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Coluna de Fred Figueiroa: a dura realidade para o Brasil

Apesar de flertes recentes em alguns setores da política do País, colunista do Diario analisa como distante o retorno do futebol brasileiro

postado em 16/05/2020 13:25

(Foto: Léo Malafaia/ Esp/ DP)
A assustadora curva de crescimento do número de casos e mortes confirmadas causadas pela Covd-19 no Brasil e o aumento das medidas restritivas nos estados bloquearam os primeiros movimentos em torno da retomada do futebol no país. Em alguns setores da política (a partir de uma declaração inócua do presidente Jair Bolsonaro) e do próprio futebol começavam a surgir narrativas para tentar seguir o fluxo conduzido por Coreia do Sul e Alemanha. Foi justamente o tema da minha análise na semana passada: “Cada um no seu quadrado. Cada um na sua realidade. Cada um no seu tempo”. Todos os números já deixavam claro que o cenário desses dois países é completamente diferente do nosso.

A partir do próprio ciclo da disseminação do vírus - com mais de 100 dias da primeira morte na Ásia e na Europa. No Brasil, estamos 40 dias atrás. E este é dado menos relevante de um abismo que inclui a precariedade estrutural, a subnotificação, a desinformação e o desalinhamento político entre o governo federal e os estados. O presente na Alemanha é, na melhor das hipóteses, o nosso futuro. Ainda distante.

Não se pode pensar em futebol ou em qualquer ação de flexibilização das medidas restritivas de isolamento social quando a curva de mortes segue ascendente. Escrevi isso quando morriam 400 pessoas por dia. Escrevi quando morriam 700. Agora escrevo quando morrem 900. Semana que vem serão de mais 1.000 brasileiras e brasileiros morrendo todos os dias vítimas de um mesmo vírus que segue se espalhando com velocidade e alcance completamente fora do controle. Não se pode, por hipótese alguma, normalizar (ou desumanizar) esses números. Muito menos alimentar qualquer tipo de pressão para retomar atividades que estão paralisadas para evitar um aumento da disseminação da doença.

Claro que a paralisação gera um prejuízo financeiro enorme em todas as áreas, esferas e níveis. O futebol não pode ser uma bolha. E não é. Pelo contrário. Neste momento, não existe outra alternativa para os gestores dos clubes que não seja trabalhar em um cenário de danos significativos, procurando alternativas dentro de uma projeção realista/pessimista de retorno do futebol. O mundo inteiro começa a experimentar ações de marketing para estabelecer um novo elo e uma nova relação de serviço/consumo com os torcedores.

Na Alemanha, o Borussia Monchengladbach vendeu espaços no estádio para colocar “manequins” dos seus fãs durante as partidas e já estuda uma possibilidade de transmissão por realidade aumentada; na Dinamarca, o Midtjylland planeja telões para um “drive-in” no estacionamento do estádio. Aqui, por enquanto, os clubes vendem ingressos para jogos imaginários ou para transmissões de partidas antigas na TV ou Youtube. Ações interessantes que conseguem resultados financeiros razoáveis mesmo com uma grave crise financeira no país, que diminui o poder de consumo da torcida.

O dinheiro arrecadado com essas ações, claro, não são suficientes para conter o prejuízo. Nem perto disso. Funcionam para urgências administrativas, como o pagamento dos salários de parte dos funcionários. Nesta semana, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani expôs a gravidade da situação do seu clube - que serve de norte para entender o cenário dos demais. A média de arrecadação mensal do Bahia, em 2019, foi de R$ 14 milhões. A projeção para este ano era, naturalmente, acima deste valor. Mas, em abril, o Tricolor teve uma receita abaixo de R$ 2,5 milhões. O orçamento “conservador” de R$ 190 milhões já tornou-se irreal e - como a projeção de gastos segue a mesma - a previsão é de um déficit de pelo menos R$ 40 milhões. Isso se a cota da TV do Brasileiro for mantida.

O que fica cada vez mais difícil (este mês o corte foi de 70%). A incerteza sobre o calendário gera impossibilidade de planejamento e deixa os clubes de mãos atadas em relação aos contratos dos jogadores. E aí não tem milagre de marketing que evite um milionário rombo mensal nos clubes da Série A e, de forma proporcional, nas divisões de baixo.