Santa Cruz

Delegacia

O silêncio dos culpados

Polícia prendeu ontem Everton Felipe, primeiro envolvido na morte de Paulo Ricardo. Outros dois suspeitos ainda eram procurados

Anderson Malagutti/DP/D.A Press
Nenhuma palavra. Nenhum olhar. Com a cabeça baixa e o passo ditado pelos dois policiais que o levavam pelo braço, Everton Felipe Santiago de Santana, 23 anos, entrou na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A prioridade número 1 da polícia pernambucana, em pouco tempo transformaria-se em três. Everton não estava só quando, do ponto mais alto da geral do Arruda - no lado da Rua das Moças -, empurrou duas bacias sanitárias para o chão, a 24 metros de altura. Não estava só quando matou Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos.

Everton entrou direto na sala da delegada Gleide Ângelo. As informações começaram a surgir. A conta gotas, imprecisas. Foram aproximadamente três horas com as portas fechadas. Tempo em que as dúvidas foram clareando. A confissão. As mensagens via WhatsAPP. As imagens. A identidade. Os cúmplices. Confirmadas na voz do advogado Adelson José da Silva, que entrou na delegacia no mesmo momento de Everton. Por outra porta.

Quando a porta abriu, quem apareceu primeiro foi a delegada. “Estou aqui por respeito a vocês da imprensa. Acabou o depoimento e ele ficará preso. A SDS falará a respeito”, disse. Logo depois, Everton passou em meio a um alvoroço de cinegrafistas e fotógrafos. Nenhuma palavra, nenhum olhar. Com a cabeça baixa e o passo acelerado, ditado por um policial que o levava pelo braço para outra sala. Tempos depois, apareceu o advogado.
Paulo Paiva/DP/D.A Press


“Conversei com ele particularmente e ele confessou, realmente. Já estava disposto a se entregar, a confessar depois na polícia. Foi uma denúncia anônima, disseram a ele”, afirmou Adelson José da Silva. Segundo o advogado, em conversa com a família pelo WhatsAPP o suspeito pedia para que ela não o abandonasse se ele fosse preso. “Então ele estava convicto do que iria acontecer com ele”, destacou ele, que deixou o DHPP após responder as perguntas da imprensa.

Everton ficou. Não por muito mais tempo. Por volta das 22h, apareceu pela última vez na delegacia. O mesmo ritual. Nenhuma palavra. Nenhum olhar. Cabeça baixa, o passo acelerado. Os policiais o conduziram até o carro da polícia. Colocaram-no na parte de trás. Seu próximo destino: o Cotel.

Os indícios do envolvimento de Everton

Conversas no WhatsApp
Apesar de negar o envolvimento no momento da abordagem, os policiais descobriram no celular de Everton Felipe conversas no aplicativo WhasApp - inclusive em áudio -, onde ele falava sobre o medo por ser preso e também o relato de outros amigos para que ninguém entregasse ninguém. Em uma das mensagens, ele afirma que não queria ir para o “inferno”, se referindo à cadeia.

Imagens das câmeras
O circuito interno de câmeras do Arruda flagrou o momento que Everton Felipe deixa o estádio. Apesar de o advogado afirmar que não viu as imagens, o próprio acusado se reconheceu e admitiu que estava no local. “Ele participou e confessou. As imagens que têm aí mostram ele saindo de lá e ele reconhece que estava lá”, disse o advogado Adelson José.

A confissão
Mesmo com as provas obtidas pela polícia, o que mais pesou para a prisão foi a própria confissão do torcedor. Não há detalhes do teor da sua confissão, portanto, a gradação da sua participação - quem arrancou, quem jogou as bacias… Num certo momento da entrevista, o advogado afirmou que, talvez, Everton Felipe tinha agido por influência dos demais.

Como chegaram até Everton?
A principal pista para chegar até Everton Felipe partiu do Disque-Denúncia, que oferecia até R$ 5 mil de recompensa. De acordo com a coordenação da campanha, nove denúncias foram recebidas. E uma delas levou a Everton Felipe.