Santa Cruz

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Boa campanha, salários, projeto no Santa Cruz e CT: Confira entrevista com Marcelo Martelotte

Responsável pela ascensão coral, técnico ainda falou sobre inspiração no Bayern

postado em 05/10/2015 13:30 / atualizado em 05/10/2015 14:03

Yuri de Lira /Diario de Pernambuco

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Marcelo Martelotte chegou no Arruda para a entrevista com o Superesportes pilotando uma possante moto Harley-Davidson. Despido de qualquer esteriótipo de treinador. Em mais de meia hora de conversa com a reportagem, manteve o despojamento da sua faceta de motoqueiro, que carrega com orgulho. Sobre assuntos delicados como os salários atrasados dos jogadores, a falta de um centro de treinamento, uma possível continuidade no clube, além do “caso Raniel”, mostrou-se franco nas respostas. Principal responsável pela ascensão do Santa Cruz na Série B, o técnico ainda falou acerca da surpresa pelo rápido crescimento do time - inspirado, segundo ele, no estilo de jogo do alemão Bayern de Munique. Confira abaixo a entrevista com o comandante coral.

Quando você foi contratado, ainda na 8ª rodada, imaginava um resposta tão grande do time na Série B?

Ninguém imaginava e eu também não. O crescimento nosso é que foi nos dando novas perspectivas. Hoje, pelo que a gente fez, pelo que o time evoluiu, arrisco dizer que se o começo tivesse sido um pouco melhor poderíamos estar brigando pelo título.

Yuri de Lira/DP/D.A Press
Então, você descarta a possibilidade do título?
Eu acho difícil. Principalmente porque o Botafogo vem em um momento bom, com uma regularidade. Para tirar agora essa diferença de pontos, depende muito de um momento ruim do adversário. Na verdade, acho difícil para todo mundo. Entendo que o Botafogo está já bem próximo do título.

O Santa Cruz tem jogado, por vezes, com cinco homens atacando, dentro ou fora de casa. Esse estilo ofensivo é inspirado em algum outro modelo?

Eu gosto muito do Bayern (de Munique) de hoje e também do Bayern de antes de (Pep) Guardiola. Acho que esse é um modelo legal. Gosto desse tipo de jogo. A gente teve uma exemplo deste estilo de jogo também no Brasil, com o Corinthians, no começo do ano. Era um time que jogava sempre para frente. Jogava um futebol bonito e usava muito as laterais. Para este momento nosso, serviu muito de referência para mim.

O Santa ainda deve salários para os jogadores. Até que ponto as dívidas da diretoria com o grupo podem atrapalhar a caminhada rumo ao acesso?

Essa é uma pergunta difícil de responder. Pelo que vivenciei até agora, os jogadores mostram estar focados no nosso objetivo. Pela proximidade do fim do campeonato, eu imagino também que seja difícil que algo interfira negativamente na campanha. Mas, por outro lado, sei que isso se torna um problema que não é fácil de administrar. A gente espera que exista uma boa vontade de todos os lados, que a diretoria também faça a parte dela e busque recursos para que essas questões sejam solucionadas e que a gente não tenha que se deparar com um problema tão difícil de ser administrado em um momento tão decisivo.

Quando o Santa lhe contratou, imaginou um trabalho também a longo prazo. Você já recebeu alguma sondagem para permanecer em 2016, independentemente do acesso?
A gente já conversou informalmente com Tininho (Constantino Júnior, vice-presidente do clube), com Jomar (Rocha, diretor de futebol) e com o presidente (Alirio Moraes). Eles sempre enfatizam essa questão da continuidade, de um trabalho a longo prazo. Mas, no Brasil, as coisas funcionam mais pelo momento. O bom momento dá uma segurança agora para se falar em continuidade. Mas, nunca, desde quando cheguei aqui, levei adiante esse tipo de conversa porque eu não quero desviar o foco dessa competição. Acho importante o clube pensar em futuro, mas a gente tem que estar focado. Qualquer discussão sobre permanência vai acontecer só depois da Série B. Aí, como é no futebol brasileiro, vai depender muito do resultado no campeonato.

Mas é sua vontade ficar no Santa Cruz?
Sou desses técnicos que gosta de planejar. Para mim, existe essa vontade da permanência, para haja um resultado a médio e longo prazo. Mas sei que vale muito o resultado desta competição que estamos. É esperar para ver o que vai rolar no final.

Na sua primeira passagem como técnico no Arruda, em 2013, se arrepende de ter trocado o Santa Cruz pelo Sport? Acha que poderia ter continuado com o projeto?

Não me arrependo. Muita gente fala que houve interrupção de um projeto, mas saí no fim de uma competição (Campeonato Pernambucano). Não abandonei o clube no meio do campeonato. Havia um tempo para se iniciar a Série C e achei melhor sair para disputar uma Série B pelo Sport. Ter trabalhado numa Série B naquele ano acabou me dando uma experiência importante para este momento de agora. Foi um degrau a mais que subi e me deu bagagem para ter mais tranquilidade para trabalhar aqui no Santa Cruz de novo.

Paulo Paiva/DP/D.A Press
Até que ponto faz falta o fato de o Santa não ter um centro de treinamento pronto?
Praticamente todos os times no Brasil tem o seu CT. Hoje, é fundamental ter um lugar para ter uma estrutura de trabalho, para não desgastar o campo e para ter mais privacidade e para que funcione o dia a dia de treinamentos. O Arruda foi construído para receber jogos, então, tudo que é feito aqui é meio que improvisado. Acho que é importante fazer um sacrifício para que se construa o CT. Se você também pensa em formar jogadores, é fundamental uma estrutura. O Santa Cruz já era para estar discutindo modernizar um centro de treinamento que já existisse, mas a gente ainda está pensando no começo.

Como Raniel tem reagido a mais uma punição pelo dopping, agora da Fifa, que pode durar até fevereiro de 2016?
Ele tem reagido bem neste primeiro momento. A partir do momento que chega uma notícia como essa, existe a expectativa é que algo possa ser feito para se reverter isso. Já se contava com a volta dele, aconteceu uma nova suspensão, mas, apesar de a questão jurídica não ser a minha especialidade, temos esperança para contar com Raniel. Acho que ele continua motivado. Mas sei que, se ele só for voltar mesmo em fevereiro, é difícil que ele mantenha o foco.

Parte da torcida tem feito cobranças a Grafite. São excessivas?
O tamanho da cobrança sobre ele é proporcional ao tamanho da expectativa que se criou com sua contratação. Entendo que ele está melhor hoje que quando começou. O nível de apresentação dele tem variado, mas temos que analisar a idade (36 anos), o campeonato que estava disputando e o tempo que ficou parado antes de voltar par cá.

Por tudo que envolveu a sua volta, podemos considerar Grafite “intocável” na equipe?
Ele não é intocável. A gente tinha uma equipe que jogava com qualidade antes dele. Não faço questão que Grafite faça gols. Faço questão que a gente ganhe os jogos, mas as atuações dele, como a de todos, são analisadas jogo a jogo.