Santa Cruz

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Rotina fantasma, ostracismo, negligência e superação: Kelvy volta a treinar no Santa Cruz

Meio-campista, desconhecido por grande parte da torcida, está recuperado de grave lesão no joelho e reforça o clube na Série C; ele não joga há dez meses

postado em 03/05/2018 09:17 / atualizado em 03/05/2018 09:19

Shilton Araujo/Esp.DP
Enfrentar uma cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho é uma das mais traumáticas situações que um atleta de futebol pode passar. Pior do que isso, é ver o longo tratamento desandar. Da otimista e quase sempre certeira estimativa inicial de seis meses de ausência nos gramados, o meio-campista Kelvy pode estender a recuperação ao tempo máximo dito aceitável: oito meses. Longe dos holofotes, o atleta viveu uma rotina de ostracismo, praticamente “fantasma” no Santa Cruz.

Desconhecido da maior parte da torcida, desde setembro Kelvy dividiu seus últimos meses entre fisioterapia, treinos físicos e a expectativa de voltar a ser relacionado para uma partida. Um futuro cada vez mais próximo, porém, por ora, ainda sem uma data exata para acontecer. “No início, você acaba sendo isolado, acaba tendo que fazer tudo sozinho, por única e exclusivamente força de vontade. É um processo dolorido, de isolamento, de muitas dores, incômodos e muitas incertezas”, admite, entendendo o período de interrogações até o retorno na semana passada aos treinos com o restante do grupo tricolor.

Com convocação para as categorias de base da seleção brasileira e clubes como Palmeiras e Grêmio no currículo, Kelvy foi o primeiro contratado para o Brasileiro do ano passado após bom Campeonato Paulista pela Ferroviária. Sem muitas oportunidades, sofreu a lesão no final de agosto. A cirurgia veio em meados de setembro. A última partida dele aconteceu no dia 7 de julho, pela 12ª rodada da Série B, na vitória por 3 a 0 sobre o Brasil de Pelotas. Foi um dos três jogos do meio-campista com a camisa coral, sempre entrando na reta final. Desde então, já são quase dez meses fora de atuação.

Shilton Araujo/Esp.DP
Aos 24 anos, Kelvy enfrenta a primeira grande lesão da carreira. Inexperiente e, segundo ele, sem o suporte necessário do clube, acabou não realizando tratamento com a intensidade necessária durante as férias. O corpo não perdoou. “Acabei não tendo um acompanhamento. Teve o processo de transição de presidência, o clube acabou fechando e teve incerteza de quem iria continuar no departamento médico. Acabei indo para casa fazer o tratamento e fazendo alguns trabalhos lá, mas nem perto do que é o necessário. Então, isso acabou atrasando em cerca de 20 a 30 dias a recuperação”, relatou. A informação de negligência coral na transição dos mandatos entre os presidentes Alírio Morais e Constantino Júnior foi confirmada através de apuração da reportagem do Superesportes.

A musculatura de Kelvy ainda não está no ideal. Por semanas dando volta em torno do gramado do Arruda, o atleta chamava a atenção por ainda estar nitidamente mancando na perna direita, a do joelho operado. “Ainda não tinha força de apoiar a perna para fazer o trote, o arranque. Realmente bate a dúvida: ‘será que vou poder voltar a jogar normalmente?’ Mas as coisas estão acontecendo e estou bem agora”, disse. De fato, hoje, Kelvy corre cada vez mais firme. “Lembro das muletas, da dependência. Não foi fácil. Todas essas lembranças me fortalecem”, garante.

Embora contando os dias para ficar à disposição do técnico Paulo César Gusmão, Kelvy ainda terá que esperar cerca de um mês até esse momento. De acordo com o médico Wilton Bezerra, o jogador precisa ainda de mais 15 dias de adaptação com o gramado até ser reavaliado e então liberado para trabalhar com bola. À essa altura, trata-se de um reforço para o elenco. Afinal, em meio ao tratamento, Kelvy teve o contrato renovado até o final da Série C.

Ainda segundo Wilton Bezerra, um dos grandes desafios de Kelvy é superar o medo. “Hoje ele está bem, fazendo todo o treinamento, mas atleta precisa ainda perder o medo. Os atletas que passam por esse tipo de cirurgia ficam com medo. Mas ele está indo bem e temos notado uma melhora grande nele”, ressaltou.  

“É difícil colocar prazos, mas a partir do momento em que eu voltar a treinar normalmente fica a critério do treinador. Sei que nesse momento nada substitui o ritmo de jogo, que é o mais importante para um atleta, mas o principal agora, no meu ponto de vista é reconquistar confiança, girar corpo totalmente em cima da perna, voltar jogar sem preocupação. Sou bastante otimista no que eu posso fazer. Lembro da minha primeira entrevista quando cheguei e disse que queria ajudar a colocar Santa Cruz onde ele realmente merece e meu pensamento não mudou”, concluiu Kelvy.