Santa Cruz

HISTÓRICO

Só punir não resolve

Há pouco mais de um ano, Lucas Lyra foi baleado. Quem atirou, foi preso. Mas a violência não deixou os estádios pernambucanos

postado em 06/05/2014 09:51 / atualizado em 06/05/2014 09:57

PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS
A morte de Paulo Ricardo Gomes da Silva, na última sexta-feira, mostra o quanto as autoridades ainda precisam avançar no combate à violência que toma como refém o futebol pernambucano. O crime bárbaro do qual foi vítima o soldador naval, no Arruda, é reflexo de uma cadeia de omissão por parte daqueles que têm como responsabilidade assegurar a paz e a segurança nos estádios de futebol. Não se pode dizer que haja impunidade. Não se trata disso. O caso de Lucas Lyra é o exemplo. O agressor do jovem alvirrubro responde a um processo na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital. Este crime não deve ficar impune. Entretanto, há algo que deve ser questionado: o que foi feito para se evitar novas vítimas? A forma brutal e estúpida que tirou a vida de Paulo Ricardo responde à questão. Lucas Lyra foi baleado em 16 de fevereiro de 2013, minutos antes de um jogo do Náutico pelo Campeonato Pernambucano. O jovem se encontrava em frente aos Aflitos quando foi alvejado na cabeça por José Carlos Feitosa Barreto. O autor do fato chegou a ficar preso por dez dias, em prisão temporária. Réu primário, com residência fixa comprovada e tendo se apresentado espontaneamente à delegacia, José Carlos responde ao processo por tentativa de homicídio qualificado em liberdade. A denúncia inicial foi apresentada pelo Ministério Público em 13 de março de 2013. Somente quase um ano depois do crime que vitimou Lucas Lyra, em 6 de fevereiro de 2014, ocorreu a primeira audiência. De instrução e julgamento - fase que antecede o júri propriamente dito. Neste primeiro procedimento, foram ouvidas as quatro testemunhas de acusação, além de mais duas pessoas na condição de informantes (por serem parentes da vítima). Uma nova audiência de instrução já tem data marcada. No dia 18 de novembro de 2014, o acusado e as testemunhas de defesa deverão ser ouvidas. Na opinião do promotor André Rabelo, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, a audiência de novembro deverá ser a última antes do júri. "Eu não tenho dúvida de que ele (o acusado) vai a júri", fez questão de frisar. O promotor considera que os testemunhos concedidos na audiência de fevereiro apresentam "provas muito consistentes" que atribuem a autoria do fato a José Carlos. "Provavelmente uma audiência só resolve." Ao fim desta segunda audiência de instrução, se não houver diligências, haverá a abertura de vista para as alegações finais. Com as alegações em mãos, o juiz vai pronunciar ou impronunciar. Em caso de pronunciamento, inicia-se o Tribunal do Júri. De acordo com André Rabelo, no começo de 2015 o juiz responsável pelo caso terá condições para definir pela ida ao Júri. José Carlos Barreto serve de exemplo para Everton Felipe Santiago, preso sob suspeita pelo homicídio de Paulo Ricardo. Com a ação célere da Polícia Civil, a Justiça tem condições de cumprir sua função. Contudo, os processos criminais aos autores do fato não podem dar por encerrado o combate à barbárie que tem dominado o futebol pernambucano. Punir é preciso. Mas de nada adianta se a punição não vier acompanhada por ações de prevenção à violência. É preciso, também, que todos assumam as suas responsabilidades.