes que tinham contratos fixos com a Globo - restou o ato de desespero de tentar mudar o presente. O ato final. 

A saída de Eduardo

Um desolado Eduardo Baptista decidiu entregar seu cargo no fim da manhã de ontem - iniciando a avalanche de mudanças que varreria o clube. O trabalho do técnico, em uma análise fria, não encaixou. Apenas uma vitória (sobre o Paraná) e um empate (Cruzeiro) em oito partidas. Ainda assim, os pontos vieram em jogos marcados por erros da arbitragem em favor do Sport, bolas na trave e até um pênalti defendido por Magrão nos minutos finais. Por mais que viesse em queda de rendimento profunda, é um fato que Eduardo assumiu o time fora da zona de rebaixamento e deixou na penúltima posição. Afundado a quatro pontos do 16º. Mas, por trás dos números terríveis, existe uma clara evolução tática, um time mais coeso, competitivo. Desde a derrota para o Bahia, em Salvador, surgiram sinais de que algo poderia mudar. No entanto, a mudança gradual neste momento não é suficiente para o objetivo de evitar o rebaixamento. Até porque falta força ofensiva para o time extrair algo de concreto da sua evolução tática. Assim, a ausência de vitórias minou a estabilidade de Baptista. E, consequentemente, enfraqueceu seu posicionamento. Ontem foi informado que deveria recolocar Felipe e Michel Bastos no grupo para os próximos jogos. Dois jogadores que chegaram ser comunicados das suas saídas do clube e só permaneceram por falta de dinheiro para pagar as multas. A conta sobrou para Eduardo duas vezes. Primeiro para afastar. Depois para reintegrar. Corretamente, o treinador preferiu colocar um ponto final.

A saída de Beltrão

Foi Guilherme Beltrão que chamou para si a responsabilidade pelo afastamento de Michel e Felipe Bastos. Jogadores de fraco desempenho e comportamento questionável - inclusive dentro dos jogos. As últimas atuações dos dois foram críticas. Erros de passe, descomprometimento com a marcação, finalizações grotescas. Internamente, outros problemas graves de postura. Reclamações em alto e bom som contra técnicos e dirigentes, inconformidade com a reserva e vídeos ironizando decisões da diretoria. Difícil acreditar que mudarão da noite para o dia, da água para o vinho. Depois da derrota para o Bahia, o então vice-presidente de futebol comunicou o afastamento dos dois. Porém o fez antes de consultar os detalhes contratuais e precisou engolir à seco a permanência de ambos. Eduardo, entretanto, vinha seguindo a linha de não utilizá-los nos jogos, ainda que tivesse voltado a dar espaço nos treinos. Talvez esperasse uma mudança efetiva de postura para voltar a utilizá-los gradualmente - sobretudo Michel que, tecnicamente, ainda poderia ter uma vaga no time titular. Porém, a ordem vinda da presidência para acelerar a escalação dos dois já tinha seus alvos definidos. Primeiro, Eduardo (que Arnaldo resistiu em contratar). Depois, Guilherme Beltrão. E, com ele, toda a direção de futebol montada depois do fiasco na Copa do Brasil.

Os substitutos

Há outro motivo para a saída de Beltrão: O técnico Milton Mendes. O presidente Arnaldo Barros e o vice Gustavo Dubeux há algum tempo flertam com o controverso treinador - que vive se oferecendo para assumir o time. Colocaram na mesa seu nome para substituir Claudinei. Beltrão resistiu na defesa de Eduardo. Ou seja, fica claro que toda a sequência de fatos da segunda-feira já tinha um roteiro pronto. Tudo aconteceu dentro do previsto. Mas repito o que disse lá em cima: “A frase “não pode mais ficar pior” não pode ser aplicada ao rubro-negro”. Ao invés de dar o “tiro final” e jogar as últimas fichas com Milton Mendes (cujo histórico é justamente o de conseguir resultados imediatos e depois destruir o ambiente), Arnaldo Barros decidiu ainda nomear um novo vice de futebol - Laércio Guerra - e ainda recolocar Aluísio Maluf na direção. Dois escudeiros fiéis do presidente. Os últimos, talvez. E apenas isso justifica os dois retornos. Laércio atuou na comunicação e no marketing no início da gestão e vinha sendo especulado como possível candidato da situação à presidência. O que talvez traga outra explicação para sua escolha. Uma eventual campanha de reação nos últimos 12 jogos poderia valorizar seu nome para a disputa que caminha naturalmente para as mãos da oposição. É mais um “all in” dentro do clube. Até porque se o mais lógico prevalecer e o Sport for rebaixado, Laércio deixará de vez de ser considerado uma alternativa viável na eleição.