Santa Cruz

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Homem forte do futebol do Santa Cruz abre o jogo sobre gestão e projeta nova temporada

Constantino Júnior fala de greve dos jogadores, contratações e erros no ano

postado em 09/12/2014 09:26 / atualizado em 09/12/2014 16:06

Rafael Brasileiro /Diario de Pernambuco

Edvaldo Rodrigues/DP/D.A/Press
Para conseguir uma entrevista de mais de 30 minutos com Constantino Junior é necessário muita paciência. Não porque ele fuja dos jornalistas. O dirigente é sempre solícito com a imprensa. O que atrapalha é encontrar tempo para atender a todos. Enquanto concedia esta entrevista para o Superesportes, Tininho, como é conhecido no Arruda e no Twitter, recusou cerca de 40 ligações.

A procura e o trabalho são reflexos de quatro anos no comando do futebol do Santa Cruz durante a gestão de Antônio Luiz Neto e por acumular algumas funções que já deviam ser delegadas a outros funcionários. Mas ele parece não se importar com tanta responsabilidade. Durante o percurso entre o Arruda e a Federação Pernambucana, o futuro vice-presidente do Santa Cruz falou sobre sua trajetória no clube e no que pretende fazer nos próximos três anos. Rotulado como dirigente “estagiário”, Constantino deixou a desconfiança para trás e espera conquistar muito mais do que foi alcançado nos últimos anos.
 

O que faltou em 2014?
Faltou um pouco de tudo, mas não foi um ano tão ruim como se falam. Foi um ano de afirmação na Série B, que não jogávamos há sete anos. Queríamos arrumar a casa e não podíamos nos endividar tanto, mesmo sendo um ano de Centenário. A Série A se escancarou para a gente e não conseguimos. Na Copa do Nordeste, também ficou um gosto amargo. Algumas situação marcaram muito o ano. Lógico que fica um gosto de frustração, mas é trabalhar para 2015 ser melhor.

Quanto o clube realmente deve aos jogadores?
São dois meses de salários. Só isso. Pois as premiações estão em dia. Estamos conversando com todos os jogadores para fazermos os acordos de pagamento e resolver a situação de todos. A maioria está saindo com 80% dos valores já pagos.

Tem como dizer um percentual do elenco de 2014 que continuará no clube?
Vamos fazer uma reunião e colocar os nomes na mesa. Lógico que já temos uma ideia de quem pode ficar e ajudar. A gente já tem uma ideia formada de como compor o grupo. Alguns serão difíceis de segurar, outros renderam abaixo do esperado. Vamos sentar e pontuar para montar um grupo forte. Vamos analisar até para reforçar o time onde pecamos neste ano, lembrando que tem que caber no nosso orçamento.

Apesar das dificuldades financeiras em anos anteriores, o Santa Cruz nunca teve caso de greve. O que mudou para isso acontecer esse ano?
Talvez tenha faltado maturidade aos atletas. Não falo isso com falta de respeito, pois me dou bem com todos. Talvez tenha faltado habilidade a quem comandava a equipe para contornar a situação. Foi uma situação intempestiva. Não fomos nem consultados sobre a situação. Faltou uma liderança no elenco e no comando técnico. Aconteceu e faz parte do passado. Depois do ocorrido os jogadores deram uma resposta, conseguiu uma sequência boa e a direção também fez sua parte. Ficou como aprendizado.

Oliveira Canindé era um desejo antigo e finalmente vocês realizaram em 2014, mas não deu certo. Existe algum arrependimento de ter contratado ele?
Não me arrependo de modo algum. Ele mostrou que tem capacidade, mas acho que quando importava ele não fez o simples e perdeu um pouco o norte. Tem hora que lateral tem que ser lateral, atacante ser atacante. Acho que no geral ele fez um bom trabalho. Ele ganhou jogos difíceis e tropeçou nos mais fáceis.

Falhar no acesso pode prejudicar o 2015 do Santa Cruz na questão dos patrocinadores?
É lógico que se tivéssemos uma Série A teríamos um algo mais. O Santa Cruz continua sendo o Santa Cruz e iremos trabalhar melhor nossa marca. Vamos trabalhar para tirar proveito da nossa marca. Essa gestão vai bater muito em cima disso.

Ano que vem a Série B deve ser a mais disputada dos últimos anos com clubes como Botafogo, Criciúma e talvez Bahia ou Palmeiras. Subir será uma missão bem mais complicada, não?
Teoricamente sim, mas vamos saber isso dentro de campo, pois quando se monta um elenco bem montado ele não teme ninguém dentro de campo. Lógico que quem tem um pouco mais na Série B se sobressai. Mas isso não assusta. Cria até um nível de competitividade maior. Não adianta ficar se lamentando por ter perdido o acesso em um ano fácil como esse. Agora, temos que nos preparar melhor.

Faltou a famosa “bala na agulha”?
Não só isso. Foi um conjunto de fatores. Imagina se tivéssemos essa condição? Já teríamos conseguido o acesso há muito tempo. Se tivesse bala na agulha nós teríamos contornado algumas situações que aconteceram. É tomar como lição as situações que não acertamos. Vamos trabalhar muito para conseguir esse acesso em 2015, até porque queremos ter uma casa mais arrumada. Queremos uma condição melhor para vários departamentos e para garantir uma estabilidade. Não queremos chegar na Série A para bater e voltar. Já teve clube daqui que teve o maior orçamento da sua história e não foi bem. Vamos deixar as coisas bem claras para termos segurança e estabilidade, mesmo com essa discrepância no futebol brasileiro.

Guilherme Verissimo/Esp DP/DA Press
 

Dentro de campo, faltou mesmo um “macaco velho”, como Oliveira Canindé falou?
Se tivesse lógico que ajudaria. No futebol hoje é bem mais difícil achar liderança. É uma coisa nata e muitos jogadores que poderiam ser líderes às vezes acabam se omitindo. Não é o caso no Santa, mas no futebol brasileiro. Pode ser que o time sentiu falta disso, mas se tivéssemos muitos veteranos poderíamos sentir falta da juventude. Não acredito que a falta desse jogador tenha sido fundamental.

O que muda com a saída de Antônio Luiz Neto e a chegada de Alírio Moraes?
Não muda muita coisa. Antônio conseguiu reunir as grande lideranças no clube e fizeram eles se reunir em torno de um Santa Cruz forte. Ele foi vitorioso dentro e fora de campo. A gente sabe que ele vai continuar no Conselho de Administração e estará no dia a dia do clube. Será importante pelo o que ele representa. Alírio também é um cara espetacular e que não tem medido esforços para colocar o Santa Cruz no lugar dele. Ele tem buscado patrocínios federais, tem ajudado na questão das certidões e estou muito feliz na permanência de Antônio e com a chegada de Alírio. Isso deixa a gente estimulado a trabalhar sempre mais. É sempre bom ter pessoas que trazem o Santa Cruz na memória desde a infância. Ter essas pessoas determinadas pelo bem do clube é garantia que o time sempre evoluirá.

E sua mudança? De diretor de futebol para vice-presidente executivo?
Eu continuo me dedicando como sempre. Independente de estar no departamento de futebol ou não. Eu me preocupo com cada detalhe, gosto de escutar o o torcedor para fazer sempre o melhor. Vamos formar um novo quadro de dirigentes de pessoas fortes para ajudar no clube.

Você não acha que acumula muitas funções e se dedica demais ao clube?
É um princípio meu nunca fugir da minha responsabilidade. Eu sempre quero aprender com quem sabe mais de futebol e sempre busco aprender com os mais velhos. Perdi meu pai muito cedo e precisei me virar. Nesse momento, a família é meu maior aliado. Minha família sempre entendeu e me passa essa segurança para perder datas importantes e estar trabalhando pelo Santa Cruz. Não tem hora para acontecer um problema e sempre temos que estar trabalhando para que aquilo não se transforme em algo maior. Eu quero deixar meu legado. Um dia passará o meu momento, mas, enquanto eu estiver, eu quero fazer o meu melhor e às vezes precisarei abrir mão de alguns momentos. Estou há cinco anos sem poder viajar com a família, mas faço isso pelo clube. Às vezes, temos que ajudar o clube com algumas situações.

Então você já colocou dinheiro seu no clube?
Sim. Alguma coisa, mas de forma de ajuda. Tem situações que não tem como esperar. Às vezes em que fazer uma inscrição, pagar uma passagem e eu pago. Mas não faço isso sozinho. O Santa Cruz é feito assim por pessoas que entendem o clube.

Em 2014 o torcedor questionou muito o contrato com o patrocinador de material esportivo, o marketing e a comunicação. Teremos mudanças em 2015?
Vamos continuar com a Penalty, pois temos um contrato em vigor até o fim de 2016. Ela está em grande clubes do País e sabemos que ela pode fazer um pouco mais pelo Santa Cruz. Vamos sentar e e ver o que pode ser feito. Com as modificações que acontecerão no clube tentaremos encaixar o clube em uma nova era, em um novo momento. Tentaremos melhorar no marketing e na nossa comunicação, principalmente mudando as instalações. Neste ano teremos melhorias estruturais e em departamentos.

Você era cotado pelo próprio Antônio Luiz Neto para ser o sucessor dele. O que houve para você não ter se tornado o presidente agora?
Eu não fiquei chateado. Talvez, Antônio Luiz Neto tenha o objetivo de renovar o quadro de gestores já que Alírio trabalhava muito mais nos bastidores. Ele é um pessoa muito competente. Na verdade, será uma gestão compartilhada. Eu tenho esse objetivo de ser presidente, mas não coloco prazo. Tudo vai acontecer no momento certo. vou me dedicar ao máximo nesses três para fazer merecer ser presidente do Santa Cruz algum dia.