Santa Cruz

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Sanear as finanças do Santa, para montar um time competitivo, é o projeto de Alírio Moraes

Presidente do Santa Cruz esclarece suas metas para o triênio à frente do tricolor do Arruda

postado em 13/03/2015 16:30 / atualizado em 13/03/2015 19:18

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Julio Jacobina/DP/D.A Press
Na quinta-feira (12), o presidente do Santa Cruz, Alírio Moraes, concedeu entrevista coletiva para fazer um balanço de seus três primeiros meses à frente do clube. Com a divulgação da apresentação do mandatário coral, logo se disseminou, principalmente nas redes sociais, uma enxurrada de críticas ao dirigente. O alvo foram as metas de títulos e conquistas estabelecidas pelo presidente. Em entrevista exclusiva ao Superesportes na manhã desta sexta-feira (13), Alírio Moraes esclareceu o projeto de sua gestão. Disse que a ideia do comando tricolor é primeiro sanar o passivo do clube, para, por conseguinte, ter condições de montar um time competitivo, que entre em todos os torneios com capacidade de brigar por títulos.

Bastante franco e sem se furtar de responder às questões, Alírio Moraes procurou justificar as suas primeiras decisões à frente do Santa Cruz. Disse, por exemplo, que priorizou o pagamento das dívidas do clube em detrimento da formação de um elenco mais forte para o Campeonato Pernambucano. Era uma questão de opção. Ou o clube seguia tendo que se limitar a tentar conviver com a bola de neve do alto passivo e montava um time mais qualificado, ou, então, combatia o maior entrave para que a instituição caminhe por suas próprias pernas e, depois, possa focar exclusivamente no futebol.

O presidente coral afirmou que tinha plena consciência do nível do rombo financeiro do clube, mas revelou que não esperava ser tão afetado pela ausência do time na Copa do Brasil e Copa do Nordeste. Entretanto, segundo ele, o trabalho da diretoria pode gerar frutos em breve, estabelecendo um “marco zero” para o Santa Cruz. Alírio espera que já depois do Campeonato Pernambucano, para que o clube requalifique o elenco para a disputa da Série B, em que “o Santa vai brigar para subir”, assegura.

Quanto à polêmica do título da Copa do Brasil, o mandatário tricolor é enfático ao desfazer o mal entendido. “Não posso prometer aquilo que objetivamente não posso realizar” e acrescentou que “o objetivo é sanear o clube para que os investimentos no futebol possibilitem o clube brigar por títulos.”

Confira, abaixo, alguns trechos da entrevista.

FINANÇAS

Nesses três meses à frente do clube, quais foram as maiores dificuldades que o senhor encontrou?
A dificuldade principal, desde o início, foi a falta de receita. O Santa Cruz veio de um ano muito adverso, que, embora estivesse comemorando o centenário, não ocorreram títulos e o time foi punido por ocorrências extracampo. Naturalmente, a gente começou o ano com um passivo muito grande.

Nós estávamos sem receita alguma, quando assumi em 11 de dezembro. Sem um centavo no caixa. Fora isso, a gente tinha que arcar com os pagamentos de todos os distratos do elenco do ano passado.

Esse quadro, naturalmente, limitou as nossas ações no início da gestão e fez com que revíssemos o nosso orçamento e algumas metas.

Mas, com um esforço muito grande, trabalhando praticamente todos os dias no clube, viajando pelo clube, conversando com patrocinadores e investidores - pessoas ligadas ao Santa Cruz e que têm condições de ajudar - a gente está fechando esse primeiro trimestre com a perspectiva de terminar o mês de março com todos os compromissos honrados.

Esperava receber o clube em uma situação financeira tão delicada como encontrou ao assumir a presidência?
Esperava. Não foi surpresa. A surpresa, talvez, dentro desse processo aí, foi a negociação dos jogos na Arena. Mas, em relação ao quadro de dificuldades financeiras, como eu já estava ajudando na parte jurídica, no saneamento das dívidas, a gente sabia que ia se defrontar com muitas dificuldades.

A questão da Arena foi uma surpresa para a gente, mas foi esclarecido. Havia um contrato assinado no mês de novembro, em que o Santa havia antecipado receitas para sanar passivos e tinha vendido seis partidas para 2015. Fiz questão de esclarecer, à imprensa e aos torcedores, que eu não estava assinando nenhum contrato, apenas iria cumprir um contrato que já estava assinado. Mas, quero frisar, que compreendo a decisão de Antônio Luiz Neto, diante de todas as dificuldades financeiras que ele enfrentou.

O senhor revelou que fez um convênio com a Prefeitura do Recife a fim de saldar uma dívida de R$ 24 milhões com o município, além de já ter parcelado as dívidas federais, que rondam R$ 13 milhões. Diante desta realidade apresentada, quando é que o Santa Cruz, finalmente, vai poder assinar com a Caixa como patrocínio master?
Dependeria, aí, da Caixa. Porque pela crise política que o governo está enfrentando e o cenário da economia, a Caixa segurou o patrocínio com o futebol. São as informações que nós temos.

Mas, estamos buscando, na verdade, o saneamento para, com o fim do Campeonato Pernambucano, criar um marco zero para o Santa. Precisamos que o clube passe a ser um clube que não tenha passivo.

No cenário hoje, a gente está pagando dívidas de 10, 15 anos atrás. Digo que esse tem sido o maior desafio na busca do equilíbrio financeiro do clube, da autossustentabilidade, é que a gente vinha se deparando todos os dias com um credor diferente, um processo judicial novo.

Agora, chegando ao nosso terceiro mês, é que as coisas parecem se acalmar. Fechamos acordos e, com muito sacrifício, estamos pagando. Temos buscado recursos, inclusive pessoais, para assumir, diante dos credores, o compromisso para acabar com esse ciclo nocivo e impeditivo de se administrar o clube que é o bloqueio de rendas - receitas de bilheteria, cotas de televisão, patrocinadores.

Tenho dito e repito: na gestão passada, 73% da receita ficou retida pela Justiça. Então, em um quadro desses, como é que você pode fazer planejamento para um clube? Você só pode administrando problema.

Quando eu assumi, entendi que tão importante quanto colocar um time competitivo em campo - que brigasse pelos títulos -, nesse momento inicial, seria enfrentar esse adversário. Um adversário que não aparece para o torcedor, não aparece para a imprensa, que é o passivo.

O fato é que, de Fernando Bezerra para cá, a pauta tem sido essa. Quem entra, sabe que os recursos que tem vão ficar limitados.

Então, atiramos nesse ponto. Você imagina a exaustão de pegar um passivo tributário de R$ 54 milhões e reduzir para R$ 13 mi. Isso não foi da noite para o dia. Processos, viagens para Brasília, discussões com a Fazenda Pública, INSS, tudo isso.

Mas, estamos exitosos. Estimo para o fim do Campeonato Pernambucano um momento novo, o nosso marco zero. Em que o clube vai poder ter sua conta bancária. A certidão negativa de tributos federais deve sair no fim do mês de março. Espero que, com os projetos sociais que vamos formalizar ainda esse mês o convênio com a Prefeitura, a gente também obtenha a remissão da dívida municipal. O FGTS já está quitado. Inclusive, já antecipamos a quitação de parcelas até agosto de 2015.

É por isso que a gente tem pedido à torcida para apoiar esse projeto do Santa.

METAS

Na quinta-feira, o senhor traçou metas audaciosas para o Santa Cruz neste triênio de sua gestão. Falou-se até em Copa do Brasil e classificação para a Copa Libertadores. Curiosamente, nas contas dos títulos, mesmo que indiretamente, fica a impressão de que o Campeonato Pernambuco 2015 foi dado como perdido...
Deixa eu explicar melhor. A gente não abdicou, este ano, do título pernambucano. Mas, diante desse quadro de dificuldade financeira, seria humanamente impossível que a gente focasse nosso objetivo na qualificação do elenco, como se esperava inicialmente, para ter um time pronto para disputar qualquer torneio.

A gente teve que deslocar um volume muito grande de receite - R$ 3 milhões para pagar dívidas. Se nós não tivéssemos um passivo tão alto, logicamente ele teria sido utilizado no futebol.

Num cenário desses, procuramos ser realistas. Se não formos campeões, mas ficarmos entre os três, que nos garante na Copa do Brasil e Copa do Nordeste, já nos damos por satisfeitos.

Mas e as metas de títulos como a Copa do Brasil?
Quando colocamos uma meta, na realidade, o que queremos dizer é que vamos ter um investimento que possibilitará o clube brigar pelo título de uma Série B, ou ficar bem colocado na Série A, chegar na semifinal da Copa do Brasil.

O objetivo é de estar qualificado para disputar um título. É você ter um elenco.

Eu não posso prometer aquilo que objetivamente eu não posso realizar. O que posso prometer é ter um elenco, ter um treinador, um departamento de futebol.

Aí, a gente fica sendo taxado de delirante porque quer mudar a realidade do clube. Algo que a torcida mesmo cobra, ela quer uma melhoria, mas ela própria não acredita que possa acontecer.

E esse investimento viria de patrocínios?
Sim, de patrocínio, mas também viria do saneamento do clube. Tudo o que está sendo gasto com os pagamentos dos acordos, essa receita vai ser disponibilizada para ser investida no futebol. O futebol por inteiro, que inclui a base, o centro de treinamento, a estrutura.