RIO-2016

Relíquias Olímpicas: o desbravador Newdon Emanuel

Na terceira matéria da série especial dos jogos olímpicos, contamos a história do ex-jogador de vôlei pernambucano que foi à Olimpíada de Tóquio, em 1964

postado em 05/06/2016 14:00 / atualizado em 10/06/2016 20:27

Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco

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Foi uma conjunção de fatores que levou Newdon de Pernambuco para Tóquio. Começou no convite para completar um time de vôlei porque faltava um atleta. Tomou gosto pela modalidade. A altura, 1,92m, ajudou a chamar a atenção. Calhou, ainda, de uma edição do Brasileiro da modalidade ser disputada no Recife. Ele foi bem. Chamado para a seleção brasileira, deu conta do recado. A história acabou em Tóquio. Na capital japonesa, em 1964, Newdon representou o estado nos Jogos Olímpicos. A história de Newdon é o tema deste domingo da série Relíquias Olímpicas, que conta a trajetória dos pernambucanos que participaram das olimpíadas.

Numa época em que o vôlei no Brasil dava os primeiros passos, o 1,92m de Newdon Emanuel chamava atenção. Altura ainda não era essencial para o esporte, como hoje. Não à toa, era conhecido como Newdão. Pernambucano que, em 1964, fez história. Tornou-se o primeiro atleta do estado a competir em uma Olimpíada numa modalidade que não o futebol. Tem perfeita noção da sua contribuição como atleta para o esporte local. Orgulha-se em ter deixado o exemplo. Para a sociedade. Para a sua família.

Para ter a exata ideia do feito de Newdon é preciso voltar ao início da sua história de atleta e mergulhar na relidade do fim da década de 1950. Tempo em que a comunicação era muito limitada, em que o vôlei não era um esporte de ponta no Brasil, bem diferente de hoje. Ter notícias de outros locais era difícil. Imagine despertar a atenção, como atleta, dos principais centros esportivos. Newdon conseguiu essa proeza. Atraiu os olhares da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e passou a fazer parte da seleção.
O passo determinante para isso foi o campeonato brasileiro disputado no Recife. A altura, claro, contou bastante. “Em 1959, fui convidado para a seleção brasileira para a disputar os Jogos Pan-Americanos de Chicago. Me saí bem e continuei sendo chamado”, lembra Newdon. Era apenas o início de uma história com a seleção brasileira de vôlei, que teria como auge os Jogos Olímpicos de 1964.



O começo
Quando começou a jogar, anos antes, no clube Barroso, Newdon não imaginava o que o futuro lhe guardava. “Eu ia ao Barroso acompanhar uma vizinha, que treinava remo. Às vezes ela treinava à noite e eu ficava olhando o pessoal jogar vôlei. Um dia, faltou uma pessoa para completar os seis. Eu, que já conhecia o vôlei do colégio, fui. Me meti e iniciei minha carreira esportiva”, conta. “Depois, quando comecei a ter um certo destaque, fui para o Jet Club. Foi lá onde me projetei.”

A trajetória foi rápida. Newdon chegou à seleção em 1959, fazendo parte de uma geração histórica para o vôlei do Brasil, que participou do Mundial de 1960, no Rio de Janeiro, e foi campeã do Pan-Americano de São Paulo, em 1963. Na época, o esporte era amador. Não havia clubes profissionais ou ligas nacionais (as competições eram entre seleções estaduais). O pernambucano conciliava os treinos com o trabalho, assim como os demais atletas. Para deixar o Recife para períodos de treino ou competições, dependia de “caronas” em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).

“Eu saía de casa às 4h para esperar uma carona da FAB, sem a garantia de conseguir. Muitas vezes, acontecia de ir duas, três vezes e não dar”, lembra. “Nossa dificuldade era grande em função de tempo, estudo, trabalho e condições econômicas e financeiras. Mas isso era algo que aumentava nossa vontade de vencer. Dava um significado àquilo que conquistávamos.”

Peu Ricardo/ESp. DP
Um outro mundo
Na Olimpíada do Japão, Newdon conheceu um outro mundo. Ficou impressionado com a estrutura que encontrou em Tóquio. Por ser um esporte muito popular no país, o vôlei foi incluído pela primeira vez no programa dos Jogos. O domínio da modalidade, no entanto, era das nações da “Cortina de Ferro”, como ele se refere aos países da então Europa Oriental, que tinha como grande destaque a União Soviética. Se o 1,92 m do pernambucano era uma exceção no time brasileiro, a alta estatura era caracerística comum dos soviéticos. “As nossas limitações eram grandes. Fomos com 10 jogadores e três dirigentes. O que a cortina de ferro era na época é o que o Brasil é hoje no voleibol. Eles já davam uma grande atenção ao vôlei nas escolas e universidades”, comentou Newdon.

De nove jogos, o Brasil perdeu seis e ganhou três. Foi sétimo colocado. Ganhar dos Estados Unidos, seu grande rival nas Américas, era um dos objetivos. Cumprido. “Não tínhamos estrutura para almejar ganhar o campeonato. Nossa disputa era com os Estados Unidos e nós ganhamos deles. Estávamos praticamente iniciando no voleibol mundial. Era um momento de projeção. Mas tenho a vaidade de dizer que fomos bem sucedidos e ofertamos aquilo que podíamos dar.”

A pressão política
Único nordestino em meio a uma seleção formada por jogadores do Sul e Sudeste do país, não bastava a Newdon ter bom desempenho em quadra. Relembra, entretanto, que teve a sua ida aos Jogos de Tóquio ameaçada por dois fatores. Um clínico, outro político.

Newdon treinava com a seleção na escola do Exército, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, mas sentia uma dor no joelho esquerdo. Na época, não existia um acompanhamento médico aos jogadores, então foi em busca de tratamento. “Eu saía todo dia para me cuidar, porque senão eu tinha dançado. No fim, senti uma pressão muito grande. E quando senti isso, fui direto no médico que eles indicavam para analisar a condição dos atletas que, por sinal, nunca tinha ido a um treino, não conhecia nenhum atleta”, conta.

A pressão a que Newdon se refere é política. Ele desconfiava que a CBV planejava cortá-lo para levar outro atleta. Foi quando tomou uma atitude que considera decisiva para a sua ida à Olimpíada. “Cheguei na Confederação, fui direto ao presidente e disse a ele: ‘Olhe, estou sabendo de toda a situação. E do esquema de vocês. Se vocês fizerem alguma sacanagem comigo, o negócio não vai prestar.’ E então saí”, descreve. O resultado da conversa foi a confirmação do nome dele entre os convocados.

FRASE
“Eu ia ser cortado, porque havia interesses envolvidos para levar outra pessoa. Todo mundo queria ir para a Olimpíada. Se eu não tivesse feito pressão, tinha ficado”


Alexandre Barbosa/DP

Com a tocha nas mãos
A Olimpíada foi o auge da carreira esportiva de Newdon. Depois disso, deu início à vida em família. Noivo, se casou tão logo que voltou. Com a esposa Cândida, teve três filhos, sete netos. Até hoje, mora no Recife. Na última terça-feira, reviveu um pouco o passado. Ele foi um dos condutores da tocha olímpica na capital pernambucana. A saúde, abalada por alguns problemas recentes, só o permitiu percorrer 100 dos 200 metros.

Foi o suficiente. Contou com o carinho da ex-nadadora Adriana Salazar, a quem ele entregou a chama. Sorriso no rosto, honrada por compartilhar desse momento com uma figura como Newdon, ela percorreu os 100 metros restantes e os seus 200 metros, em frente ao Palácio do Campos das Princesas.

 

A experiência trouxe à tona sentimentos guardados na lembrança. “Quem viveu e quem já participou de uma Olimpíada tem um sentimento muito forte. Eu me emocionei e fiquei até certo ponto tenso com aquilo tudo. Não fiquei espontâneo como gostaria, mas é algo muito gratificante”, descreveu o ex-jogador de vôlei.

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