Santa Cruz

CRIME

Sete anos de impunidade

Veronaldo Silvino foi atingido por um tijolo jogado do anel superior do Arruda, situação idêntica à que vitimou Paulo Ricardo Gomes

postado em 06/05/2014 09:37 / atualizado em 06/05/2014 17:22

João de Andrade Neto /Superesportes

BRENO COSTA/DP/D.A PRESS
Dona Hozineide Xavier é uma mulher de fé. E foi graças a isso que ela esboçou um ar de alívio ao saber, em casa, durante a entrevista ao Superesportes, da prisão de Everton Felipe Santana, suspeito de ser um dos assassinos do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva. Era como se a captura acabasse com uma sensação de impunidade que já dura sete anos. O tempo em que o seu filho, Veronaldo Silvino da Silva, está preso em uma cama, sem comunicação ou movimentos, se alimentando por uma sonda, após ser atingido por um tijolo atirado de dentro da arquibancada do Arruda. Crime idêntico ao que matou Paulo Ricardo.

"Tenho certeza de que esse criminoso foi o mesmo que fez isso com o meu filho. Quem faz esse tipo de coisa não é um ser humano. É um monstro", disse Hozineide. Afirmação baseada apenas na fé. Em algo para se apegar. Na necessidade de preencher a dura realidade: no caso de Veronaldo, o processo foi arquivado sem nenhum culpado.

A prisão do suspeito de assassinar Paulo Ricardo, a sensação fugaz de justiça, também talvez amenize o caminho de casa de dona Hozineide, que mora a poucos metros de uma delegacia de polícia. Um local que deveria ser o símbolo do combate ao crime, mas simboliza para a dona de casa a impunidade."Não gosto de passar por lá", confessa a mãe, que há dois anos também perdeu um filho atropelado. Caso também sem culpados até hoje.

Mesmo assim, Hozineide continua em frente. Além de fé, tem força. A vida dela é a de Veronaldo, que toma 14 medicamentos por dia em seis horários diferentes. Das 6h às 3h. Todos dados pela mãe, que também alimenta, limpa e cuida de Veronaldo de todas as formas que um uma mãe pode cuidar de um filho. "Ele tem 28 anos, mas é como se fosse um bebê de dois meses. Ele estava pronto para casar. Tinha um futuro todo pela frente. Agora a vida dele sou eu", resume ela, que ficou chocada ao saber da tragédia que vitimou Paulo Roberto.

Ao ser questionada sobre quais palavras de conforto poderia dar a dona Joelma Valdevino, mãe de Paulo Ricardo, dona Hozineide recorreu mais uma vez à fé. "Que ela tenha calma, paciência e entregue nas mãos de Deus, que vai tomar conta desse criminoso. Ele merece ser punido pelas regras dos homens e de Deus."

Dificuldades

Dona Hozineide e Veronaldo moram em uma casa alugada de apenas dois cômodos. Um quarto, onde ela e o filho dormem, e um corredor, com banheiro e cozinha. Além de todas as dificuldades, a questão financeira é mais um obstáculo. A renda de ambos vem de dois salários mínimos. Um fruto da aposentadoria de Veronaldo. O outro, pago pela Federação Pernambuca de Futebol (FPF), que após cinco anos de batalha na Justiça, foi obrigado a indenizar a família todos os meses. Só de remédios para cuidar do filho, a conta é de R$ 200 por semana. "O que ajuda são as doações", enfatiza.