CRIME
Sete anos de impunidade
Veronaldo Silvino foi atingido por um tijolo jogado do anel superior do Arruda, situação idêntica à que vitimou Paulo Ricardo Gomes
postado em 06/05/2014 09:37 / atualizado em 06/05/2014 17:22

"Tenho certeza de que esse criminoso foi o mesmo que fez isso com o meu filho. Quem faz esse tipo de coisa não é um ser humano. É um monstro", disse Hozineide. Afirmação baseada apenas na fé. Em algo para se apegar. Na necessidade de preencher a dura realidade: no caso de Veronaldo, o processo foi arquivado sem nenhum culpado.
A prisão do suspeito de assassinar Paulo Ricardo, a sensação fugaz de justiça, também talvez amenize o caminho de casa de dona Hozineide, que mora a poucos metros de uma delegacia de polícia. Um local que deveria ser o símbolo do combate ao crime, mas simboliza para a dona de casa a impunidade."Não gosto de passar por lá", confessa a mãe, que há dois anos também perdeu um filho atropelado. Caso também sem culpados até hoje.
Mesmo assim, Hozineide continua em frente. Além de fé, tem força. A vida dela é a de Veronaldo, que toma 14 medicamentos por dia em seis horários diferentes. Das 6h às 3h. Todos dados pela mãe, que também alimenta, limpa e cuida de Veronaldo de todas as formas que um uma mãe pode cuidar de um filho. "Ele tem 28 anos, mas é como se fosse um bebê de dois meses. Ele estava pronto para casar. Tinha um futuro todo pela frente. Agora a vida dele sou eu", resume ela, que ficou chocada ao saber da tragédia que vitimou Paulo Roberto.
Ao ser questionada sobre quais palavras de conforto poderia dar a dona Joelma Valdevino, mãe de Paulo Ricardo, dona Hozineide recorreu mais uma vez à fé. "Que ela tenha calma, paciência e entregue nas mãos de Deus, que vai tomar conta desse criminoso. Ele merece ser punido pelas regras dos homens e de Deus."
Dificuldades
Dona Hozineide e Veronaldo moram em uma casa alugada de apenas dois cômodos. Um quarto, onde ela e o filho dormem, e um corredor, com banheiro e cozinha. Além de todas as dificuldades, a questão financeira é mais um obstáculo. A renda de ambos vem de dois salários mínimos. Um fruto da aposentadoria de Veronaldo. O outro, pago pela Federação Pernambuca de Futebol (FPF), que após cinco anos de batalha na Justiça, foi obrigado a indenizar a família todos os meses. Só de remédios para cuidar do filho, a conta é de R$ 200 por semana. "O que ajuda são as doações", enfatiza.