Santa Cruz

Especial aniversário

"O Santa Cruz nasceu e vai viver eternamente".

postado em 03/02/2011 14:43 / atualizado em 03/02/2011 15:57

Filipe Assis /Diario de Pernambuco

O Time dos Meninos

Recife, 3 de fevereiro de 1914. O pátio da igreja de Santa Cruz, localizada na Boa Vista, serviria de inspiração para uma ideia que se transformou em um marco na história do futebol pernambucano. Era lá onde costumava se encontrar um grupo de 11 adolescentes com idades entre 14 e 16 anos que tinham em comum o amor pelo futebol e, por isso, decidiram fundar um novo time no Recife. Nascia, há 97 anos, o “time dos meninos”. Um gigante chamado Santa Cruz Futebol Clube.

O Clube das Multidões

Apesar de seus fundadores serem todos de classe média, o Santa Cruz não demorou a ser admirado por torcedores de baixa renda.  Num tempo em que o futebol era um esporte elitista e excludente, praticado quase que exclusivamente por pessoas de cor branca e pertencentes às classes média ou alta, a presença de um jovem de cor negra na equipe fez o Santa Cruz se popularizar rapidamente.

Essa foi a grande contribuição de Teófilo Batista de Carvalho ao Santa Cruz. Muito maior do que o desenho do escudo do clube, feito por ele e que continua até hoje. Ao quebrar preconceitos, o Time dos Meninos, de Teófilo Batista de Carvalho, logo se transformou no clube do povo.

O Terror do Nordeste

Em 1919, o time do povo conseguiu sua primeira proeza. Em um jogo amistoso, derrotou o Botafogo por 3 a 2. Foi o primeiro time do Nordeste a vencer uma equipe carioca. No Campeonato Pernambucano, entretanto, o Terror do Nordeste demorou a acordar. O primeiro título veio apenas em 1931.

Antes disso, a equipe havia sido vice-campeã sete vezes e o principal rival, o Sport, já havia conquistado sete taças. Mas depois do primeiro título, o Santa Cruz se acostumou. Tanto que repetiu a dose em 1932 e 1933. Passados 80 anos após o primeiro título, o Terror do Nordeste tem 24.

O Mais Querido

Talvez nenhum tenha sido tão emblemático quanto o de 1957, ano do primeiro supercampeonato – decisão com três times - de Pernambuco. O Tricolor, que amargava um jejum de 9 anos, montou um time que é  considerado um dos melhores da história do clube. No último jogo da decisão, contra o Sport, na Ilha do Retiro, precisava vencer para ficar com a taça.

Bateu o Leão por 3 a 2. Ao final do jogo, uma multidão tomou conta das ruas do Recife. O Santa Cruz era campeão de novo. A história conta que vários bares tiveram o estoque de cerveja esgotado. O povão estava em festa. Uma conquista que ficou marcada por uma música composta pelo saudoso tricolor Cabiba, especialmente para o título: O Mais Querido.

“Santa Cruz, Santa Cruz, junta mais essa vitória. Santa Cruz, Santa Cruz, ao teu passado de glórias. És o querido do povo, o terror do Nordeste no gramado. Tuas vitórias de hoje nos lembram vitórias do passado. Clube querido das multidões, tu és o supercampeão”, diz a letra.

O Santinha

Hoje, 3 de fevereiro de 2011, quando o Mais Querido completa 97 anos de existência, o passado de glórias exaltado por Capiba é visto por muitos tricolores como algo nostálgico e distante da realidade. A fase é a pior da história desde 1931, ano da primeira conquista.  Os títulos estaduais minguaram (foram 3 nos últimos 20 anos) e a equipe luta para conseguir uma vaga na 4ª divisão nacional.

Mas foi em meio a essa crise que teve início uma curiosa relação de amor entre o clube e a torcida. Os tricolores, que carinhosamente chamam o Santa Cruz de Santinha – e dizem que só eles podem se referir ao clube assim, no diminutivo -, responderam à crise colocando mais e mais gente no estádio do Arruda. Não à toa, essa torcida se diz a mais apaixonada do Brasil. Gente que ama, que sofre, mas que, acima de tudo, acredita na recuperação do Terror do Nordeste. 

Afinal, é como disse Alexandre de Carvalho, um dos fundadores do Tricolor, quando, ainda em 1914, impediu que o clube fosse fechado porque alguns fundadores queriam gastar o pouco dinheiro que havia no caixa para comprar uma máquina de caldo de cana: “O Santa Cruz nasceu e vai viver eternamente”.