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JOGOS INESQUECÍVEIS

Com invasão da torcida rubro-negra no Chile, Sport larga com vitória na Libertadores de 2009

Terceira reportagem especial sobre jogos históricos traz a vitória do Leão contra o Colo-Colo, fora de casa, em partida marcada por presença massiva da torcida do Sport

postado em 16/05/2020 09:17 / atualizado em 18/05/2020 16:06

(Foto: Diario de Pernambuco)
Um jogo superlativo. Disputado pela maior competição de clubes do continente. Com a maior invasão de uma torcida estrangeira no Chile. E que impôs ao Colo Colo, maior campeão chileno, a primeira derrota em casa para um clube brasileiro na Copa Libertadores. Com direito ainda a maior defesa do maior goleiro do Sport de todos os tempos. Lá se vão 11 anos. Mas para um feito desse tamanho, o tempo não passa. Para o torcedor rubro-negro que viveu aquele 18 de fevereiro de 2009, seja no estádio David Arellano, em Santiago, ou no Recife, parece que foi ontem que seus olhos viram a história acontecer. O Leão rugir para toda a América escutar.
 
Mas antes de aterrissar na capital chilena para a estreia do Sport naquela Libertadores, é preciso voltar ainda mais um pouco no tempo. Isso porque a classificação do clube para a competição continental, 21 anos após a sua primeira participação, se deu após um outro momento histórico. A conquista da Copa do Brasil na temporada anterior, derrotando gigantes como Palmeiras, Internacional, Vasco e Corinthians pelo caminho. 
 
Para a desbravar a América, a diretoria conseguiu manter campeões importantes, como os ídolos Magrão e Durval, além do técnico Nelsinho Baptista, realizou alguns investimentos altos, como a contratação do meia Paulo Baier e a “repatriação” do também meia Fumagalli e ainda contava com uma joia revelada em casa: o atacante Ciro. 
 
Porém a história não se faz sem superação. E os percalços daquela Libertadores começaram ainda no sorteio dos grupos. Apesar de campeão nacional, o Sport acabou não sendo cabeça de chave, com a Conmebol previamente colocando o time pernambucano ao lado da então atual campeã LDU, do Equador. Aos dois se somaram Palmeiras e Colo Colo, no chamado “grupo da morte” daquela edição.
 
 

O jogo
Pelo direcionamento da tabela, a estreia seria contra o time chileno, no estádio David Arellano, com capacidade para 47 mil pessoas e onde o campeão da Libertadores de 1991, nunca havia perdido para brasileiros pelo torneio. Até aquele 18 de fevereiro dourado. Cor da camisa que o Sport entrou em campo e que foi confeccionada justamente para a disputa da competição. 
 
Diante de tanta tradição, havia o temor natural do Sport sentir a pressão. Mas desde os primeiros minutos, parecia que os rubro-negros estavam na Ilha do Retiro. Tanto dentro de campo, quanto nas arquibancadas, com o apoio de 1.800 pernambucanos, na maior presença de uma torcida estrangeira no Chile. Superando em muito o antigo recorde, que pertencia à fanática “hinchada” do Boca Juniors, com 800 seguidores. 
 
 
 
À vontade, o Leão tomou logo as rédeas do confronto. E abriu o placar aos seis minutos, com o prata da casa Ciro, que havia subido aos profissionais há menos de um ano. Aos 19 anos, teve maturidade de um experiente ao tocar na saída do goleiro Muñoz. À frente do marcador, foi a vez do forte sistema defensivo com três zagueiros (César, Durval e Igor) mostrar serviço, parando o astro paraguaio Lucas Barrios, principal nome do Colo Colo e que se transferiria para o Borussia Dortmund após aquela Libertadores.
 
Após suportar a pressão dos donos da casa, o Leão voltou a ser fatal aos 42 minutos. E novamente com participação de Ciro. O garoto de Salgueiro arrancou pela direita e deu uma assistência deixando o parceiro de ataque Wilson livre para tocar fora do alcance do goleiro. Bastaram 45 minutos para o Sport se apresentar para o continente. Mas ainda havia todo um segundo tempo para ser jogado. Um drama para ser vivido. E um milagre para ser eternizado.
 
Quando o Colo Colo já havia diminuído o placar aos 25 minutos, com Lucas Barrios, e os donos da casa pressionavam pelo empate, Magrão fez aquela que ele próprio atribui como a sua maior defesa em 15 anos de Sport. Ao voar para desviar, com a ponta dos dedos e no ângulo esquerdo, um chute de fora da área violento de Carranza, o goleiro garantiu o triunfo histórico e começava a se eternizar no imaginário rubro-negro. 
 
Aquela vitória foi o cartão de visitas de um Sport que encerraria a primeira fase como líder do “grupo da morte”. A participação na Libertadores acabaria nas oitavas de final, eliminado nos pênaltis, pelo mesmo Palmeiras que havia enfrentado na primeira fase. Mas aquele 18 de fevereiro de 2009 segue vivo na memória de todo rubro-negro. Um jogo que será lembrado com orgulho por muitos e muitos anos. Superlativo.

Ficha técnica

Colo Colo 1 
Muñoz; Riquelme, Mena, Jará (Opazo) e Salcedo; Millar, Sanhueza, Meléndez (Carranza) e Macnelly Torres (Cortes); Barrios e Moya. Técnico: Marcelo Barticciotto

Sport 2
Magrão; Igor, César, Durval; Moacir, Hamilton, Andrade, Paulo Baier (Fumagalli), Dutra; Ciro (Weldon)  e Wilson (Sandro Goiano). Técnico: Nelsinho Baptista.

Local: Estádio David Arellano, Santiago (CHI)
Data: 18/02/2009. 
Árbitro: Saúl Laverni (Argentina) 
Assistentes: Gustavo Esquivel e Ricardo Casas (Argentina)
Gols: Ciro, aos 6m, e Wilson, aos 42m do 1º tempo; Lucas Barrios, aos 25m do 2º tempo.
Cartões amarelos: Hamilton, Igor e César (Sport) e Carranza, Jara (Colo-Colo)
 
(Foto: Diario de Pernambuco)
 

Na memória dos torcedores e do Diario 

Os jogos contra Alianza e Universitario - em Lima, no Peru -, eram verdadeiros fragmentos da história do Sport para a minha geração. O vídeo com uma imagem escura e tremida de uma bela cobrança de falta de Betão no estádio Alejandro Villanueva, com a rede coberta por rolos de papel higiênico, tornou-se a principal referência da história internacional do clube. A única vitória fora do país em um jogo oficial. Um feito já muito distante em 2009. Uma longa “noite” de 21 anos longe da Libertadores. Entre 1988 e 2009, o retorno à maior competição do continente era um sonho difícil de trazer para a realidade. As vagas para as edições de 1990 e 2001 ficaram por um jogo. Até que a Copa do Brasil de 2008 materializou tudo o que habitava na imaginação dos rubro-negros.
  
Caminhar pelas ruas de Santiago na semana antes da reestreia do Sport na Libertadores era como um passeio pelo Recife no dia seguinte de uma vitória importante. As camisas rubro-negras (e douradas) se multiplicavam. O tradicional Mercado Central transformou-se no epicentro da invasão. A cada três minutos ecoava o “cazá,cazá”. Em dois dias, os garçons já sabiam de cor.
 
Longe dali, no silêncio do CT da Universidad Católica, o time se preparava para um jogo que entraria para a história. Parecia a primeira partida pós-final da Copa do Brasil. É como se todo o resto de 2008 e os primeiros momentos de 2009 não tivessem existido. O grau de confiança e concentração remetia aos grandes momentos da conquista nacional. Jogos assim só se vencem com esses dois elementos perto do máximo. 
 
No dia do jogo, os mais de 1.800 pernambucanos em Santiago tiveram uma enorme surpresa ao saírem dos quartos de hotel. O Diario de Pernambuco - em uma operação histórica - rodou 5 mil exemplares em Santiago. O conteúdo foi produzido em quase uma semana de trabalho no Chile - da chegada do Sport no aeroporto aos jogos do Colo Colo no campeonato local. O Diario foi distribuído em todos os hotéis da Santiago, no Mercado (claro) e na entrada do David Arellano momentos antes do jogo. Ali terminava o trabalho. E começava a história.

Curiosidades

Destaque daquela partida com um gol e uma assistência, Ciro comprovava a sua estrela em estreias. No ano anterior, fez o seu primeiro jogo profissional contra o Ipatinga, na Ilha do Retiro, pelo Campeonato Brasileiro, e a após ser acionado no segundo tempo sofreu um pênalti e marcou um dos gols na vitória por 3 a 1. Já em 2009, em seu primeiro clássico, marcou o gol de empate por 1 a 1 com o Santa Cruz, no Arruda. 

Líder do seu grupo e eliminado nas oitavas pelo Palmeiras, o Sport terminou a Libertadores de 2009 na 11º colocação (entre 38 times), com oito vitórias, cinco empates e apenas uma derrota, a frente de clubes tradicionais no continente, como a Universidad de Chile, que mesmo jogando uma fase a mais acabou em 12º e River Plate (eliminado na primeira fase). O Leão também terminou com o mesmo número de pontos do Boca Juniors (16), mas o clube argentino finalizou na 9ª posição por ter saldo de gols melhor. O campeão daquela edição foi o Estudiantes, que derrotou o Cruzeiro na final.

Oficialmente, a vitória sobre o Colo Colo foi apenas a segunda do Sport contra um time estrangeiro, fora de casa, por uma competição oficial. A primeira havia sido sobre o Alianza Lima (1x0), pela Libertadores de 1988. E voltar para o Recife com três pontos na bagagem, além das fronteiras nacionais, de fato é algo raro. A última foi diante da LDU (3 a 2) também na Libertadores de 2009. No mais, o Leão soma cinco derrotas e um empate fora do Brasil em partidas pela Libertadores e Copa Sul-Americana.

Sport contra times sul-americanos

Vitórias

Alianza Lima-PER 0x1 Sport (Libertadores de 1988)
Colo Colo-CHI 1x2 Sport (Libertadores de 2009)
LDU-EQU 2x3 Sport (Libertadores de 2009)

Empate

Junior Barranquilla-COL 0x0 Sport (Sul-Americana 2017)

Derrotas

Universitário-PER 1x0 Sport (Libertadores de 1988)
Libertad-PAR 2x0 Sport (Sul-Americana de 2013)
Huracan-ARG 3x0 Sport (Sul-Americana de 2015)
Danubio-URU 3x0 Sport (Sul-Americana 2017)
Arsenal-ARG 2x1 Sport (Sul-Americana 2017)