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A versão pernambucana do gol 1.000 de Pelé

Para alguns historiadores, Rei do futebol teria atingido a marca contra o Santa, na Ilha

postado em 10/06/2015 12:00 / atualizado em 10/06/2015 10:46

João de Andrade Neto /Superesportes

Arquivo/DP
A contagem regressiva para o milésimo gol começava a incomodar Pelé. Muitos sonhavam (e torciam) para que ele fosse marcado no maior palco do futebol mundial, o Maracanã. Quem sabe de pênalti, para que todas as atenções estivessem voltadas para o lance. Mas o Rei tinha pressa. Sobrou para o Santa Cruz. Sorte dos pernambucanos, que puderam ver a história ser escrita diante dos seus olhos.

Noite de 12 de novembro de 1969. A Ilha do Retiro estava superlotada por 34.123 torcedores. Aos cinco minutos do segundo tempo, após lançamento de Edu, o maior camisa 10 de todos os tempos subia ainda mais alto no olimpo ao finalizar sem chances para o goleiro Aloísio Linhares. Era o gol 1.000. A fome era tamanha que antes do apagar das luzes sairia também o 1.001, fechando a goleada do Santos por 4 a 0, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. A capital pernambucana estaria para sempre ligada ao Rei. O primeiro jogador a chegar ao milésimo gol.

A Gazeta Esportiva/Arquivo
O fato narrado não é fruto de ficção ou delírio. Foi noticiado por um dos maiores jornais esportivos do país entre as décadas de 1920 e 1980. Uma versão que contraria a oficial, do milésimo gol marcado, de pênalti, contra o Vasco do goleiro Andrada, na noite de 19 de novembro, no Maracanã. Uma semana antes, em 13/11/1969, a Gazeta Esportiva já havia antecipado o feito com uma manchete que não deixava dúvidas: “Recife aplaude o 1.000 de Pelé”. Marcado contra o Santa Cruz, na Ilha do Retiro.

O responsável pela versão “pernambucana” do milésimo gol do Rei do Futebol foi o jornalista Thomaz Mazzoni, editor chefe da Gazeta e um dos mais conceituados profissionais de imprensa do país entre os anos 1920 e 1960 (faleceu em janeiro de 1970).

Conhecido como o pai do jornalismo esportivo de São Paulo, Mazzoni era também famoso por se dedicar à história e às estatísticas do esporte nacional, tendo acompanhado a carreira de Pelé desde os primeiros passos no Santos. Foi Mazzoni que, no início de 1969, chamou a atenção da imprensa nacional para a proximidade do gol mil.

A diferença
Entre as estatísticas de Mazzoni e a oficial adotada pelo ex-jogador (que tomou como base os dados do jornalista de Santos, Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney) uma diferença de três gols. Um deles é desconhecido. Os outros dois foram localizados pelo Superesportes. O primeiro foi anotado por Pelé em 10 de janeiro de 1966, durante uma excursão do Santos pela África. A equipe paulista disputou um jogo-treino contra a seleção da Costa do Marfim e o camisa 10 fez um gol atuando pela equipe local no segundo tempo. No primeiro, atuou como goleiro do Peixe. O Santos recebeu 10 mil dólares para realizar o confronto, assistido por 20 mil pessoas no estádio Houphonet-Boigny, em Abdjan.

O outro gol, ignorado na listagem oficial, mas considerado pela Gazeta Esportiva, foi marcado em um clássico contra o Corinthians, em 19 de outubro de 1969, interrompido devido as fortes chuvas que caíram no Pacaembu. Posteriormente o jogo foi anulado. Procurado pela reportagem, o centro de memória e estatísticas do Santos reconhece a existência dos dois gols. Mas não os consideram para a contagem oficial de Pelé.

Última Hora/reprodução/Arquivo Público do Estado de São Paulo

E o gol não encontrado?
Com relação ao terceiro gol divergente entre a lista da Gazeta Esportiva e a oficial do Rei, e que não encontrado pela reportagem do Superesportes, vale ressaltar que ele mudaria apenas a ordem do suposto gol mil, mas ele continuaria sendo marcado no Recife. Com ele computado, o milésimo de Pelé foi o seu primeiro anotado contra o Santa Cruz. Já se for desconsiderado o tento não encontrado, Pelé teria chegado ao gol mil ao marcar o seu segundo tento contra o tricolor pernambucano. E aí, uma coincidência com a versão conhecida mundialmente. Ele também foi marcado em cobrança de pênalti.