RELÍQUIAS OLÍMPICAS

Relíquias Olímpicas: Pampa e a primeira medalha de Pernambuco

Na quarta matéria da nossa série, contamos a história do primeiro medalhista olímpico nascido no estado. Seu nome é André Falbo, mas pode chamar de Pampa

postado em 12/06/2016 10:45 / atualizado em 17/06/2016 14:59

Ana Paula Santos /Diario de Pernambuco , Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco

Paulo Paiva/DP

Foi de ouro. E teve uma representatividade ímpar para o esporte nacional. A primeira medalha olímpica conquistada por um atleta pernambucano foi o sinal do surgimento do Brasil como potência do vôlei mundial. Nascido no Recife, André Falbo estava naquele time dourado que tinha Marcelo Negrão, Maurício, Tande, Carlão, Paulão… Não era conhecido por André, mas por Pampa, apelido que ganhou por conta da potência dos seus ataques. Ele é o quarto personagem da série Relíquias Olímpicas, que conta a história dos atletas pernambucanos com passagem pelos Jogos Olímpicos.

Quando criança, a energia de André Felippe Falbo era tanta, que a mãe, dona Sílvia Regina, o colocou em várias atividades esportivas. Soltava o primogênito para correr nas areias da praia de Candeias, onde a família residia. Uma das primeiras modalidades praticadas pelo menino foi o judô. Sob os ensinamentos do sensei Nagai, André chegou até a faixa marrom e teve nas três irmãs – Fatinha (a quem até hoje ele chama carinhosamente de “Brotinho”), Renata e Roberta – seus sparrings prediletos.

Antes mesmo de completar 15 anos, porém, o judô já dividia a preferência de André. Nas areias, ele já batia umas peladas de vôlei de praia. Pela estatura física (era um adolescente alto) e desenvoltura, não demorou a receber um convite para jogar no Colégio Boa Viagem. E foi lá que tudo começou de fato. André, à época com 16 anos, viria rapidamente a se transformar em Pampa, pernambucano campeão nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. O filho mais velho de dona Sílvia Regina e de seu José Maria Ferreira, o Zito (já falecidos). O primeiro do estado a trazer essa honraria para casa.

Barcelona, aliás, foi a segunda olimpíada do pernambucano. Ele foi um dos poucos remanescentes da seleção que disputou os Jogos de Seul, em 1988, quando teve uma participação efetiva. Foi ali que Pampa, com 1,98m despontou. Era o calouro do grupo que tinha jogadores consagrados como Bernard, William, Montanaro e Renan. Foi eleito o melhor atacante dos Jogos e venceu também a premiação oferecida, anualmente, pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Com 24 anos, o atleta já era pai de Rafaella, nascida um ano antes. Com a vinda filha e a convocação para Seul-88, Pampa considera este ano olímpico como sendo mágico. “Cheguei na seleção com um caderninho na mão para pegar autógrafo dos caras. Eram meus ídolos. Uma comédia. E eu fiz os caras assinarem mesmo, embora eles comentassem que eu era um deles. Mas estava diante de vice-campeões olímpicos”, recorda.

A participação em Seul poderia ter rendido a primeira medalha olímpica ao atleta. O Brasil terminou em quarto. Perdeu a disputa do bronze num jogo disputado contra a Argentina, 3 sets a 2, tempos em que o esporte ainda tinha vantagem e a pontuação da vitória em cada set era de 15 pontos. As parciais: 15/10, 15/17, 15/8, 12/15 e 15/9. Batera na trave. Mas o futuro lhe reservava algo maior.

Atritos
A preparação para a Olimpíada de 1988 não foi tranquila. Pouco antes de a seleção embarcar para a Seul, os atletas decidiram que o treinador coreano Yong Wan Sohn deveria deixar o cargo. “Fizemos um abaixo-assinado. O time estava muito bem quando o assunto era meditação, mas a parte física estava terrível. Perdemos oito vezes para a Argentina e isso nunca havia acontecido”, explica. Quem assumiu o posto foi Bebeto de Freitas. Com a chegada dele, o time passou a treinar quase dez horas por dia.

Nesse período, Pampa sofreu ainda a perda do seu pai. Seu Zito sofreu um acidente automobilístico em frente ao hospital da aeronática, na avenida Boa Viagem. Recebeu a notícia enquanto treinava com a seleção brasileira na AABB, de São Paulo. “Ele era meu maior incentivador. Quando disse que queria ir embora do Recife, ele foi o primeiro a dar apoio”, lembra ele, que há seis anos perdeu também a sua mãe, que faleceu em virtude de um câncer.

O apelido

André ganhou o apelido de Pampa pela força que tinha ao atacar a bola na quadra. Pela “cavalice”, sendo mais específico. Pampa é a denominação de uma espécie de cavalo da região sul do país. Diziam que a sua cortada era tão forte quanto o coice de um cavalo Pampa. O apelido ficou até hoje.

FRASE
“A gente tirava foto de tudo (em Seul). Bastava se mexer que a gente clicava (risos!!). Sem falar nas máquinas de refrigerantes espalhadas pela vila olimpíca. O refeitório também funcionava 24 horas. O pessoal tinha que segurar a gente, do contrário não íamos aguentar subir para cortar por causa do peso”

Talento e muita superstição
Bem diferente do time que ficou em quarto lugar nos Jogos Olímpicos de Seul, em Barcelona, quatro anos mais tarde, nitidamente a equipe estava bem mais preparada, sob o comando de José Roberto Guimarães - treinador muito querido por todos do elenco. Quando os jogadores desembarcaram na cidade espanhola, os holofotes ainda não estavam voltados para eles. Itália, tricampeã mundial, e Estados Unidos, bicampeão olímpico, atraíam os olhares.

Mas o Brasil mostrou que estava jogando como uma orquestra. Aos poucos, a medalha de ouro começou a ser algo palpável. A campanha foi irretocável. Nas oito partidas que disputou, o Brasil só perdeu três sets: para Rússia e Cuba, na fase classificatória; e outro para os Estados Unidos, na semifinal. Este, aliás, por culpa do próprio Pampa.

Não, o pernambucano não jogou mal a partida. A sua responsabilidade foi ter esquecido de desenhar a “marreca”. Tratava-se de um desenho de uma boneca que o pernambucano fazia em alguma parede antes das partidas. A brincadeira começou a ser levada a sério quando as vitórias começaram a aparecer.

Na partida contra os Estados Unidos, entretanto, o pernambucano esqueceu de desenhar o amuleto. O que aconteceu? A seleção brasileira perdeu o primeiro set. “Giovane veio por trás, no banco de reservas, tocou nas minhas costas e disparou: ‘Você esqueceu de fazer a marreca!’”, lembra. A reação de Pampa foi imediata. Ele correu até o vestiário e rabiscou o desenho. Resultado final: Brasil 3 x 1 Estados Unidos. Superstição que não era a única nem de Pampa nem do grupo.

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Superstições
Pampa lembra de outras superstições alimentadas pelo time medalha de ouro em Barcelona

Codinome beija-flor
Logo nas primeiras vitórias, Pampa percebeu que, toda vez que ele voltava para a Vila Olímpica, costumava tirar um cochilo, no chão, com o pé direito em cima da cama (que simbolizava o Brasil) e o esquerdo no chão (o adversário), ao som da música de Cazuza, Codinome Beija-flor. Ele dividia quarto com Carlão, que não se importava e até aceitava a continuidade do ritual. “No terceiro ou quarto dia, a turma já não aguentava ouvir Cazuza. Eu só ouvia os gritos: ‘Tira essa música!’. Não tirei nem por cem.”

Lugar marcado
Com tudo conspirando a favor do Brasil na Olimpíada, Pampa e seus companheiros passaram a repetir os mesmos passos. Durante as refeições ele se sentava sempre ao lado de Carlão e Marcelo Negrão. Foi assim até o fim dos Jogos. Dentro do ônibus que levava o time para treinos e jogos, a mesma coisa. Não podia haver troca de cadeiras. Cada um que decorasse o parceiro do lado esquerdo e direito.

Tande, o barbudo
O ponta Tande chegou a Barcelona com o rosto limpo e pretendia mantê-lo assim durante a Olimpíada. Mas no dia em que esqueceu de fazer a barba, o Brasil venceu. Pronto. Bastou para os atletas associarem isso às conquistas dentro da quadra. O atleta permaneceu barbudo até o jogo decisivo contra a Holanda.

FRASE
“O time era muito redondo. A gente jogava por música. Eu nunca vi uma equipe tão fechada”
Pampa, sobre a seleção de vôlei de 1992