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Entrevista - Antônio Luiz Neto: o presidente que reergueu o Santa Cruz

Mandatário coral recebeu a reportagem do Superesportes em sua residência.

postado em 03/12/2013 10:30 / atualizado em 03/12/2013 10:42

João de Andrade Neto /Esportes

Cristiane Silva/Esp.DP/D.A Press
O último fim de semana foi talvez o mais dramático vivido pelo presidente Antônio Luiz Neto, desde que ele assumiu a presidência do Santa Cruz, em 2011. No domingo, enquanto milhares de tricolores comemoravam a conquista da Série C, o mandatário coral, após receber a taça no gramado, deixou de lado a alegria da conquista de mais um título na sua gestão para consolar a esposa, Igara Cristina Silva. No sábado, a companheira, com quem é casado há 27 anos, havia perdido a mãe, Cristina Melcop, falecida aos 80 anos. Ontem, após o enterro da sogra, Antônio Luiz Neto recebeu a reportagem do Superesportes em sua residência.

Oriundo de uma família de tricolores (seu tio Aristófanes de Andrade, foi presidente em seis oportunidades), Antônio Luiz Neto mora a 500 metros do Arruda. Vai a alguns jogos andando. E se orgulha de dizer que é sócio do clube mesmo antes de ter nascido.

Nenhum outro dirigente conquistou mais títulos do que ele. Com Antônio Luiz Neto, o Santa se tornou tricampeão estadual, saiu da Série D para a Série B e levantou o seu primeiro título nacional. Nesta entrevista, ao repórter João de Andrade Neto, o dirigente faz uma avaliação da sua gestão, revela que temeu pelo fim do clube e fala sobre os planos e as cobranças para o centenário coral, no último ano de seu mandato.

O senhor se considera o melhor presidente da história do Santa Cruz?
Ontem recebi um telefonema que me emocionou muito. Foi de Dirceu Paiva, que é o curador do memorial do clube, dizendo que eu já era o maior presidente do Santa Cruz. Mas acho que para mensurar isso é preciso avaliar a história do clube. E se Aristófanes de Andrade tivesse morrido na adolescência talvez o Santa Cruz não existisse. Ele foi o maior de todos os tricolores. Se nivela aqueles que fundaram o clube. Foi presidente seis vezes, comprou a casa na Avenida Beberibe para construir a sede. Posteriormente, junto com a torcida, trabalhou para que o Santa Cruz tivesse o estádio do Arruda. Além disso, foi bicampeão estadual em 1969 e 1970. A minha administração talvez seja o espelho de Aristófanes. E por isso, talvez, tenha dado certo.

Nos piores anos, o senhor temeu pelo fechamento do clube?
Sim. Em diversas ocasiões fui obrigado a colocar isso para outros tricolores. Víamos o tempo passando e o Santa se afundando cada vez mais em uma crise que estava beirando os 30 anos. Quando assumi e fiz a auditoria no clube cheguei a constatação que se tivéssemos continuado naquela marcha, o Santa Cruz talvez não durasse mais cinco anos.

O que esperar para 2014?
Eu ainda não sei o tamanho do nosso orçamento. Mas vamos planejar dentro da receita que surgir para que não se volte ao passado. Estamos buscando gerir o clube de forma mais tranquila e para isso é preciso equalizar as dívidas. Alguns bloqueios impedem o clube de arrecadar mais. Mas vamos em busca de novos patrocínios e de uma boa cota de televisão.

Cristiane Silva/Esp.DP/D.A Press
Como o clube vai lidar com as negociações para renovações de contratos?
Vamos conversar com todos os atletas que estão bem avaliados. Hoje o Santa Cruz dá tranquilidade, tem um bom ambiente e respeita o profissional. Já ouvi depoimentos dramáticos de atletas da base se referindo ao período de humilhação em gestões passadas e de jogadores experientes sobre a forma que foram tratados em outros clubes. Muitas vezes o atleta recebe uma proposta que parece vantajosa, mas que na realidade não o ajudará em seu crescimento. Vamos sentar com todos e tentar um acerto dentro do patamar possível.

Como fica a relação entre o técnico Vica e o atacante Dênis Marques?
Quando assumi o clube, Vica foi o treinador número um da nossa lista. Claro que temos interesse na permanência dele. Mas tudo vai depender das condições que serão apresentadas. Não podemos ultrapassar os nossos limites. Mas hoje o Santa Cruz é um clube que oferece estabilidade ao treinador. Acho muita covardia quem muda. Quem muda erra e se arrepende. Se queremos enxergar resultados, temos que respeitar os profissionais e esperar o momento para que os resultados cheguem. Com relação a Dênis Marques ele é um atleta que escreveu páginas douradas na história do clube e que tem características próprias que foram assimiladas pelos treinadores anteriores, mas que não se afinaram com as de Vica, fundamentais para o nosso acesso. Se houver uma compatibilidade nos interesses certamente podemos levar em consideração o planejamento com os dois.

Por que o senhor defende a colocação da estrela da Série C?
A estrela representa uma conquista nacional depois da pior fase da vida do Santa Cruz. Ela merece ser colocada no peito. É um marco para que o clube busque objetivos maiores. A decisão cabe ao presidente, mas nunca fui ditador. Vou ouvir meus pares. Mas defendo sim que ela seja colocada.

O Santa Cruz vai jogar na Arena PE em 2014?

O Santa Cruz possui a sua casa e se sacrificou muito para tê-la. Existe uma posição do Conselho Deliberativo contrária a nossa ida para a Arena. Mas eu entendo que poderemos e devemos dialogar e fazer o gesto para mandarmos dois jogos menores lá, cumprindo assim o que está na Lei, apesar de discordar dela (que obriga os clubes da capital a mandar, pelo menos, dois jogos na Arena PE para ter direito ao Todos com a Nota).

O senhor entra no seu último ano de mandato. Pensa no sucessor?

O clube precisa se oxigenar. Temos grandes nomes. Mas ele deve ser fruto do pensamento de todos. O Santa Cruz não aguenta vaidades. Pobre daquele que acha que o abraço dado pelo torcedor na rua é para ele. Na verdade, quem está recebendo o abraço é o Santa Cruz.