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LANÇAMENTO DE MARTELO

O guri da Beira do Rio: Curió superou realidade difícil para virar referência na comunidade

Houve momentos em que o atleta não tinha sequer tênis para treinar

Teresa Maia/DP/D.A Press
Quando nasceu o rebento de Maria do Socorro da Silva e Amaro Benedito, ainda não era o momento. Nasceu prematuro, aos 7 meses, pesando apenas 1 quilo e 700 gramas. Já tinha um nome escolhido: Thiago Benedito da Silva. Após passar quatro dias na maternidade, o menino foi para casa. Um espaço simples e apertado, na comunidade Beira do Rio, em Boa Viagem. Onde passou os 22 anos da sua vida, desviando das armadilhas da violência, prometendo à família que um dia chegava lá, até o seu sonho, que venceria na vida. Através do esporte.

O “lá”, de Thiago, é a participação numa Olimpíada. Um desejo ainda distante. O resto da promessa, ele já cumpriu. Thiago já venceu na vida. Esse é, aliás, o maior presente que Maria do Socorro e Amaro Benedito poderiam esperar do garoto numa realidade hostil. Uma exceção repetitiva, mas que, por ainda ser exceção, merece sempre destaque. Muitos amigos de infância de Thiago foram atraídos pela criminalidade. Alguns perderam a vida. Ele não.

O caminho escolhido por Thiago foi outro. E teve, num encontro casual, a motivação e recompensa para seguir firme na trajetória. Curió, como já era conhecido o garoto - apelido herdado do pai -, descobriu uma paixão através de um buraco num muro. Da fresta, na parede que dava acesso ao Complexo Esportivo Santos Dumont, onde costumava ir para jogar futebol e basquete, via uma bola de ferro sendo arremessada por alguém e voar por alguns metros até cair no chão. Observou aquilo por alguns dias até ser notado. A curiosidade desaguaria num convite.

O início
Thiago tinha 12 anos quando, em 2004, recebeu o convite do técnico Daniel Gonçalves para lançar a esfera. De cara, mostrou intimidade com a prova. E ganhou um incentivo a mais para insistir no esporte. Boa parte das bolas que via passar voando pelo céu, no auge da curiosidade, eram lançadas por quem, agora, estava ao seu lado. O pernambucano Wagner Domingos, atual recordista brasileiro do lançamento do martelo e representante do Brasil na Olimpíada de Pequim, treinava no Santos Dumont à época. Imediatamente, tornou-se um ídolo para Curió.

Uma referência necessária. É mais um capítulo repetido na história dos atletas brasileiros: a dificuldade para seguir a carreira no esporte. Houve momentos em que Thiago não tinha sequer tênis para treinar. A família, no entanto, percebeu a importância daquilo para o garoto. Era algo diário. Quando a mãe olhava para o lado, o garoto não estava. Mas ela sabia o destino.

“Quando a gente procurava por ele, já sabíamos que estava no Santos Dumont. O pai dele pegava a bicicleta e ia atrás dele. Mas era melhor saber que ele não estava na rua, fazendo coisas erradas. Por isso, que mesmo com meu marido desempegrado e a gente com contas atrasadas que fazia um esforço para comprar o sapato que ele precisa para competir. Pedia o cartão de crédito emprestado dos porteiros, onde trabalho”, relembrou Socorro, doméstica desde os 18 anos.

O meio
Hoje com 1,76m de altura e pesando 125 quilos, sabe que está no meio do seu voo. Tem, inegavelmente, um talento natural para o lançamento de martelo. Talvez seja necessário um pouco mais de disciplina. Com certeza, mais investimento. O resto, ele já tem. Inclusive a inspiração. “Estou tentando ser igual a ele (Wagner Domingos). Aqui, em Pernambuco, é difícil ter uma vida regrada de atleta profissional, como ele tem em São Paulo. A estrutura é bem diferente”, destacou ele, que será o representante do país no Sul-Americano de atletismo sub-23, em outubro, em Montevidéu, no Uruguai.

Extrovertido, Thiago sonha em chegar numa olimpíada. Chegar estampado, como manchete, retrato. Como campeão, orgulho no esporte. Pela segunda vez. A primeira, ele já conseguiu, aqui. Neste domingo. Campeão, orgulho na vida.

Pai aos 18 anos
Cinco anos após consolidar a carreira e estampar seu nome no topo do ranking nacional de categoria, Curió passou a administrar as provas com as paqueras. Fazia o tipo de não poder ver um rabo de saia, que ia atrás. Em 2009, aquietou-se. O namoro com também lançadora de martelo Lilian acabou virando casamento (com quatro anos de duração) e dando ao pernambucano seu primeiro filho. Pedro, hoje com 3 anos, mora com a mãe no Rio Grande do Sul. Ele voltou à solteirice, mas não por muito tempo. Agora, mora junto com a manicure Josilene Cristina, de 29 anos. O casal acaba de completar um ano de relacionamento.

Ficha
Thiago Benedito da Silva
Data de Nascimento: 04/05/1992
Idade: 22 anos
Clube: Sport

1º lugar no ranking nacional
Melhor marca:
60,61 metros
Técnico: Daniel Gonçalves

TÍTULOS
Campeão Menor 2009
Campeão Juvenil 2010/2011
Líder do ranking nacional e Interclubes 2010/2011

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