Santa Cruz

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Eles saíram do Santa Cruz, mas o Santa nunca os deixou: Seis ex-corais comentam acesso

Superesportes conversou com personagens marcantes do Tricolor na última década

postado em 21/11/2015 18:50 / atualizado em 21/11/2015 22:28

João de Andrade Neto /Superesportes

Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press
Foram nove longos anos fora da elite do futebol brasileiro. Um total de 440 partidas, 39.600 minutos jogados (sem os descontos) e centenas de atletas utilizados nesse período. A maioria passou sem deixar lembranças. Outros viraram vilões. E alguns poucos se tornaram heróis. Porém, seja ídolo ou não, para muitos, o Santa Cruz sempre se manteve presente. Mesmo após a saída do clube. Mesmo longe, de alguma forma, próximo.

O Superesportes ouviu seis desses profissionais. Que passaram pelo tricolor em todas as quatro divisões disputadas. Que viveram rebaixamentos e acessos. Tristezas e alegrias. Vexames e redenções. Mas que, mesmo em momentos distintos, viram surgir um sentimento em comum. Compartilhado por milhões. O carinho e a torcida pelo preto, branco e vermelho pernambucano.

Valença e a lição
Jaqueline Maia/DP/D.A.Press
O ex-zagueiro Valença estava no elenco do Santa Cruz que disputou pela última vez a Série A, em 2006. Ficou marcado por ter anulado o argentino Tevez, em um jogo vencido pelos corais contra o Corinthians no Arruda. Alegria fugaz em um campeonato em que o tricolor ficou marcado pela até então pior campanha na era dos pontos corridos (apenas 28 pontos ganhos). “Passei nove anos no clube, desde as categorias de base até o profissional. Quando era criança, torcia pelo Sport por causa do meu pai. Mas depois de tanto tempo, impossível não virar tricolor. Acompanhei toda a Série B. O Santinha já subiu”, cravou o ex-defensor, que após encerrar a carreira no ano passado, optou por viver longe do futebol (tem um restaurante em Bom Conselho, sua cidade natal). Abre exceção apenas para assistir aos jogos do Santa. Dos tempos de atleta, uma lição para o futuro. “Na Série A não adianta trazer medalhões. É preciso ter atletas que queiram crescer, que venham com espírito competitivo.”

Marcelo Ramos e o coração tricolor
Juliana Leitão/DP/D.A.Press
Em 2007, o Santa Cruz terminou na 6ª colocação do Campeonato Pernambucano e foi rebaixado para a Série C. Mesmo assim, um jogador conseguiu virar ídolo da massa coral. Graças a muitos gols. Vinte cinco ao todo. Multi campeão por Cruzeiro e Bahia, Marcelo Ramos desembarcaria no Arruda sob desconfiança, aos 33 anos. Após calar os críticos retornaria dois anos depois já sem contestação. Novamente artilheiro. “Infelizmente não conquistei títulos. É algo que lamento na minha carreira. Mas foram passagens marcantes”, reconhece, o ex-jogador, que ganhou um novo clube para se identificar. “Todo sabem da minha ligação com o Bahia. Quando houve o jogo contra o Santa, fiquei dividido. Mas depois da vitória (coral) não tinha mais como ficar. Vi pela televisão a chegada do time no aeroporto depois. O nome disso é Santa Cruz. Quem jogou com essa torcida sabe”.

O Santa, a sorte e o Brasão
Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press
O atacante Brasão nunca se destacou pela técnica. Mas em uma época de carência de ídolos, o jeito folclórico e polêmico bastaram para ganhar o coração do torcedor do Santa. E mesmo eliminado na semifinal do Estadual e sem conseguir tirar o clube da Série D, a ligação entre o jogador e o tricolor pernambucano nunca se desfez. Hoje atuando no modesto Camboriú, que obteve o acesso para a 1ª divisão catarinense, o atacante não esquece a época em que era o “super herói” tricolor. “Sempre que posso, assisto os jogos do Santa. Foi o clube que mais marcou a minha carreira. Depois dele, deixei de ser apenas Brasão e passei a ser o Brasão do Santa. O Brasão super herói do Santa. A torcida até me pediu para gravar um vídeo de incentivo”, revela. Laço afetivo que vez ou outra se transforma em amuleto. “O clube continua me dando sorte. De vez em quando entro em sites de aposta e escolho o Santa. Mesmo depois que saí dai, ele continua me dando dinheiro”, brincou Brasão.

Zé Teodoro, o alicerce
Bernardo Dantas/DP/D.A.Press
O Santa Cruz foi fundado em 1914. E renasceu em 2011. Afundado no porão do futebol brasileiro, o clube, sem dinheiro, jogadores e perspectivas, teria que busca no estadual a classificação para a terceira temporada na Série D. Como coadjuvante. Coube ao técnico Zé Teodoro contrariar a lógica. Alheio a briga pelo hexa entre os rivais Sport e Náutico, o tricolor sagrou-se campeão pernambucano para em seguida dar o primeiro passo para o ressurgimento no cenário nacional. Tudo sob a batuta de Zé. “Acredito que tenho minha parcela nesse retorno do Santa Cruz à Série A. Tenho história. Não só eu, como a comissão técnica e o Sandro (Barbosa, ex-gerente de futebol). Viemos lá de trás. Roemos o osso”, destaca. Porém para o treinador, atualmente na Aparecidense-GO, o maior mérito veio das arquibancadas. “Quem realmente fez a diferença foi a torcida. Sem ela, o Santa Cruz não sairia do buraco”, acredita Teodoro, que não nega o desejo de um dia retornar ao Arruda. “Eu mereço treinar o Santa Cruz na Série A. Tenho estrela. Sou vencedor”

André Dias, o agradecido
Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press
Em 15 anos de carreira, o atacante André Dias passou por clubes como Cruzeiro, Vasco, Santos e Spartak de Moscou. Mas garante que nenhum outro lhe marcou tanto como o Santa Cruz. Uma história que tinha tudo para dar errado. Reserva na campanha do título estadual em 2013, corria o risco de ser dispensado antes da Série C. Porém ficou, e se tornou decisivo na campanha que garantiu o acesso.“Não sou de fazer marketing pessoal. Quem me conhece sabe disso. Mas profissionalmente e pessoalmente, nenhum outro clube me marcou tanto como o Santa Cruz. Por tudo o que passei, aprendi a gostar do clube. Me tornei mais um torcedor”, disse. Torcida que, por sinal, também foi um dos motivos desse carinho especial pelo tricolor. “Passei por outros clubes de massa, mas nunca vi nada igual. É uma torcida que valoriza os jogadores que passaram pelo clube. Sinto o carinho até hoje pelas redes sociais.”

Caça-Rato, o decisivo
Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Durante dois anos, um era quase sinônimo do outro. Entre 2012 e 2013, falou em Santa Cruz era o mesmo que se referir a Flávio Caça-Rato. E vice-versa. Ligação daquelas que o tempo não separa. Feita de pouca habilidade, muito carisma e um punhado de gols decisivos. Um deles, o que garantiu o retorno à Série B na vitória por 2 a 1 sobre o Betim, em um Arruda tomado por mais de 60 mil pessoas. Na temporada seguinte, o folclórico atacante deixaria o Arruda. Já tinha feito a sua história. Que continua como torcedor. “ Sempre terei um carinho grande pelo Santa Cruz. Acompanhei o time nessa Série B e torci muito, só não deu para ir ao Arruda. Foi o clube que me revelou para o Brasil”, reconhece o CR7. “Todos que passaram pelo clube, desde a Série D, deram sua contribuição para esse momento. Esse retorno para a Série A tem um pouco de todos. Cada um, de uma forma ou de outra, deu a sua colaboração”, finalizou Caça-Rato, apresentado na semana passada com status de ídolo no Guarani. Ainda colhendo os frutos do seu tempo no Santa Cruz.