Santa Cruz

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Em entrevista em 2011, Grafite já considerava possiblidade de se aposentar no Santa Cruz

postado em 28/06/2011 10:34 / atualizado em 30/06/2015 11:57

Celso Ishigami /Diario de Pernambuco

Helder Tavares/DP/D.A Press

Apesar de ter nascido em São Paulo, Grafite prefere dizer que é cidadão pernambucano. Caso raro, não passou por categoria de base de clube algum. Chegou ao Arruda em 2001, como uma aposta, e viveu um caso de amor e ódio com a torcida tricolor. Os gols perdidos irritavam os torcedores, que por outro lado, reconheciam o esforço mostrado dentro de campo. O desempenho com a camisa coral abriu-lhe as portas para a elite do futebol nacional. Grêmio, São Paulo, Seleção Brasileira.

Daquela época, Grafite levou muito mais do que o carinho pelo primeiro clube com o qual assinou contrato profissional. Ali, conheceu a atual esposa. Com residência fixa no Recife, o casal fez questão que as filhas nascessem em Pernambuco. A última parada antes de partir para a Copa do Mundo da África do Sul também foi no estado. Fechando mais um capítulo vitorioso na carreira, o atacante se despede do Wolfsburg para conquistar o mundo árabe. Ainda celebrando a conquista tricolor no último Estadual, Grafite cogita a possibilidade de encerrar a carreira de volta às origens, no ano do centenário coral.

O que o Santa Cruz representa pra você?
Eu não posso dizer que comecei a jogar futebol no Santa Cruz, mas foi o clube que me revelou. Quando cheguei aqui era um desconhecido e praticamente me profissionalizei aqui. Lembro que minha estreia foi contra o Internacional, e antes do jogo, eu estava muito nervoso. A gente estava concentrado em Maria Farinha e minha regularização saiu em cima da hora e o técnico Ferdinando Teixeira me escalou logo de frente. Quando o jogo começou, falei para os caras nem tocarem a bola pra mim (risos)! Apesar de termos perdido por 2 a 1, fui muito elogiado.

Mas você nunca chegou a ser uma unanimidade no Arruda, não é?
Foi um caso de amor e ódio (risos).  Naquela época, eu era um menino ainda. Nunca tive divisão de base e era muito inexperiente. Eu tinha muitas deficiências ali. Lembro que naquela fase eu perdia muito gol (pausa). Nossa! Eu perdia gol demais! Aí o torcedor pegava muito no meu pé. Diziam que eu não podia jogar que só fazia perder gol. Mas, por outro lado, eles sabiam que eu dava o sangue dentro de campo.

E dali, chegou até uma Copa do Mundo.
Pois é. Mesmo tendo jogado somente seis minutos contra Portugal, foi uma experiência maravilhosa. Eu nem esperava ser convocado. Foi a coroação da minha carreira. Hoje, posso dizer que estou realizado como jogador.

Qual foi o maior erro daquela Seleção?
Infelizmente, perdemos um jogo que podíamos ter definido no primeiro tempo. Pouca gente sabe, mas a decisão de blindar a Seleção partiu dos próprios jogadores. O grupo não queria que a badalação de 2006 se repetisse pra não tirar o foco. Dunga assumiu essa responsabilidade como se fosse uma criação dele. Então, tudo o que vinha de fora, batia nele. Foi bom para o grupo, mas criou um clima muito ruim para ele.

Depois de conduzir o Wolfsburg ao título alemão, você encerra sua passagem na Europa para acertar com o Al-Ahli. Qual foi a maior motivação para a mudança?

Sei que vou enfrentar uma mudança radical, a começar pelo clima. Além disso, tem as questões da estrutura, da competitividade. O futebol ainda está engatinhando no mundo árabe, saindo do ritmo do amador para o profissional. Mas tenho me preparado para isso. Foi uma decisão tomada em família. Minhas filhas estavam tendo dificuldades na escola por conta da língua e acho que vai ser bom pra gente.

Então, dá para o torcedor do Santa Cruz continuar sonhando com o seu retorno para o ano do centenário do clube?
Dá sim. Nunca escondi que penso em voltar ao Brasil para encerrar minha carreira por aqui. Hoje, posso dizer que trabalho com duas possibilidades. Meu pai, que faleceu em 2008, era santista, e tinha o sonho de me ver jogando no Santos. Por outro lado, tem o Santa Cruz, que é o clube que me lançou. Todo dia, escuto torcedores do Santa me pedindo para voltar e isso pesa, né? Minha sogra é tão fanática pelo Santa Cruz, que um dia eu brinquei dizendo que ia assinar com o Sport e ela disse que me deserdava (risos)! Mas tudo vai depender das minhas condições. Não sei como estarei na época. As chances de voltar para o Arruda são grandes.

Com tanta afinidade, você acompanha as notícias do time mesmo à distância?

Sempre. Vibrei com o título do Pernambucano. Parabenizei o elenco, a diretoria e o treinador via Twitter. Foi uma conquista muito importante, que chegou no momento mais delicado da história do clube.