Santa Cruz

Arruda

A voz na consciência de Zé

Auxiliar-técnico Sandro Barbosa recebeu a equipe do Superesportes na sua casa e revelou bastidores do título pernambucano

postado em 16/05/2012 08:34 / atualizado em 16/05/2012 08:47

Daniel Leal /Diario de Pernambuco

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS
No popular, costuma-se dizer que “por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Devidas proporções à parte, pode-se transferir a frase para o futebol assim: “Por trás de um grande treinador, há sempre uma equipe de profissionais competentes.” Pelo menos no Santa Cruz é assim. E tem dado certo. O técnico Zé Teodoro é, de fato, o principal responsável pelo bicampeonato pernambucano, conquistado no último domingo. Porém, lado a lado com o treinador está o seu auxiliar Sandro Barbosa. Homem de confiança do comandante coral, o ex-zagueiro foi o responsável pela escalação do título, no último domingo. Ou melhor: foi somente o interlocutor até Zé Teodoro. A sugestão, segundo o próprio Sandro, foi divina.

Ainda com o aspecto cansado de quem dormiu pouco em razão da comemoração pelo segundo título estadual consecutivo, Sandro recebeu o Superesportes em sua casa, num condomínio em Aldeia. Contou detalhes dos bastidores da conquista do Campeonato Pernambucano. Revelou que há exatamente uma semana, recebeu uma intuição, que ele interpretou sendo de Deus. Evangélico, acreditou fielmente no sentido. Resolveu mostrar a sugestão para Zé Teodoro. Era a escalação ofensiva para vencer o Sport na Ilha do Retiro.

Foi Deus que me deu
“Na última quarta-feira, fui tomar banho e quando eu fui abrir o chuveiro, Deus falou comigo muito forte. Não em voz. Quem tem intimidade de falar com Deus sabe como é. Logo voltei e disse: ‘Olga (esposa), Deus falou comigo muito forte e eu vou escrever essa escalação aqui para não esquecer’. Na mesma hora escrevi, tomei banho e liguei para William (o outro auxiliar-técnico). Disse a ele que iria mostrar para o Zé e que se ele concordasse iríamos para cima. Já na nossa sala de reunião mostrei a Zé Teodoro. Coincidentemente, ele falou que em 2004, pelo Náutico, jogou contra o Santa Cruz, no Arruda, mais ou menos assim e aceitou a sugestão. Eu tenho intimidade de falar com Deus, como minha filha tem intimidade de falar comigo e me pedir algo. Não é que Deus falou em palavras, falou com o desejo que veio forte em mim. Nós não escutamos a voz, escutamos o desejo no coração que Deus mandou.”

Quebra-cabeça
Além da escalação divina, Sandro ainda revelou que outras duas possibilidades estavam traçadas para enfrentar o Sport. A primeira delas era a entrada do volante Léo na vaga de Anderson Pedra. Com isso, Memo iria para a direita e Luciano Henrique seria mantido no time - Branquinho ficaria na reserva. “Da sexta para o sábado cancelamos a entrada do Léo definitivamente. Desde o começo, os únicos no meio que já estavam garantidos eram Memo e Chicão”, disse Sandro. Outra opção era manter o mesmo time do primeiro jogo. “Resolvemos pela escalação com três atacantes. Foi um quebra-cabeça. Quando Rivaldo atacava, quem saía não era Memo, era Chicão. A gente jogava Chicão para não tirar Memo e deixar Renatinho fazendo a linha de quatro”, explicou. E havia mais: “A escalação de Braquinho para cair pelos lados era para tirar Hamilton da cabeça de área e deixar Diogo Oliveira marcando Natan. A gente sabia que Diogo não iria conseguir acompanhar Natan. Isso porque no Arruda Hamilton tinha matado Natan.”

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS
Sem qualquer remorso

Para a maioria dos torcedores pernambucanos, Sandro era rubro-negro. Isso porque foi criado nas divisões de base do Sport, onde atuou de 1992 a 1995. Quando encerrou a carreira em 2010, pelo Tricolor do Arruda, não havia mais dúvida que o sangue dele era vermelho, branco e preto. Apesar do carinho que tem pelo Leão, o auxiliar-técnico coral não tem nenhum remorso do clube que abriu as portas para o futebol. “Existe respeito pela torcida, diretoria, funcionários, de quem eu gosto muito. Remorso nunca houve. Nem quando matei o Santa Cruz na Ilha (pelo Sport), nem o Santa no Arruda, atuando pelo Botafogo. Hoje eu tenho é alegria de conquistar a vitória. O Santa estava precisando dessa conquista, o Sport não. Eles vieram de muitas conquistas e a torcida não pode estar reclamando.”

Contrato
Sandro não tem contrato algum com o Santa Cruz. Pode “abandonar o barco” quando bem entender. Todavia, é apaixonado pelo que faz e pelo clube. Tanto que desvincula a sua permanência no Arruda à presença de Zé Teodoro. “Eu não trabalho para Zé Teodoro, trabalho para o Santa Cruz. Gosto demais dele, ele quer me levar para onde for, mas eu não vou para lugar nenhum porque trabalho para o clube. Não quero trabalhar com futebol. Minha vontade é de ajudar o Santa Cruz.”

“Futebol é podre”
Como sempre faz questão de frisar, para Sandro “futebol é um meio muito sujo, podre.” Por isso e por sua boa condição financeira, não pensa em passar muito tempo no meio. “Enquanto o presidente me der essa liberdade de trabalhar fazendo o que eu acho na minha função, contratando o jogador que eu e Zé achamos viáveis, mandando embora quem a gente achar inviável, estou no Santa. Não sei se em outro clube vou poder fazer o mesmo trabalho. Louvo a Deus não precisar de futebol para viver. O economista tem que se meter em economia e não se meter em escalação de futebol. Respeito os repórteres, comentaristas, mas em escalação não tem dirigente, ninguém que saiba o que o jogador pode dar para a gente.”

Quem sai e quem chega
“Vai ter e isso é normal. É apenas um mínimo que vai chegar e o mínimo que vai sair. É muito bom trazer, mas na hora de mandar embora isso corta o coração. Trabalho muito pela emoção, mas tenho que ter razão na minha função. O Santa Cruz hoje pede isso. Temos que ser profissionais para não prejudicar ninguém, nem ser injusto com o clube. Não vou adiantar porque vou sentar com o Zé Teodoro para definir, mas devem sair uns seis. Em relação a contratação, estamos trabalhando. Queria eu ter o dinheiro que o Sport e o Náutico têm. A gente não consegue tirar o pessoal dos cantos. Foi um sacrifício imenso tirar o Fabrício Ceará do Salgueiro.”

Dênis Marques
“O Santa Cruz tem que fazer tudo para ele ficar. Vou falar a realidade: ele ganha R$ 15 mil. Veio por R$ 12 mil e demos mais R$ 3 mil para ajudar ele a pagar o aluguel. As pessoas não gostam que se fale isso, mas vou falar: esse dinheiro não paga nem as contas dele. É a hora do clube retribuir o que ele fez. E como faz isso? Aumentando e bem esse salário. Até mesmo para ele tirar o ‘prejuízo’ que ele teve aqui. E não vai faltar esforço para isso. Vamos premiar um jogador que não teve olho grande, não foi mercenário, deixou de jogar campeonato paulista. É um jogador diferenciado, que já recebeu propostas do Atlético-PR e Coritiba. De outros clubes, não posso falar. A torcida está intimada a fazer a festa no amistoso que terá no próximo domingo, no Arruda,  e ajudar em uma boa renda para mantê-lo.”

Série C
 Assim como Zé Teodoro vem demonstrando em suas entrevistas, Sandro também está encarando a Série C como principal objetivo do ano. Sabe que a competição é fundamental para o planejamento de renascimento do clube. A meta é tirar o time da Série D e levar à B. “O Santa Cruz é e sempre vai ser favorito. Não é time de Série C, nem nunca foi. Não devemos nada ao Inter e ao Grêmio, por exemplo. Temos torcida maior, estádio grande e Recife é cidade com um turismo maior do que Porto Alegre. O que faltava para ser grande era organização e estamos melhorando muito. Aqui há planejamento”, pontuou.

Técnico e presidente
 “Não tenho vontade nenhuma de ser treinador, apesar de amar o que faço. Não tem dinheiro que pague o prazer de você ver um esquema funcionar como na final do Pernambucano. É um prazer de um gol. Não posso falar que a chance de me tornar ténico é zero, mas é quase isso. Estou no Arruda para ajudar o Santa. Já para presidente, também não tenho essa vontade. Também não digo que é zero, mas volto a dizer: estou aqui para dar parcela de contribuição. Somente isso.”