Santa Cruz

SANTA CRUZ

CT, diretoria, Arruda, sócios e uniformizada: o que os candidatos no Santa Cruz têm a dizer

Albertino dos Anjos, Constantino Júnior e Fábio Melo comentam planos

postado em 04/12/2017 08:00 / atualizado em 04/12/2017 09:18

Nando Chiappetta/DP // Marlon Diego/Esp.DP // Arquivo Pessoal/Divulgação
Na próxima terça-feira o Santa Cruz viverá um novo capítulo eleitoral na sua história. Parte dos sócios elegerá o 47º presidente do clube coral. “Parte” porque apenas os sócios que pagam mensalidades mais caras é que podem ir às urnas. Uma limitação que soa como ironia para um clube que se autodenomina clube das multidões. Tanto que há, nos candidatos, a intenção de discutir a situação.

E essa não é a única promessa deles. Por ordem alfabética: Albertino dos Anjos, pelo grupo Muda Santa Cruz; Constantino Júnior, pela chapa Construindo com a Força da União; e Fábio Melo, representando a chapa Santa Cruz do Povo, apresentaram, no curto período eleitoral, as suas propostas para o próximo triênio. 

Falaram sobre as dívidas que vão herdar, o CT, a montagem do elenco com recursos limitadíssimos, a contratação do técnico…Promessas permeadas por palavras usuais em discursos eleitoreiros, como “transparência”, “profissionalização”... Que o torcedor coral espera, seja quem for o vencedor, sejam transportadas para a prática do clube.

Planos para o Triênio

Albertino dos Anjos - Profissionalizar o clube. Essa é a palavra de ordem. Precisamos
modernizar o clube de forma profissional. O que vemos no Santa Cruz hoje é um clube inchado e endividado. Temos as pessoas certas para os lugares certos. Não precisamos ter tanta gente em um lugar só. As pessoas competentes serão avaliadas e seguirão no clube, mas lá existe um balcão de negócios no clube e as pessoas que se beneficiam disso não ficarão.

Constantino Júnior - Primeiro temos que otimizar a receita. O que é nosso principal ativo? Os sócios e a nossa camisa. Em 2011, na Série D, tínhamos cerca de R$ 350 mil de patrocínio. E agora, em 2017, temos R$ 100 mil. Seis anos depois a economia decresceu. Vamos buscar parceiros comerciais e enxugar custos. Vamos ter um departamento financeiro muito ativo. Na dificuldade você tem que aumentar o que entra e fechar a torneira. O clube hoje precisa de um choque de gestão.  Na Série C é diferente. O calendário é mais curto, a visualização é menor. São diversas situações que temos que colocar na mesa. Mas com trabalho e olho no olho, indo em busca do mercado publicitário, podemos fazer diferente.

Fábio Melo - Passa por uma parte de reestruturar o clube. No futebol, o clube andou. Ganhamos títulos, acessos... Mas na parte administrativa atrasou dez anos. Se você não realinhar a parte administrativa, não adianta. Queremos ter um clube minimamente organizado. Com processos definidos e organizados. Queremos deixar o clube em 2020 pelo menos na Série B, mas organizado. O Santa Cruz hoje é uma bagunça. Essa é a realidade. No futebol, nosso orçamento vai ser pequeno e nosso elenco será enxuto. Nosso objetivo principal no primeiro trimestre é a Copa do Nordeste. A partir de junho será a Série C, porque nosso objetivo até o fim do ano é ter o CT com dois campos construídos e com o clube na Série B.

Programa de sócios

Albertino - Trabalharemos no resgate dessa marca. O programa se sócios não tem mágica nenhuma. O Santa Cruz tem mais de dois, três milhões de torcedores espalhado pelo Brasil e pelo mundo. Não entendo como não conseguimos fazer 60 mil sócios. O que o torcedor precisa é acreditar em um projeto. Dou um exemplo, que é um sonho e vai até virar chacota, mas é um exemplo. Se eu trouxer o PSG para um amistoso no Arruda e disser que só entra sócio em um estádio com capacidade para 65 mil, quantos sócios eu faria hoje? Seguramente, 65 mil. O sócio vai ter privilégio e precisamos transformar o torcedor em sócio. O sócio é quem vai bancar o clube. Isso não tendo evasão de renda, não tendo o cambista lá fora, até porque o sócio não pagará mais ingresso.

Constantino - Temos metas de sócios e teremos um novo programa de sócios. Vamos buscar a adimplência, porque historicamente no clube existe um aumento nos bons momentos, mas não existe fidelização. Vamos fazer um programa de sócios que exista uma continuidade.

Fábio - Eu gosto do programa de sócios, mas o clube tem que ter isso em mãos (ser o
administrador). Hoje, ele não tem. Você terceiriza as atividades fins, como portaria, segurança, limpeza, mas uma atividade essencial, não. O programa tem que ser do clube. Teremos as ferramentas online e saberemos de tudo, administrado pelo clube. Quem sabe como é feito o programa de sócios hoje sabe que é totalmente alheio ao clube.

O Estatudo do clube

Albertino - O estatuto será alterado totalmente. Ele é viciado. A gente não sabe o que é um estatuto sério do clube. O tempo de mandato pode ser até discutido, mas o que não pode ser criado é que quem esteja no comando, perpetue. Temos que preparar novas lideranças e estou me preparando para isso.

Constantino - Iremos modernizar nosso estatuto. Futebol mudou muito fora de campo e existe um nível de responsabilidade grande. Temos que respeitar a história do clube, mas nada é imutável e para no tempo. O Santa Cruz é um só. Às vezes fica essa birra, e isso não pode. Temos uma Comissão Patrimonial que já fez muito pelo clube, mas temos que aumentar o diálogo entre os poderes.

Fábio - Em 2017, apesar da crise financeira, o Santa Cruz fez três reformas. Fez um estúdio de TV, reformou um auditório e reformou a tribuna de honra. Não se gastou menos de R$ 500 mil. Com esse valor se paga três folhas do administrativo. Tudo isso porque foi decisão isolada da Patrimonial e do Conselho. Enquanto isso, Alírio com o pires na mão pedindo dinheiro. Isso tudo ocorre por conta do estatuto, que prevê isso. Cada um faz o que quer, já que são fontes de receitas diferentes. É um estatuto mal elaborado. Do quadro de sócios, apenas 20% pode votar. Nós vamos reformar esse estatuto. Vamos acabar com a Patrimonial e ela será uma diretoria do clube. O Conselho não, porque é uma parte do clube. O Santa Cruz hoje tem num corredor um funcionário que recebe e cinco que estão com salários atrasados por conta disso. Imagina o clima dentro do clube.  

Torcidas Organizadas

Albertino - Eu não consigo chamar de torcida organizada quem faz vandalismo. Se você
perguntar o que está acontecendo no campo, ele não sabe. Eu chamo isso de torcida
desorganizada, de bandido. A relação será zero. Torcida organizada só terá acesso ao estádio se pagar. Se não for sócio, terá o mesmo tratamento de não sócio. Paga o ingresso e entra. Se fizer baderna, vai para fora e está proibido de entregar. Soube que a Inferno Coral tem sete, oito mil sócios, e ainda recebe ingresso do clube. Com que interesse? Para ganhar esses ingressos tem que ser sócio da Inferno Coral. Deve ser para votar em algum político, porque no Santa Cruz não é.

Constantino - Tive um passado (na organizada), sim, e não me envergonho. Era outra época e outro momento. O futebol não pode perder a festa, mas temos que combater a violência. Não podemos deixar que vândalos estraguem a festa. Tem que haver monitoramento. Vamos supor que na catraca do portão 9, onde a Inferno Coral fica, só se entra com leitor biométrico e filmagem. A pena do estatuto do torcedor é pesada, mas tem que se fazer a lei. Dia de jogo a pessoa tem medo de andar na rua e isto está errado. Não vamos ter relação de ingresso. Pelo contrário. Eu tenho que enxergar as torcidas organizadas como parceiras do clube. Com engajamento social, que abracem o clube, que façam festa. Mas roubou, brigou, denegriu a imagem do clube, tem que estar fora. Não posso julgar antes de uma confusão. Acho que tem que ter um rigor maior da lei. O cara fica impune e quem faz o errado tem que ter medo de fazer.

Fábio - O clube não tem gerência sobre as organizadas. É um problema de violência nacional. Antônio Luiz Neto tem uma ligação muito forte com a Inferno Coral, a gente sabe. Alírio não sei, porque ficou nessa linha de passar a mão. Os prejuízos que o Santa Cruz teve com a Inferno Coral foram vários. Jogamos Copa do Nordeste fora do Arruda, teve o caso do vaso sanitário... Como vou ter ligação com uma organização que deu tanto prejuízo ao clube? Eu sou contra. O problema não é a torcida organizada, mas o que vem com ela.

Grafite

Albertino - Grafite é um cara do bem e que passa uma imagem que todo mundo quer ser
amigo dele. Ele não está preparado para ser ex-jogador. Ele ainda pode ajudar muito dentro de campo. Só não podemos explorar um cara desse. Ele ainda não sabe se quer ser empresário, gestor ou empresário. Ele tem que se encontrar e vamos ajudá-lo.

Constantino - Falei com Grafite e disse que estava na mão dele a decisão. Deixei ele à vontade. Ele será parte fundamental para no nosso projeto. Falei até que se ele quisesse ser treinador, ele poderia ser. Isso para mostrar a importância dele para a gente. Ele é importante para o vestiário. Não posso pagar o que ele merece, mas ele vai se adequar e entender o momento.

Fábio - Falamos com ele antes de terminar o campeonato. Ele segurou com Marcelo
(Martelotte) toda a pressão e estava cansado, mas disse que queria jogar mais um ano e
depois estudar mais um ano para voltar a trabalhar com futebol. Disse que queria ajudar o
Santa Cruz. Ele disse que estava no meio do furacão. Ele terminou o ano mostrando que o
corpo não acompanha mais tanto. Acho que como diretor ele poderia agregar mais.

Centro de Treinamento

Albertino - Teremos um CTF (Centro de Treinamento e Formação). Vamos fazer ele funcionar. Há sete anos que ele foi comprado e o Santa Cruz não tem o certificado de clube formador porque ele não está funcionando. A gente vê outros clubes de Pernambuco que têm centro de treinamento há muitos anos. Central e Porto já têm há anos. O Náutico tem, o Sport tem.

Constantino - Já estamos em um estado avançado e é louvável o que a Comissão Patrimonial está fazendo. Estamos discutindo alguns projetos de Lei do Incentivo ao Esporte para captar esses recursos. Sem dúvida alguma entregarei o CT no mínimo de condições no fim do triênio. Queremos formar atletas e qualificar. A gente trata isso como uma obstinação.

Fábio - O Santa Cruz tem que fazer o que o Náutico e o Sport fizeram. Tem que buscar
parceiros. O terreno foi adquirido em 2011 e nada foi construído. Isso mostra incompetência. Nós temos a MRV como patrocinadora e porque não fazer alguma troca? O Santa Cruz tem um terreno em Beberibe que poderia ser trocado. CT não é apenas o campo. Tem a estrutura de vestiário, alojamento e a manutenção, que não é barata. Temos que ter um parceiro para fazer isso.

Arruda

Albertino - Queremos fazer um shopping center com oito andares, estacionamento para três mil veículos, quatro salas de cinema... Muitas pessoas falam que isso é sonho, mas não é sonho. Tem investidor interessado. Teremos basicamente uma arena. Com esse anexo vira uma arena multiuso.

Constantino - Já temos uma situação modulada de reforma no Arruda. A situação é de
captação. Se tivéssemos R$ 2 milhões, o que faríamos? Isso, aquilo... Está projetado isso.

Fábio - O Santa Cruz não tem um bar, um restaurante. Várias empresas já procuraram o clube, mas se recebeu proposta, colocou debaixo do braço e não se estudou. Precisa melhorar muita coisa. Temos que dar um mínimo de condições na parte estrutural do clube.

Transparência

Albertino - Temos o desenho de um aplicativo que mostrará em tempo real ao torcedor
quantos sócios estão em dia, qual é a receita do clube, qual é o valor dos contratos... Ele vai saber de que forma foi utilizado esse dinheiro. Vamos chamar de portal da transparência. O aplicativo terá várias janelas e ele terá acesso a isso em tempo real. Se vender um jogador, todos saberão onde está o dinheiro.

Constantino - Vamos criar uma diretoria de transparência. Vai haver dentro do nosso site e do nosso aplicativo uma área de prestações e contas mensais. Isso vai mostrar ao torcedor para que ele compre essa briga. O financeiro terá todo o controle do que entra no clube. Faremos uma imersão em tudo o que entra no clube e todos esses ativos serão fiscalizados. São pessoas sérias e, se em algum setor tiver algo errado, não vamos compactuar com isso.

Fábio - Eu vivo nas arquibancadas e o que mais se escuta no Santa Cruz é que o torcedor
deixou de pagar por não saber para onde o dinheiro vai. O que eu digo é que não podemos
cobrar do torcedor se não dermos conhecimento. Se for transparente, der conhecimento à
torcida, algo como o Bahia faz, o torcedor vem. Se começarmos o ano bem, como 15 mil sócios até o fim de janeiro, já temos um fôlego.

Técnico

Albertino  - Temos três treinadores e um deles está bem adiantado (comenta-se que é Márcio Goiano) e já temos mais de 50 treinadores indicados. Uma vez, quando era diretor de futebol no Santa Cruz, me indicaram um jogador e falei o seguinte. “Vá lá, tente trazer esse jogador de graça, que a gente contrata.” Nunca mais essa pessoa me procurou.

Constantino - O perfil do treinador é de fazer uma equipe competitiva em baixo custo. Zé
Teodoro (que foi ventilado pela situação neste momento) é um cara importantíssimo para o clube, mas é outra linha. Tenho dois nomes, mas prometo não falar porque não farei
plataforma em cima de nomes, e sim de propostas orçamentárias. Posso dizer que é um cara que tem experiência de acesso. 

Fábio - Falamos com Junior Rocha, que estava no Luverdense, e ele se mostrou muito
interessado. Disse que gostaria de trabalhar em um clube grande como o Santa Cruz. A ideia é ter um treinador nesse perfil. Que venha para treinar um time de massa e que nunca tenha trabalhado nessa situação.

Diretor de futebol

Albertino - Jeovânio ficou até assustado, mas ele não será o executivo de futebol. Não será um diretor remunerado. Ele será o coordenador técnico e de transição. Tem muita gente perdida ali no clube e temos que mudar esse cenário. Ele está estudando gestão e é um cara que tem o espírito guerreiro que precisamos. Ele estará como coordenador técnico e de transição porque estará ligado à base. Ele ajudou os atletas quando estava aqui. Ele mudou a cabeça dos meninos daquele time de 2011. É esse perfil que precisamos aqui. Na diretoria de futebol um dos nomes será Marcelo Ribeiro e ele estará comigo, que estarei muito ligado ao futebol.

Constantino - Já temos o perfil de como vai funcionar o departamento e teremos um diretor remunerado. Tira demais da pessoa. A direção aqui sempre foi muito presente e esse ano nosso foco era mediar conflito. Isso nos fez crescer como diretor, mas vamos trazer um diretor remunerado. Conversei com três, quatro, e é uma carta que está na manga. Mas tudo que nosso departamento financeiro permita.

Fábio - Conversamos com Nei Pandolfo e ele mostrou interesse em trabalhar conosco. A
preocupação é se teríamos dinheiro para pagar. Ele queria saber a situação do clube e se
mostrou bem interessado.

Previsão de folha

Albertino - Não iremos passar de R$ 250 mil. Isso com treinador e auxiliar técnico. Isso é o que podemos pagar na atual situação do clube, não podemos mentir para a torcida. Foi isso que eles (atual gestão) fizeram. É isso que eles vêm fazendo. É muito fácil fazer essa farra do boi. Vamos trabalhar com um teto de R$ 6 a R$ 16 mil. Não é uma falácia. É fácil de fazer.

Constantino - Vamos fazer uma folha que podemos pagar. Hoje, não tenho essa receita.
Primeiro preciso ganhar a eleição. Hoje, seria de R$ 230 mil, mas podemos fazer até com
menos. Posso bater na porta de um grande clube do país e ser recebido de maneira imediata para ter jogadores a baixo custo.

Fábio - Nossa ideia é ter uma folha de R$ 250 mil, no máximo R$ 300 mil. Se destinamos R$ 150 mil para a Justiça do Trabalho, teremos R$ 150 mil para a parte administrativa e também temos que enxugar a máquina.